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A Lanceta – ou agulha bifurcada - foi essencial no controle da varíola na segunda metade do século XX. Foto: Flávia Braga /MV/COC

Você sabe como as pessoas se vacinavam contra a varíola na década de 1970? A técnica utilizada era um pouquinho diferente da famosa agulha que conhecemos hoje. Vamos por partes: primeiro, o paciente era avaliado para conhecer quaisquer contraindicações à imunização, como doenças pré-existentes, infecções em curso etc. Se estivesse tudo bem com a pessoa, ela podia tomar a vacina! Igual hoje em dia: para tomar a vacina contra a Covid-19, você não pode ter apresentado os sintomas da doença nos últimos 30 dias.

Beleza, e depois? O local de vacinação no corpo era escolhido; geralmente, a parte superior do braço. Nenhuma preparação da pele era necessária. Para vacinar alguém, a lanceta esterilizada era mergulhada no frasco de vacina, retirando-se a dose que ficava depositada entre suas duas pontas, como podemos ver na foto 2. A agulha era mantida de forma perpendicular ao local da pele. Com o pulso estável, apoiando-o no braço do paciente, o vacinador picava a pele da pessoa rapidamente com a agulha 15 vezes ou mais, como ilustra a figura 3. Eita, devia doer um bocado, mas essa técnica salvou vidas! 

Foto 2 – A fotografia mostra uma agulha bifurcada ampliada. A solução da vacina antivariólica pode ser vista presa à ponta da agulha, pronta para ser administrada. Foto: James Gathany /CDC/2002

Essas picadas da agulha ocorriam em uma área circular de, aproximadamente, cinco milímetros de diâmetro. Um pequeno vestígio de sangue surgia no local da vacinação em poucos segundos. Em seguida, o local da vacinação era coberto com gaze, fixada frouxamente com esparadrapo ou outra fita adesiva de primeiros socorros. A agulha usada poderia ser prontamente descartada ou reutilizada depois de ser esterilizada.

Figura 3 – Ilustração com as instruções para a vacinação antivariólica com agulha bifurcada. Foto: Organização Mundial da Saúde (OMS), 1968. Disponível em: https://apps.who.int/iris/handle/10665/67962

Por sua simplicidade e extrema eficácia, a agulha bifurcada acabou por suplantar outras técnicas de vacinação utilizadas até então por diferentes países. Devido às qualidades técnicas, baixo custo de produção e de manutenção, essa agulha era frequentemente comparada à pistola de vacinação. No entanto, a pistola não era totalmente confiável e tinha um histórico de problemas de funcionamento e manutenção, que atrasavam as ações de vacinação e a meta de erradicação da doença.

O sucesso das campanhas de vacinação, impulsionado em parte pelo novo instrumento e culminando com a declaração de erradicação da varíola em 1980, acabou por motivar a criação da Ordem da Agulha Bifurcada, uma condecoração honorária, informal e bem-humorada, proposta por D. H. Henderson, diretor do Programa de Erradicação da Varíola. A condecoração, que seria uma agulha bifurcada torcida em um círculo para representar o “Alvo Zero”, foi “concedida” durante a conferência da OMS de 1976, em Genebra, e usada como distintivo de lapela pelas pessoas que estiveram diretamente envolvidas no Programa de Erradicação da Varíola. Ainda hoje esses profissionais da saúde listam a “Ordem da Agulha Bifurcada” como uma de suas homenagens.

Informações técnicas sobre o objeto em foco!

Na região de Terai, no Nepal, um vacinador trabalha com a agulha bifurcada. Foto: Jean Mohr/OMS, cerca de 1970-1979.

Instrumento para escarificação da pele usado na vacinação contra a varíola 
Material: metal
Fabricante: Laboratório Wyeth 
Local: Pensilvânia, Estados Unidos 
Dimensões: 5 cm

O objeto apresentado foi a lanceta bifurcada de vacinação contra a varíola, com uma fina haste de aço inoxidável de, aproximadamente, cinco centímetros de comprimento e com duas pontas em formato de forquilha em uma de suas extremidades. Esse instrumento foi projetado pelo microbiologista norte-americano Benjamim A. Rubin (1917-2010), cientista do laboratório Wyeth, que patenteou o invento nos anos 1960. Adotada em larga escala pelo Programa de Erradicação da Varíola, da OMS, a partir de 1967, a agulha bifurcada foi o último e definitivo instrumento utilizado na imunização contra a varíola.

Outras leituras:
HERDERSON, D.A. Smallpox. The death of a disease. Prometheus Books, 2009
FERNANDES, Tania Maria Dias. Projeto vacina antivariólica: história e memória da erradicação da varíola. Entrevista com José Fernando de Souza Verani. Rio de Janeiro, s/d, COC/Fiocruz. (transcrição da fita 01, página 10)
GLOBAL HEALTH NOW. 100 Objects That Shaped Public Health. Bifurcated needle. Disponível em: https://www.globalhealthnow.org/object/bifurcated-needle 
CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. Vaccine Administration. Disponível em: https://www.cdc.gov/smallpox/clinicians/vaccination-administration2.html

Créditos:
Objeto em Foco é um produto de divulgação do acervo museológico sob a coordenação de Pedro Paulo Soares e Inês Santos Nogueira
Serviço de Museologia - Museu da Vida
Edição: Renata Fontanetto

 

Publicado em 14 de junho de 2021

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