Em setembro, pedimos aqui no site do Museu e nas redes sociais que nossos visitantes enviassem perguntas para o novo chefe do Museu da Vida, Alessandro Batista, sobre dúvidas em relação à nova gestão e ao MV. As contribuições iriam compor uma entrevista com ele, historiador e educador que tomou posse no dia 11 de julho para um mandato de dois anos.
Pois bem, chegou o momento de conhecer, aos poucos, as questões recebidas e, claro, as respostas! Ficamos bem contentes de ver a participação do público e dos trabalhadores do Museu, que também contribuíram. Ao longo de novembro, vamos divulgar as respostas completas aqui no site e dar aquela palhinha pelo nosso Facebook. Se bater alguma dúvida, envie um e-mail para Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. ou uma mensagem pelo Face. Vamos responder assim que possível! ;)
Quais são as novidades que o Museu da Vida vai trazer para o ano que vem?
Diversas novidades estão sendo pensadas. Teremos novas exposições: uma logo para esquentar as férias em janeiro sobre ilustrações científicas, que estamos fazendo em parceria com a Biblioteca de Obras Raras do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fiocruz; outra que terá como tema os “Rios do Brasil”; uma terceira sobre o Castelo da Fiocruz, no ano em que comemoramos os 100 anos da finalização de sua construção, entre outras iniciativas.
Nossas atividades teatrais estarão a todo vapor. Além de remontarmos apresentações de grandes sucessos como “O rapaz da rabeca e a moça Rebeca”, “A vida de Galileu” e “É o fim da picada!”, teremos uma nova versão do “Show de ciências” para o teatro. Estrearemos, também, uma peça voltada para o público infantil abordando a matemática, encerrando com chave de ouro o biênio da matemática por aqui. O ônibus do MV Expresso da Ciência continuará sua ação de forma intensa, aproximando estudantes de escolas públicas do Rio de Janeiro do nosso museu.
Em fevereiro, teremos um “Grito de carnaval científico”. Já em julho, vamos apoiar a Fiocruz no acolhimento do 12º Congresso da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), que terá o tema “Fortalecer o SUS, os direitos e a democracia”. Outras atividades tradicionais nossas, realizadas anualmente, como a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, Semana Fluminense de Patrimônio, Celebrando o Cérebro, Semana de Meio Ambiente, entre outras, vão trazer para discussão a pauta da agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) para o desenvolvimento sustentável. >https://nacoesunidas.org/tema/agenda2030/<
Um outro ponto: em breve, teremos uma rede Wi-Fi! Enfim, eu poderia ficar um bom tempo falando sobre outras novidades. Garanto que há muitas. Sugiro que venham nos visitar várias vezes e nos acompanhem pelo site e redes sociais!
Você comentou que ia colocar em prática, para os funcionários do museu, uma caixa para sugestões na portaria. Gostaria de saber se isso se mantém e quando que vai começar a valer.
Já está valendo desde o fim de setembro, só que ela não está na portaria da sede do museu e, sim, em uma mesa próxima ao bebedouro do foyer, entre o auditório e o salão de exposições temporárias. Já avisamos por e-mail para todos e colocamos um cartaz no local. A proposta é que eu ou a secretaria possa dar um retorno pelo Facebook do MV - sem declarar os nomes por trás de cada uma das sugestões - já a partir de novembro.
Pensam em abrir uma "filial" em outras regiões do país? Curitiba, por exemplo?
Eu sigo a mesma linha das gestões anteriores do Museu da Vida: defendo o fortalecimento dos museus e, particularmente, dos museus de ciência no Brasil. Quanto mais museus melhor! Curitiba é uma cidade muito bonita e tem ótimos museus. Seria motivo de orgulho podermos ter uma “filial” por lá, porém não está nos planos do MV um processo de expansão nestes moldes. Reafirmo que trabalhamos para fortalecer o campo dos museus no país e, como já declarei nas perguntas anteriores, a gestão que defendo tem o sentido de intensificar a articulação e alinhamento com a nossa unidade - Casa de Oswaldo Cruz - e com a própria instituição. Neste sentido, entendo que o Museu da Vida pode vir a ser uma plataforma que colabore para que a Fiocruz possa pensar um projeto de memória institucional a nível nacional, envolvendo um grande trabalho colaborativo entre as unidades, seja nos campi que existem na cidade do Rio de Janeiro ou nos de outros estados.
Você considera possível pensar na criação de um museu de ciência via financiamento coletivo? Pergunto isso porque, pelo que conheço, os museus ou estão vinculados a universidades e instituições de pesquisa ou a gigantes da iniciativa privada. Meu sonho (sonhar é permitido) é abrir um centro de ciências voltado para as geociências, devido ao meu histórico com esse tipo de museu. Sei que é de fundamental importância a existência de museus ligados às instâncias públicas, mas penso que seria muito interessante se houvesse essa abertura para pessoas que não estão ligadas nem às universidades e nem aos gigantes da iniciativa privada.
Sim, você está certa: hoje, a esmagadora maioria dos museus de ciências tem a sua origem e vinculação nos moldes que você apontou. Isso se explica, em parte, pela história da relação entre o Estado brasileiro, a ciência brasileira e sua divulgação, mas também porque museus, via de regra, são caros. Desde sua implementação, continuidade e sustentabilidade, sendo que em raríssimas exceções eles não são elementos capazes de produzir lucro, seja pela produção de conhecimento ou pelo entretenimento. Nas ruas da França, em maio de 1968, durante a primavera, numa das maiores manifestações estudantis da história, via-se muitas vezes a frase: “Sejamos realistas; exijamos o impossível”. Estamos em um momento histórico conturbado, onde muitos decretam o fim da utopia ou das utopias. Acredito que as utopias são imortais. Enquanto houver ser humano haverá sonho e esperança. A potência colaborativa das pessoas ao longo da história é algo surpreendente. Crie estratégias, busque apoio, norteie-se (ou suleie – depende da perspectiva política) por objetivos maiores e acredito que, sim, você pode conseguir seu intento.
Existe uma previsão para oferecimento de doutorado em Divulgação e Popularização da Ciência? (Por favor, diga que sim!)
Então, no momento não temos a perspectiva de oferecermos o doutorado. Estamos em uma fase inicial no nosso mestrado. Mas, calma, não significa que não possamos ter (esperamos mais breve do que o imaginado). Com dedicação e muito trabalho, é uma questão de tempo podermos ofertar o doutorado. Consideramos o programa uma grande vitória do nosso museu e esperamos que ele possa crescer. Fique conosco!
A seu ver, qual é o papel atual de um museu de ciência?
Alessandro Batista: Essa é uma pergunta interessante e me parece apropriado começar por ela. Por meio dela, é possível situar o fazer profissional de quem atua em museus de ciências em um mundo marcado pela aceleração da vida e pela proposição de individualização das relações sociais. Por outro lado, permite refletir sobre como o Museu da Vida vem atuando diante dos desafios da sociedade contemporânea e diante de uma projeção do ideal de um museu de ciência. Por vício de formação, começo sempre as análises pela história das coisas. Acho que o papel dos museus de ciências vem se transformando bastante nas últimas décadas. Principalmente se o comparamos com os primeiros gabinetes de curiosidades de séculos atrás, ou mesmo com as grandiosas exposições universais, onde a contemplação extasiante, que hipnotizava os visitantes, lançava-os a uma perspectiva mística da ciência, quase mágica, e criava um distanciamento entre o acervo exposto e o público, numa perspectiva do objeto intocável.
Após as duas grandes guerras mundiais do século XX, o mundo passou por rápidas e imensas transformações, políticas, econômicas, sociais e culturais. Houve acelerado grau de mudança na ciência, tecnologia e, também, nos comportamentos social e cultural. Isso construiu uma realidade cotidiana radicalmente diferente daquela que existia no início do mesmo século.
Em nossos dias, o foco dos museus está na interatividade, na possibilidade da manipulação do que está exposto; há, claramente, uma migração de perspectiva, onde o visitante passa a ser o protagonista no processo de experimentação do espaço museu. “O visitante deve ser o ponto de partida e chegada para o trabalho do museu”.
A sociedade atual é complexa e vive um processo intenso de revolução nas áreas tecnológica e comunicacional. O museu de ciência, como espaço de fronteira e encontro de saberes distintos, será fruto desse novo tempo em que deve superar a dicotomia contemplação/interação. Ele deve ser um espaço onde a dialética desse binômio permita ao museu ser um espaço de debate das questões fundamentais da sociedade, da vida e da emancipação dos homens. A contemplação deve promover a interação, assim como a interação precisa da contemplação para que tenhamos uma reflexão crítica.
O museu deve ser um espaço de encontro, funcionando como um verdadeiro fórum para que as pessoas possam se expressar e debater as diferenças e convergências, se apropriando dos principais debates da ciência, influenciando o fazer científico. Precisa, também, ir ao encontro das pessoas. Não apenas metaforicamente, ao se aproximar das suas questões e linguagens, mas também fisicamente, expandindo sua atuação extramuros e virtual, processo fundamental para um país como o Brasil, com enorme desigualdade social. Poderíamos falar muito mais sobre o papel dos museus de ciências na atualidade, mas o que apresento aqui, acredito, encontra o cerne do que identifico como principal parte da questão.
Gostaria de entender melhor quais são os pontos principais de ação nos quais você vai basear a sua gestão.
O trabalho da nossa gestão possui como pilares o comprometimento com enfrentamento das desigualdades sociais de nosso país por meio da divulgação e popularização da ciência e também por meio do próprio fazer científico. Uma gestão transparente e participativa que irá se submeter constantemente à avaliação do público e usar as tecnologias disponíveis para permitir acesso a informações.
Pretendemos integrar a gestão do museu com a da Casa de Oswaldo Cruz e a da própria Fiocruz; Valorizar e lançar mão, sempre que possível, dos nossos acervos museológico e bibliográfico; Inovar nas ações educativas e nas ações de comunicação; Fomentar a acessibilidade nos espaços e nas atividades do museu; Apoiar e aprofundar a pesquisa em todos os campos e setores do museu; Incentivar a interlocução entre arte e ciência com ludicidade e reflexão crítica em nossas ações; Aprofundar as ações territorializadas, que hoje contribuem para que o Museu da Vida seja identificado por diversos setores da Fiocruz como parceiro estratégico nas ações de saúde e pesquisa junto à população de territórios vulnerabilizados e ao público em geral.
Quais são os obstáculos para tornar os brasileiros frequentadores de museus de ciências? Ou, na sua opinião, essa cultura já existe?
Os obstáculos são múltiplos e poderíamos nos aprofundar em cada um deles, mas, para não ser exaustivo, enumerarei os que considero principais sem dissecá-los.
- Acesso a transporte e locomoção aos museus (apontado como fator de maior peso pelas ausências no Museu da Vida, segundo a pesquisa realizada pelo Núcleo de Estudos de Público e Avaliação em Museus do Museu da Vida, entre 2002-2011);
- Acesso à informação sobre localização, funcionamento e sobre as atividades dos museus de ciências;
- Aumento da violência nos centros urbanos;
- Crises econômica e social do país;
- Distanciamento das exposições e museus da realidade e linguagem do público, particularmente em relação às camadas populares.
Esta última, em minha opinião, precisa de uma reflexão mais detida, o trabalho feito pelo Museu da Vida nos últimos quatro anos sobre as Ações Territorializadas produziu uma experiência e material bruto interessantes para avaliarmos essa questão.
Além dos obstáculos financeiros e de recursos, quais são as maiores dificuldades enfrentadas pelo Museu da Vida na divulgação científica e popularização da ciência?
Não fugimos muito dos problemas e questões que outros museus enfrentam. O acesso ao transporte para locomoção do público e o acesso à informação por parte do público estão, sem dúvida, entre os principais problemas enfrentados pelo Museu da Vida. Temos, também, problemas de outras naturezas. Destacarei, aqui, três exemplos de ordens distintas apenas para termos uma ideia do quão complexa é essa questão.
Um primeiro ponto, de ordem institucional, é o fato de que nosso elemento de avaliação atual está restrito ao número de pessoas alcançadas no ano. Concordo que este é um fator fundamental, mas ele não pode ser o único na avaliação de nosso trabalho. Estamos juntos com todo o corpo gestor da Fiocruz procurando outros caminhos para isso.
O segundo ponto, de ordem social e política, diz respeito à enorme desigualdade social de nosso país, particularmente na cidade do Rio de Janeiro, e os seus consequentes desdobramentos, que vão desde o aumento da violência urbana, passando pela dificuldade de estabelecer junto à esmagadora maioria da população acesso e apropriação dos bens e debates da cultura e da ciência. Toda essa questão leva a um abismo entre o cotidiano da ciência brasileira e a realidade de amplas camadas da população, tornando a tarefa de divulgar e popularizar a ciência um desafio de proporções impressionantes. Isso coloca para o Museu da Vida questões que nos provocam a pensar estratégias diferenciadas, como buscar interlocução intensa com os movimentos sociais organizados, desenvolver propostas e mecanismos de escuta da sociedade, ampliar seu alinhamento com a Casa de Oswaldo Cruz e a própria Fiocruz - no intuito de melhor cumprirmos nossa missão institucional - e abrir cada vez mais a participação da sociedade, principalmente das camadas mais pobres de nossa cidade e país, na vida do museu e da própria Fiocruz.
O terceiro ponto, de ordem histórica, apesar de aparentemente mais prosaico, é um fator que costuma complicar um pouco o nosso trabalho. Diz respeito à nossa organização física dentro do campus da Fiocruz. Atualmente, o museu está organizado para visitação em seis espaços de visitação separados geograficamente entre si. Isso causa uma certa confusão no visitante e às vezes até na coordenação. Nos últimos anos, sucessivamente, enfrentamos esse obstáculo integrando e articulando o planejamento e execução de ações numa lógica de “equipe única”, que passa desde o ato simbólico de todos os funcionários que atendem o público usarem uma única camisa durante o atendimento e inclui, também, uma melhor sinalização do próprio campus, bem como atividades educativas que façam com que o visitante circule pelo campus e pelos espaços de forma complementar.
Qual a importância para o Museu da Vida de se relacionar com o entorno da Fiocruz?
Digo que existem múltiplos elementos que tornam esse relacionamento importante. Alguns pela perspectiva da população de Manguinhos e da Maré e outros pela perspectiva do Museu da Vida e da Fiocruz. Escolho apontar apenas três para cada perspectiva.
Do ponto de vista da população do território, é importante porque: 1) é uma opção de acesso a uma área de lazer e cultura com amplo espaço verde, segurança e entrada gratuita; 2) é uma oportunidade para perceber a ação do Estado brasileiro, representado pela Fiocruz, a serviço de todos os cidadãos, inclusive os que moram no território de Manguinhos e da Maré; 3) é uma forma de a população desse território encontrar no MV um ambiente, um fórum para expressão, para troca de experiências, saberes e, além disso, uma oportunidade para refletir criticamente sobre ciência, saúde e cultura em nossa sociedade.
Do ponto de vista do MV e da Fiocruz: 1) o MV e a Fiocruz têm uma ótima oportunidade de escutar e estabelecer diálogo com um público que carrega consigo a memória e o saber desse território, o que contribui para tornar o Museu da Vida único; 2) o Museu pode contemplar a necessidade de se enraizar no contexto territorial de Manguinhos e da Maré (e por que não com o Jacarezinho e o Alemão também?), em uma perspectiva de contribuir com a promoção da saúde e divulgação e popularização da ciência; 3) Por fim, o MV tem a oportunidade de inovar na relação com seu público e estabelecer outras perspectivas ainda não imaginadas com seus vizinhos.
Muitos outros aspectos poderiam ser apontados como importantes para essa relação. Porém, o principal elemento que dá importância a esse processo, no meu entendimento, diz respeito a pararmos de entender que o MV e a Fiocruz estabelecem relação com seu entorno e, sim, compreendermos que a instituição como um todo está inserida no território. Estamos integrados ao espaço físico, busquemos também a integração social.
Como você planeja a interação do museu com a comunidade de Manguinhos? É possível ter algumas atividades dentro da comunidade?
A interação já ocorre desde o surgimento do MV, em 1999. Por muitos anos tivemos o “Curso de monitores de museus e centros de ciência”. Depois, a partir de 2007, o projeto “Tecendo redes” junto a escolas municipais de Manguinhos. Mais recentemente (a partir de 2013), o projeto “Pró-cultural”, voltado para jovens de ensino médio das comunidades do entorno e reconhecido pela prefeitura do Rio de Janeiro como ponto de cultura. Há também o Grupo de Ações Territorializadas do Museu da Vida. Estes dois últimos trabalhos já atuam de forma bem intensa no território, compondo redes sociais estabelecidas nas favelas em conjunto com os moradores, escolas e equipes de saúde de Manguinhos e da Maré. Também nos últimos anos, uma estratégia bem-sucedida foi a aproximação com os movimentos sociais territorializados e coletivos culturais que por aqui atuam. A população do nosso território manifesta uma vida cultural intensa e devemos nos integrar cada vez mais a ela, buscando interlocução exaustiva com as organizações de comunicação que atuam de forma territorializada.
Um exemplo já posto em prática foi a atuação no sábado da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia de 2017, no qual o Museu da Vida e a Casa de Oswaldo Cruz, junto à Coordenadoria de Cooperação Social da presidência da Fiocruz, estabeleceram parceria com a Pró-reitoria de extensão da UFRJ. Ambas as instituições atuaram de forma integrada, expondo trabalhos de pesquisadores ao lado de trabalhos desenvolvidos por moradores da Maré e de Manguinhos. Em Manguinhos, tudo ocorreu no Colégio Estadual Compositor Luis Carlos da Vila e, na Maré, no Centro de Artes da Maré e no Galpão Bela Maré.
Muita gente das comunidades do entorno que já conhece a Fiocruz, os serviços de saúde oferecidos, mas não conhece as atividades culturais oferecidas. Acho que deveria ter mais divulgação dos serviços oferecidos de visitação, por exemplo os do Museu. Como você vê a ação de agentes comunitários para ampliar a divulgação do museu nas favelas do entorno como um todo?
É verdade. Apesar da tradição de interação do nosso museu e de todo trabalho desenvolvido junto à população do território no qual estamos inseridos, ainda não somos conhecidos o suficiente de forma que a população nos reconheça como espaço público legítimo a ser ocupado por ela. Na resposta anterior, já apontei algumas estratégias para ampliarmos essa visibilidade. Não vejo uma fórmula mágica: a resposta é trabalho árduo, contínuo e articulado com o restante da Fiocruz. Podemos dar, como exemplo, o fato de que, atualmente, o Museu da Vida integra um projeto sobre educação e comunicação sobre Zika e vírus transmitidos pelo Aedes aegypti nas comunidades. Este projeto é coordenado pela presidente da Fiocruz, Nisia Trindade Lima, e pretende atuar por meio da divulgação e popularização da ciência junto aos profissionais de educação e saúde no território.
Mais de 90% da ciência brasileira é financiada pelo governo. Você entende que a divulgação científica também é uma forma de prestar contas do dinheiro investido em ciência pela sociedade?
Em certo sentido, sim. Se encararmos o trabalho de divulgação como parte constituinte do fazer científico, estamos retornando seus desdobramentos e traduzindo investimentos para a maior parte da população.
Contudo, a transparência de investimento público deve se dar por meio de regulação própria e por uma capacidade de gerenciamento político por parte de cada cidadão, de modo que todos sejam governantes de si e capazes, inclusive, de decidir sobre o destino dos investimentos.
Assim, a divulgação e popularização da ciência podem vir a contribuir para além de ajudar na prestação de contas desses investimentos. Podem, sim, junto a um processo amplo de educação emancipatória para toda a sociedade, colaborar para a tomada de decisão sobre os investimentos em ciência, saúde e outros campos.
Você acha que é possível adotar uma política de incentivo e apoio a funcionários do museu mais velhos? Há muitos cursos na Fundação que acontecem no horário do expediente e vários funcionários da limpeza, por exemplo, não têm como participar. Como você vê esta questão?
Sim, acho que é possível pensarmos em uma política nesse sentido, mas não apenas para o Museu da Vida, já que somos um departamento que estabelece relação com os trabalhadores a partir de contratos celebrados com a nossa unidade – a Casa de Oswaldo Cruz. Sempre, por princípio, defendo a formação e qualificação dos trabalhadores. Já abrimos diálogo com o RH da COC para, em um primeiro momento, pensarmos estratégias para motivar e possibilitar a qualificação dos servidores e terceirizados. Porém, a vice-direção de gestão da unidade é sensível à demanda que estamos encaminhando sobre os trabalhadores de portaria e serviços gerais. Acredito que esta seja uma discussão que toda a Fiocruz deveria fazer.
Como você enxerga o entrosamento da atual gestão com os funcionários do MV?
O entrosamento é ótimo. Todos os coordenadores se relacionam bem com suas equipes e compreendem a perspectiva de equipe de forma ampla, incluindo os trabalhadores da limpeza e portaria com os quais se relacionam. Contudo, defendo que é dever do chefe do museu oportunizar para todos os trabalhadores momentos e instrumentos de manifestação. Por isso, além de manter a já citada caixa de sugestões no foyer do Museu, busco incentivar reuniões de coordenação ampliadas, reuniões gerais do Museu da Vida regulares e reuniões semestrais com as equipes de portaria e limpeza. Além de circular e estar presente regularmente em todas as áreas do Museu da Vida, a porta da minha sala está aberta a todos.
Como são pensadas as atividades presentes e futuras do Museu? Quem dá as ideias para as atividades?
As atividades do Museu da Vida já foram pensadas e desenvolvidas de várias formas diferentes ao longo do tempo. Eu mesmo vivenciei esses momentos, pois atuei na mediação ao público durante dez anos. Atualmente, estamos com um processo provisório, tendo em mente que estamos prestes a implementar uma nova estrutura educativa no Museu. Nos momentos de planejamento anual do Museu da Vida, os profissionais, à luz da avaliação ou decisões coletivas, apresentam suas sugestões para seus chefes. Geralmente, os profissionais da visitação são os proponentes. Todas as propostas são encaminhadas ao coordenador do Serviço de Visitação e Atendimento ao Público, que determina uma etapa de discussão sobre atividades e uma outra etapa de teste, para ver se a atividade será inserida na programação. Este modelo deverá ser aperfeiçoado no futuro. Defendo, também, que nosso público possa participar de alguma forma desses processos em um futuro próximo.