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Ano XXII - nº. 309. RJ, 8 de março de 2024.
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Hoje se comemora o Dia Internacional das Mulheres. A data é celebrada com diversos eventos, iniciativas, prêmios, editais, entre outras iniciativas, em várias partes do mundo. E o campo da divulgação científica, claro, não fica de fora disso. Mas talvez venha da França o acontecimento recente mais relevante nesse âmbito. O país acaba de incluir na sua Constituição a liberdade da mulher de abortar. Desde 1975, o aborto é descriminalizado na França, onde a legislação permite que as mulheres se submetam ao procedimento até a 14ª semana de gestação. Com a proteção constitucional, diminui muito o risco de ela ser derrubada pela Justiça – como aconteceu nos EUA. Na América Latina, onde a maioria das legislações sobre o aborto ainda é rígida e conservadora, estamos a anos-luz de garantir o direito ao procedimento via Constituição – embora comemoramos avanços recentes na Argentina e no México. Mas que o exemplo da França inspire e faça avançar ainda mais o debate na região e em outras partes do mundo em que o aborto ainda é proibido e criminalizado. Outro tema quente da semana foi a decisão de cientistas da terra de não cravar o Antropoceno como a nossa atual era geológica, o que causou mal-estar em parte da comunidade científica que tem o Antropoceno como foco de pesquisa. A decisão foi tomada por um painel de especialistas que há quase 15 anos debate se é possível definir o momento exato em que se iniciaram as mudanças no planeta causadas pela humanidade. Apesar da resposta negativa, vale ressaltar que ela pode não ser definitiva (tem gente trucando) e está longe de negar que essas mudanças estejam em curso e que devamos nos mobilizar para elas não acabarem com os humanos e não humanos. Parece que a dificuldade está “apenas” em precisar um marco inicial, um dos critérios obrigatórios para se cravar a existência de uma era geológica. Portanto, para fins geológicos oficiais, ainda estamos no... Holoceno! Nesta edição do Ciência & Sociedade, destacamos o evento promovido por nós da equipe do Núcleo de Estudos da Divulgação Científica do Museu da Vida Fiocruz (MVF) com o tema “Desafios da desinformação e possibilidades para a divulgação científica”. O encontro, aberto ao público e sem necessidade de inscrição prévia, acontece de 11 a 13 de março, no auditório do MVF, marcando também o início do ano acadêmico dos cursos de especialização e mestrado em divulgação científica da Casa de Oswaldo Cruz (COC) e instituições parcerias – mais detalhes na seção “Especial Desinformação”. Este número do boletim traz ainda notas relacionadas a pesquisa ampla e atual sobre confiança na ciência e nos cientistas, biólogo capixaba que venceu concurso de dança sobre pesquisa acerca do comportamento social de cangurus, evento sobre vacina na esfera pública, curso online sobre emoções como estratégia de engajamento, entre outras dicas de leituras, ações, eventos e oportunidades. Boa leitura!

 

Especial Desinformação

Desinformação e desafios para a divulgação científica – Você que recebe o nosso boletim mensalmente já deve ter notado que a primeira nota é sempre sobre desinformação. Criamos esta seção especial em função da importância do tema e também porque temos um projeto de pesquisa em curso que busca uma maior compreensão da desinformação em saúde e ciência, apoiado pela Casa de Oswaldo Cruz (COC) e pelo CNPq. No âmbito desse projeto, organizamos o evento “Desafios da desinformação e possibilidades para a divulgação científica”, que irá acontecer de 11 a 13 de março, no auditório do Museu da Vida Fiocruz, marcando também o início do ano acadêmico dos cursos de especialização e mestrado em divulgação da ciência da COC e instituições parcerias. Nosso objetivo é abordar distintos aspectos relacionados ao tema, com pesquisadores de diferentes áreas. O evento começa na tarde do dia 11, com palestra de Luis Felipe Miguel, da UnB, sobre “Política e ciência política nas redes: desinformação e divulgação científica”. Na manhã do dia seguinte, o pesquisador Marcelo Alves, da PUC-Rio, abordará a governança, economia política e aspectos sociomateriais da desinformação. Já a pesquisadora da Fiocruz Luisa Massarani, coordenadora do INCT de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia, trará um panorama da pesquisa em desinformação no Brasil e na América Latina. O último dia de evento contará com a palestra do pesquisador Igor Sacramento, do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da (Icict) da Fiocruz, com o tema “A evidência como experiência: a cisma e a desinformação sobre vacinas como uma concorrência discursiva”. Fechando o evento teremos o pesquisador Antonio Gomes da Costa, diretor de Ciência na Sociedade do Instituto Gulbenkian de Ciência, de Portugal, que falará sobre o abuso do modelo de déficit, a pouca ênfase dada ao processo de validação em ciência e o negligenciamento do público adulto. Estas cinco palestras são abertas ao público e não precisam de inscrição previa. Só vem! Mais informações.

 

Leituras

Confiança (ainda) em alta – É comum ouvir por aí que a ciência passa por uma crise de confiança, mesmo que não haja evidências comprovando a suposta crise. Pois bem, não foi dessa vez que elas apareceram. Estudo envolvendo 71.417 pessoas, de 67 países, realizado entre novembro de 2022 e agosto de 2023, sugere que para a grande maioria do universo pesquisado, os cientistas e os métodos científicos são confiáveis. A amostragem, por cotas, levou em consideração as distribuições nacionais de idade, gênero e nível de escolaridade. Já a avaliação da confiança se baseou num índice composto por 12 itens, em escala de cinco (likert), medindo competência, benevolência, integridade e abertura. Globalmente, os dados indicam que a percepção da competência, benevolência e integridade dos cientistas é alta, mas a visão sobre sua abertura para a opinião pública é menos positiva. Vale destacar que, no Brasil, o índice de confiança (3,78) ficou acima da média global (3,62). Isso corrobora dados da série histórica das enquetes nacionais de percepção pública da ciência conduzidas periodicamente no país desde 2006 e que mostram um alto índice de confiança e otimismo do brasileiro em relação à ciência e ao cientista. Mas cabe ressaltar que a comparação entre os dados desse tipo de pesquisa é complexa, pois os métodos são significativamente diferentes. Vale dizer também que os resultados do estudo foram publicados em forma de preprint, ou seja, ainda estão sendo avaliados por pares. De todo modo, os autores recomendam aos pesquisadores e divulgadores que evitem a comunicação de cima para baixo e invistam num diálogo genuíno com o público, no qual considerem as percepções e necessidades de outros segmentos da sociedade. Acesse o artigo completo, em estágio de preprint.

Sentidos em torno da pandemia de Covid-19 – Ao longo da crise sanitária instaurada pela Covid-19, diferentes emoções e interpretações circularam na sociedade e o próprio sentido de pandemia foi colocado em disputa nos meios de comunicação e nas arenas públicas. No livro Entre medo e solidariedade: mídia, política e alteridade na Covid-19, a experiência da crise é analisada por diferentes olhares, explorando, em dez artigos, as interfaces entre comunicação e saúde. Em “Pandemia da Covid-19, saúde e política: a construção discursiva da morte evitável via grupos de risco e cloroquina”, Camila Calado analisa o jornal digital Conexão Política, com visão editorial alinhada ao então presidente Jair Bolsonaro. A autora mostra que a publicação enquadrou a morte pela Covid-19 como algo evitável a partir da promoção de medicamentos e da construção de grupos de risco para a infecção. Nesse contexto, a proposição de solução era individual via tratamento medicamentoso e responsabilização do indivíduo. Minimizou-se, assim, o medo da morte e mobilizou-se o medo dos impactos econômicos. Outros veículos de comunicação, como a revista Veja, os jornais O Globo e Estadão e o portal G1, também são analisados em outros artigos do livro, além de ações específicas como o fechamento de igrejas. Organizado por Kátia Lerner (Fiocruz), Cristina Teixeira (UFPE) e Paulo Vaz (UFRJ), a obra está disponível gratuitamente aqui.

 

Ações

Ciência monitorada – A comunidade científica brasileira acaba de ganhar um novo instrumento para acompanhar mais de perto as políticas relacionadas ao setor. Estamos falando do projeto Ciência Monitorada, que oferece a pesquisadores vinculados a universidades ou instituições de ensino/pesquisa, no Brasil ou exterior, acesso gratuito, por 12 meses, à Legislatech. A ferramenta permite o acompanhamento customizado de documentos públicos, tramitações em casas legislativas e notícias relacionados à área de ciência e tecnologia. Os pesquisadores cadastrados poderão escolher 20 termos diferentes para monitorar e selecionar em quais órgãos querem ficar de olho. Os alertas de menção aos termos escolhidos serão enviados por e-mail. A iniciativa é do Núcleo, com apoio do Instituto Serrapilheira e parceria institucional com a Agência Bori. Para mais informações e cadastramento (precisa ser feito com e-mail institucional), acesse.

Muita pesquisa e ainda mais criatividade – O biólogo capixaba Weliton Menário Costa acaba de ganhar o prêmio “Dance your PhD”, com um vídeo de quatro minutos em que apresenta, com a ajuda de drag queens, bailarinas, colegas da Australian National University – onde cursou doutorado em ecologia – e uma dançarina clássica indiana, o comportamento social de cangurus. Um dos temas centrais, da sua pesquisa e do vídeo, é a diversidade, pauta que o biólogo busca promover na academia, que considera ainda elitista e pouco inclusiva. “Dance your PhD” é uma competição organizada pela Associação Americana para o Avanço da Ciência e pela revista Science, cujo objetivo é incentivar cientistas a explicarem suas pesquisas de doutorado por meio da dança. O vídeo está disponível no Youtube e rendeu matérias no The Guardian e O Globo.

 

Eventos

Vacinas na esfera pública – Em evento no dia 25/3, às 9h, o Instituto Nacional de Comunicação Pública da C&T divulgará os resultados de pesquisas que abordam a centralidade da comunicação no debate público sobre vacinas. Haverá mesa-redonda com pesquisadores, além de debatedores externos. Aberto ao público, o evento acontece no Centro de Documentação em História da Saúde, campus de Manguinhos da Fiocruz, e terá transmissão pelo canal da COC/Fiocruz no YouTube. Saiba mais.  

Chamada para oficinas no III EBDC – A terceira edição do Encontro Brasileiro de Divulgadores de Ciência (EBDC) já tem data, local e tema definidos. O evento acontecerá de 15 a 17/11, no Instituto Principia, na capital paulista, e discutirá “Educação, Ciência e Arte”. Estão abertas até 6/4 as inscrições para submissão de oficinas a serem ministradas no encontro. O objetivo é que elas ofereçam aos participantes a oportunidade de trabalharem e aprenderem de forma prática. Mais informações e regras.

Educação STEAM – O LSI-TEC (https://www.lsitec.org.br/) realiza de 22 a 27/9, na USP, o Encontro Nacional de Educação STEAM. A iniciativa busca ampliar a rede de gestores de Secretarias Estaduais de Educação e professores que atuam de forma integrada em Ciências, Tecnologia, Engenharias, Artes e Matemática (STEAM). Inscrições e solicitações de apoio serão recebidas até 22/4. Confira o regulamento.

 

Oportunidades

Meninas e Mulheres nas Ciências – Estão abertas até 5/4 as inscrições para o edital “Programa Meninas e Mulheres nas Ciências Exatas e da Terra, Engenharias e Computação – 2024” da Faperj, que visa despertar o interesse vocacional de meninas e mulheres da Educação Básica e do Ensino Superior para a pesquisa científica e tecnológica nas áreas do edital. Os projetos deverão ser desenvolvidos em escolas públicas e institutos de ensino superior do Estado do Rio de Janeiro. Leia o edital

Emoções no engajamento público – O curso Collaborative Futures Academy (CFA), que enfocará o tema Emotions in Engagement, recebe inscrições até 25/3. Pesquisadores e divulgadores terão a oportunidade de refletir sobre empatia, emoções como estratégia de conexão, gerenciamento ético das emoções, entre outras questões. O curso acontece de 21 a 23/5 em formato online, das 10h30 às 16h30 (CEST/SAST). Guia do participante e inscrições.



Tem uma sugestão de notinha para a próxima edição do boletim Ciência & Sociedade? Oba! Envie para o e-mail <Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.>. 

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Ciência & Sociedade é o informativo eletrônico do Núcleo de Estudos da Divulgação Científica do Museu da Vida (Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz). Editores de Ciência & Sociedade: Carla Almeida e Marina Ramalho. Redatores: Luís Amorim e Rosicler Neves. Projeto gráfico: Barbara Mello. Informações, sugestões, comentários, críticas etc. são bem-vindos pelo endereço eletrônico Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.. Para se inscrever ou cancelar sua assinatura do Ciência & Sociedade, envie um e-mail para Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..        

     

* A seção Especial Desinformação é uma iniciativa do projeto “O desafio da desinformação em saúde: compreendendo a recepção para uma melhor divulgação científica”, contemplado pelo Programa Proep 2022, da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) e do CNPq.

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