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Por Renata Fontanetto

Ao buscar informação sobre um determinado assunto, qual é o primeiro local em que você procura? Se a resposta foi Google ou redes sociais, a tendência não é só sua. Dados da Pesquisa Brasileira de Mídia de 2016 já indicavam que a internet configura como o segundo local mais acessado por brasileiros para a busca de notícias e informações. A relação entre redes sociais e plantas medicinais foi o tema de estudo da mestra Carolina Guimarães, que defendeu a dissertação “Buscando e divulgando informações sobre plantas medicinais: uma análise de conteúdo de grupos do Facebook” dentro do mestrado em Divulgação da Ciência, Tecnologia e Saúde. 

Bióloga por formação, Guimarães viu o interesse pela pesquisa despertar ao fazer um curso no Jardim Botânico sobre plantas medicinais e começar a refletir sobre os usos corretos de cada planta e as contraindicações. O Facebook foi a rede social escolhida para a pesquisa, que contou com uma análise de conteúdo de grupos públicos que divulgam informações sobre plantas medicinais. 

A entrevista a seguir foi elaborada com perguntas enviadas por seguidores do Museu da Vida no Twitter, Instagram e Facebook.

@renata_fontanetto - Oi, Carolina! Como surgiu seu interesse pela pesquisa?
Carolina Guimarães: Formada em ciências biólogicas, estagiei no horto do Parque Zoobotânico de Salvador, na Bahia, no qual tive meu primeiro contato com as plantas medicinais, em especial o boldo. No Rio de Janeiro, fiz um curso no Jardim Botânico sobre o tema e, no decorrer do meu cotidiano, fui observando que usava algumas plantas medicinais sob forma de chá, mas nunca pensei nas contraindicações e em seu uso racional. Surgiu o interesse de fazer a pesquisa nesse universo da internet, com foco em redes sociais, visto que as pessoas recorrem a esse meio para divulgar suas experiências, solicitar informações e dicas sobre saúde, mas sem a preocupação dos efeitos negativos que isso poderia gerar na saúde de alguém.

@fernandamarques81 - Como você selecionou os grupos no Facebook para estudá-los? Nos grupos que você estudou, quais as plantas ou propriedades medicinais mais comentadas?
Carolina Guimarães: Os grupos foram selecionados através de critérios pré-estabelecidos de inclusão e exclusão, baseados em um artigo de um estudo já feito. Por exemplo, ao colocar o termo escolhido "plantas medicinais" na busca do Facebook, optei por colocar o filtro “grupos públicos”, selecionar grupos que tinham mais de mil membros, com postagens recentes na época da realização da pesquisa. Como critério de exclusão de grupos, temos, por exemplo, fugir do objetivo descrito no grupo. Grupos que postavam assuntos comerciais ou sobre troca de muda de plantas eram excluídos. O universo das plantas medicinais não fica limitado apenas às ervas, pois foram citadas, também, frutas e verduras. Na pesquisa feita nos grupos públicos, foram mais observadas e citadas as ervas pelos seus nomes populares, por exemplo, o alho, tanchagem, ora-pro-nóbis, eucalipto, cravo-da-índia, hortelã, açafrão, sálvia, orégano, alecrim, goiaba, graviola, tamarindo, gengibre e babosa. 

 

O que vale destacar nesta pesquisa é a mudança na forma de transmissão do conhecimento sobre o uso de plantas medicinais. Antigamente, era mais comum a oralidade e a transmissão de informação de geração a geração. Hoje, encontram-se informações nas redes sociais, unindo saberes ou gerando desinformação.

- Carolina Guimarães

 

@renata_fontanetto - Você observou usuários nesses grupos que dominam o debate e atuam como disseminadores de informação falsa?
Carolina Guimarães: Não foi o objetivo da pesquisa, mas, infelizmente, observamos a existência de usuários que dominavam o debate e atuavam como disseminadores de informação que não se encontrava na literatura sobre o tema. Para boas fontes de informação, recomendo a leitura do livro de Mara Zélia de Almeida, “Plantas Medicinais”, disponível neste link; a visita ao site da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que fala sobre fitoterápicos; e o artigo “Plantas medicinais: cura segura?”, disponível na revista científica Química Nova.

@_amarelodeserto - Plantas medicinais estão, muitas vezes, ligadas a questões religiosas e superstições. Você avaliou isso na sua pesquisa? Como lidar com essa dualidade que existe entre a sabedoria popular e a ciência quando se trata desse assunto?
Carolina Guimarães: O uso de plantas medicinais por motivos religiosos ou superstições não foram variáveis avaliadas na pesquisa. A sabedoria popular não foi subestimada porque é a partir dela, muitas vezes, que algumas pesquisas são feitas. Na pesquisa, observamos uma possível relação entre a sabedoria popular e comprovações científicas. 

@renata_fontanetto - Quais grupos você observou e durante quanto tempo?
Carolina Guimarães: Depois de selecionarmos os grupos de acordo com os critérios de inclusão e exclusão, foram observados dez grupos públicos num espaço temporal de sete dias. Dentre os grupos públicos amostrais, temos o grupo chamado “Plantas medicinais”, com 69.548 membros, “Plantas que curam e outros ensinos”, com 276.063 membros, e o grupo “Medicina naturalista - plantas que curam”, com 3.996 membros.

@fernandamarques81 - Quais fontes seguras de informação sobre plantas medicinais você recomendaria?
Carolina Guimarães: Em especial, a página do Sistema Único de Saúde (SUS), a Redesfito, da Fiocruz, e a página do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

@renata_fontanetto - Como um usuário pode se assegurar de que a informação é verdadeira?
Carolina Guimarães: Não foi o objetivo da pesquisa. No entanto, um usuário pode questionar e pesquisar em outros sites de fontes seguras acerca da informação. Isso, no entanto, é uma questão delicada e, como citado na pesquisa, existe dificuldade de acesso ao conhecimento científico sobre o tema.

@LuandaOLima - As evidências do uso popular das plantas são levadas em conta na pesquisa?
Carolina Guimarães: Sim, as evidências do uso popular foram citadas na pesquisa. Incluímos nas referências artigos que citam plantas já comprovadas cientificamente para o uso. Dentre esses trabalhos, temos “Conhecimento sobre plantas medicinais entre agricultores de base ecológica da região sul do Rio Grande do Sul”, disponível neste link; o artigo “Plantas medicinais, fitoterápicos e saúde pública: Um diagnóstico situacional entre profissionais da Área da saúde em Anápolis, Goiás”, disponível neste link; e o artigo “Sabedoria popular no uso de plantas medicinais pelos moradores do bairro do sossego no distrito de Marudá-PA”, também disponível on-line.

@LuandaOLima - O que a pesquisadora considera parâmetros da literatura científica?
Carolina Guimarães: Parâmetros são critérios que foram utilizados para selecionar a literatura. Os artigos selecionados foram revisados por pares e publicados em revistas indexadas. Em especial para a pesquisa, foi utilizada a base Scielo, com filtro para artigos feitos há, no máximo, dez anos. Utilizamos, também, os termos “plantas medicinais” e/ou “divulgação de plantas medicinais”.

@GarotasMare - Quais as plantas medicinais fáceis de encontrar que ninguém conhece?
Carolina Guimarães: Não foi o objetivo da pesquisa em si. Não sou especialista na área, mas, como bióloga, recomendo que, ao usar plantas medicinais, use de forma racional. Tudo depende da sua finalidade, dosagem, parte utilizada da planta e identificação correta da mesma. Plantas consideradas medicinais que são fáceis de encontrar, por exemplo, pelo nome popular: a erva cidreira e a hortelã. A espinheira santa, já comprovada e utilizada no SUS, também é fácil de encontrar, mas desconhecida por alguns.

@BabiCNunes - Qual metodologia ela está usando para pesquisa na internet? Faço mestrado e estou na busca de bases teóricas para esse campo.
Carolina Guimarães: A pesquisa é do tipo exploratória descritiva com abordagem qualitativa. O desenho do estudo foi adaptado do método desenvolvido no artigo “Online support for parents of preterm infants: A qualitative and content analysis of Facebook 'preemie' groups”. Posteriormente, para levantamento e análise de dados, utilizou-se o método de análise de conteúdo de Laurence Bardin.

@dnmattos - Posso comprar em lojas que vendem a granel? Como avaliar se o produto é confiável?
Carolina Guimarães: Isso não pode ser respondido pela pesquisa. A pesquisa mostrou que, em certas situações, existe o risco de identificação errônea da planta, por exemplo. 

@biobrunoalmeida - Existe alguma relação entre esses grupos e a disseminação dessas informações com o aumento do negacionismo científico, pseudociência e pós-verdade?  
Carolina Guimarães: Na pesquisa, não foi observada essa relação. Por exemplo, nas categorias de análise não encontramos nada sobre negacionismo. No entanto, observamos nos comentários de usuários dos grupos controvérsias científicas. Um exemplo de controvérsia: o uso da substância encontrada na Cannabis sativa, vulgo maconha, utilizada em tratamentos de saúde e amplamente discutida. Também foi observado o uso da moringa (nome popular) e calêndula, sobre as quais alguns membros dos grupos questionavam e falavam sobre proibição de uso.

@renata_fontanetto: Quais resultados da pesquisa você gostaria de destacar?
Carolina Guimarães: O que vale destacar nesta pesquisa é a mudança na forma de transmissão do conhecimento sobre o uso de plantas medicinais. Antigamente, era mais comum a oralidade e a transmissão de informação de geração a geração. Hoje, encontram-se informações nas redes sociais, unindo saberes ou gerando desinformação. Vale destacar a quantidade de informações não checadas e divulgadas. Nas redes sociais, dados errados podem ocasionar riscos à saúde. 
 

Publicado em 18 de fevereiro de 2020

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