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Por Renata Trajano
Cofundadora do Coletivo Papo Reto e integrante do Gabinete de Crise do Complexo do Alemão

"Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta.”
Angela Davis

Renata Trajano é mulher preta, defensora de direitos humanos, cofundadora do Coletivo Papo Reto, mãe da Ananda e integrante do Gabinete de Crise do Complexo do Alemão. Foto: acervo pessoal

A população negra no Brasil corresponde a uma maioria no país, mais precisamente 54%, segundo o IBGE. Na América Latina e no Caribe, 200 milhões de pessoas se identificam como afrodescendentes. Mas, tanto no Brasil como fora dele, essa parcela de pessoas é a que mais sofre com a pobreza. Dados sobre violência e desigualdade, de acordo com o Mapa da Violência, demonstram essas e outras realidades que atingem massivamente a população negra.

Em 1992, um grupo decidiu que era preciso se organizar de alguma forma para reverter esses dados e que uma solução só poderia surgir com a união das mulheres negras. Foi na organização do primeiro Encontro de Mulheres Negras Latinas e Caribenhas em Santo Domingo, na República Dominicana, onde nasceu a Rede de Mulheres Afrolatino-Americanas e Afrocaribenhas. O reconhecimento, que surgiu com muita luta e teve o apoio da ONU, veio em 25 julho.

Este dia não é apenas uma data de celebração; é uma data em que nós, mulheres negras, indígenas e de muitas comunidades tradicionais, refletimos e nos fortalecemos para nossas diversas lutas. Mesmo depois de tanta luta, como poderemos comemorar mais um ano sem podermos nos aglomerar e clamar por tudo o que tem acontecido conosco? Somos nós as que mais morremos e que ocupamos os espaços do sistema penitenciário, seja como detenta ou visitante.

Estamos em meio a uma pandemia, que também tem matado mais as negras e os negros. Somos, em grande maioria, as chefes de nossas famílias, somos linha de frente em muitas ações surgidas nas favelas e periferias. Não tivemos quarentena: fomos nós a assumir o dever do Estado diante da pandemia. A importância da ciência em nossas vidas é claramente algo real, apesar de hoje, no Brasil, termos governantes que não ligam e não respeitam a ciência. Estamos longe de podermos comemorar algumas datas importantes por conta de muitas coisas não estarem em seus devidos lugares.

As mulheres negras, latino-americanas e caribenhas estão ocupando espaços, fazendo muito para que não sejamos mais números. Nossa resistência é, de fato, nossa força diária. Nossa exigência é que possamos estar vivas, que parem de nos matar, que respeitem nossas vidas. Que possamos decidir pelo aborto, que possamos decidir pela nossa sexualidade, que possamos decidir viver de forma justa.

Fizemos isso quando a Covid-19 chegou em nosso continente e assumimos a linha de frente. Aqui na minha favela - Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro -, por exemplo, somos nós, as mulheres, que ocupamos esse espaço, que vamos às ruas quando matam a nossa gente, que enfrentamos a luta por justiça, por educação e por uma saúde melhor. A saúde do nosso país já estava sucateada: uma total falta de respeito com o nosso povo. É surreal! A ciência nunca foi tão desrespeitada, e a vida, tão banalizada.

Seguiremos sempre na luta diária por direitos iguais. Pela nossa vida e pela vida de todos os nossos!

Publicado em 24 de julho de 2020

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