Informativo do Núcleo de Estudos da Divulgação Científica do Museu da Vida Fiocruz
Ano XXII - nº. 322. RJ, 8 de abril de 2025.
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Na semana passada, Felipe Neto mostrou o quão fácil é enganar as pessoas com informações esdrúxulas, mesmo (alguns) jornalistas, que têm entre suas tarefas básicas checar os fatos antes de divulgá-los. Muitos acreditaram, compartilharam e comentaram a sua suposta candidatura à presidência. Outros tantos vociferaram contra o youtuber ao descobrir que se tratava “apenas” de um anúncio do lançamento do livro 1984 pela Audible, o acusando de espalhar fake news – entre outras recriminações. O episódio só reforça a necessidade de levarmos o fenômeno da desinformação a sério e investirmos pesadamente em estratégias para enfrentá-lo. A divulgação científica tem um papel importante a desempenhar nesse processo. Aqui no Ciência & Sociedade, buscamos contribuir apresentando pesquisas e outras iniciativas do campo relacionadas ao tema. Na seção Especial Desinformação deste número, divulgamos um estudo realizado em cinco países, incluindo o Brasil, sobre os desafios e esforços jornalísticos para combater a desinformação. Ainda nessa temática, anunciamos a realização do “Seminário Educação, Informação, Comunicação e Saúde: Proteções Contra a Desinformação”, que acontece em Salvador, na Bahia, de 29 a 31 de julho (leia mais na seção Eventos). A emergência climática, assunto muitas vezes associado à desinformação, também ganha destaque nesta edição do CS, com leitura, exposição, evento e bolsa a ele relacionados. Confira a seguir essas e outras iniciativas de divulgação científica que fazem a diferença. Boa leitura!
Especial Desinformação
Desarmando a desinformação – A expansão da desinformação, associada a ataques direcionados a jornalistas, torna-se ainda mais crítica em clima de autoritarismo crescente, corroendo a confiança na mídia de interesse público e colocando profissionais de imprensa em risco. O desenvolvimento rápido e não regulamentado da inteligência artificial (IA) pode potencializar ainda mais essas ameaças. Preocupada com esse cenário, a organização International Center for Journalists, em parceria com a University of London, conduziu o projeto Disarming Disinformation, um estudo realizado em cinco países sobre os desafios e esforços editoriais para combater a desinformação. No Brasil, foram realizadas 37 entrevistas em profundidade junto com mesas-redondas de pesquisa, incluindo editores-chefes do jornal Folha de S.Paulo e do coletivo de notícias digitais Tapajós de Fato, sediado na Amazônia. Além disso, foi realizado um estudo representativo com 1.003 adultos brasileiros sobre suas percepções acerca da desinformação, da segurança dos jornalistas e do papel da mídia no Brasil. Dentre os resultados, divulgados em março, destacam-se aqueles relacionados ao jornalismo na Amazônia: os autores identificaram que narrativas desinformativas retratam as terras de comunidades tradicionais como improdutivas, com o objetivo de justificar sua apropriação por corporações. Além disso, campanhas de desinformação que têm como alvo jornalistas na região amazônica agravam as ameaças à pluralidade da mídia. A prática do jornalismo de interesse público já é precária na região e tais campanhas intensificam ainda mais essa vulnerabilidade. Clique aqui e leia o estudo completo, em inglês.
Leituras
Produtos jornalísticos e pistas de confiança – O estudo sobre confiança – por si só um conceito complexo – e sua relação com a ciência pode adotar diferentes ângulos e metodologias. Três pesquisadores do Departamento de Mídia e Comunicação da Universidade de Munich Ludwig Maximilian voltaram suas lentes para uma ampla diversidade de produtos jornalísticos, incluindo entre seus objetos de estudo telejornais e programas especiais de ciência na TV, jornais impressos e online, revistas e jornais semanais de notícias e revistas científicas especializadas, além mídias populistas de direita, diferentes conteúdos de plataformas de mídia social, blogs científicos e agregadores de notícias on-line. A busca, feita a partir de três semanas construídas, representando o período de março a agosto de 2022, resultou numa amostra de 5.262 unidades de informação. Lançando mão da análise de conteúdo, os pesquisadores codificaram 1.329 “pistas de confiança”, ou seja, informações fornecidas em conteúdo de mídia que apresentam ao público razões para confiar na ciência, como citações de afiliação à instituição de ensino/pesquisa, formação acadêmica, publicação científica, entre outras. Tais pistas foram agregadas em cinco diferentes dimensões: expertise, integridade, benevolência, transparência e diálogo. O trabalho traz, acima de tudo, uma base para novas pesquisas, como colocam os autores. Uma das possibilidades seria resolver uma limitação apontada pelos próprios pesquisadora, de que “as ‘pistas de confiança’ identificadas e as categorias desenvolvidas para cada dimensão não informam sobre sua importância para o público, ou seja, seu efeito na confiança pública na ciência”. Clique aqui e veja o artigo que está disponível gratuitamente, em inglês.
Cultura & clima – Estamos acostumados a ver a emergência climática ser discutida no contexto das ciências, mas talvez tão importante quanto seja o olhar – e as contribuições – do setor cultural sobre o tema. Embora existam conexões óbvias entre as agendas climática e cultural, há ainda uma série de obstáculos para o desenvolvimento de políticas e programas unindo-as. É o que mostra o relatório Cultura e Clima, resultado de pesquisa realizada pelo C de Cultura e pela Outra Onda Conteúdo, em parceria com o Instituto Veredas. A pesquisa visa integrar a cultura à agenda climática global, destacando as principais evidências nacionais e internacionais sobre a conexão das agendas e os principais caminhos para o desenvolvimento de políticas e programas conectando esses setores. O estudo, realizado de abril a outubro de 2024, incluiu revisão de literatura, consultas a especialistas, mapeamento de iniciativas, sessão de validação, artigos de opinião e entrevista. Os resultados revelam, por um lado, que os impactos das mudanças climáticas sobre o setor cultural brasileiro são profundos e crescentes. Por outro, apontam a importância da cultura como agente de transformação no enfrentamento aos desafios climáticos. Nesse sentido, o documento destaca as práticas culturais de povos indígenas como de grande importância na preservação da biodiversidade e no manejo sustentável dos ecossistemas e o poder da arte de mobilização social, podendo sensibilizar e engajar a sociedade na luta contra as mudanças climáticas. Acesse aqui o documento completo.
Ações
Pronta pra ser Cientista – Alunas do Ensino Fundamental 2 interessadas em vivenciar a experiência de ser cientista têm até 19/4 para se inscrever no projeto do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP de Ribeirão Preto. Com 30 vagas, o projeto inclui encontros teóricos e práticos realizados aos sábados pela manhã, ao longo do mês de maio. As atividades incluem estudos sobre biodiversidade, imersão em botânica, passeio pela Floresta da USP e experimentos que revelam a vida invisível a olho nu. As vagas são divididas em três categorias: dez para ampla concorrência, dez para estudantes de escolas públicas e dez para estudantes pretas, pardas e indígenas. A divulgação das selecionadas será em 23/4 e o prazo para confirmar a participação vai até 25 do mesmo mês. As atividades acontecem nos dias 10, 17, 24 e 31 de maio, presencialmente, no Departamento de Biologia da FFCLRP. Inscreva-se aqui no projeto “Pronta pra ser Cientista”.
Consertando o planeta – O Museu de História Natural de Londres acaba de dar sua contribuição para uma das discussões mais relevantes da atualidade, que é o futuro do nosso planeta diante da emergência climática em curso. Um dos museus de ciências mais conceituados e visitados do mundo inaugura a galeria Fixing Our Broken Planet (Consertando o nosso planeta quebrado, em tradução livre). A proposta da galeria é, por meio de objetos do acervo do museu e das pesquisas realizadas por seus cientistas, mostrar o impacto das ações humanas no mundo natural e sobretudo explorar soluções práticas para alguns dos maiores desafios que a Terra enfrenta. Nesse sentido, convida o visitante a refletir sobre os alimentos que comemos, a energia que consumimos, os objetos que usamos e o impacto de tudo isso em nossa saúde. Paralelamente à abertura da galeria, vários eventos e ações relacionados ao tema estão programados, de modo a fortalecer o potencial da gelaria de engajar o público no enfrentamento das questões abordadas. Para mais informações, clique aqui.
Eventos
Comunicação e proteção contra a desinformação – Salvador, na Bahia, recebe de 29 a 31/7 o “Seminário Educação, Informação, Comunicação e Saúde: Proteções Contra a Desinformação”, com o objetivo de debater as contribuições da divulgação científica e da educação midiática no enfrentamento à desinformação em ciência e saúde, apontando os principais desafios frente ao espalhamento de informações falsas e enganosas nas mídias sociais, destacando as estratégias de governos, universidades, institutos de pesquisas e sociedade civil organizada, que buscam a produção, distribuição e acesso à informação íntegra. As inscrições estão abertas até 15/5. Confira aqui mais informações.
Promovendo eventos inclusivos de divulgação científica – O webinário “Inclusive event facilitation: Challenges, best practices, and opportunities” acontece em 28/4, às 8h (horário de Brasília), com quatro palestrantes internacionais, que irão compartilhar oportunidades e boas práticas para a facilitação de eventos de divulgação científica inclusivos. Apesar disso, o evento é exclusivo para membros da rede PCST. Saiba mais aqui.
Comunicação e mudanças climáticas – A Universidade da Pensilvânia (EUA) e a Universidade de Princeton (EUA) convidam pesquisadores, jornalistas, divulgadores e demais interessados no assunto para o Climate Storytellers’ Summit, evento gratuito e on-line, que ocorre no dia 10/4, às 17h (horário de Brasília). O encontro visa reunir profissionais de todos os setores dedicados a discutir e divulgar assuntos relacionados a mudanças climáticas para debater estudos e estratégias e estimular conversas colaborativas sobre o tema. Para mais informações e inscrições, clique aqui.
Conferência mundial de jornalismo científico recebe propostas – A Conferência Mundial de Jornalistas Científicos (WCSJ) deste ano acontecerá em Pretória, na África do Sul, de 1 a 5/12, com o tema “Jornalismo científico e justiça social: jornalismo que constrói compreensão e resiliência”. O evento, que reúne jornalistas, comunicadores e especialistas de vários países para compartilhar experiências e insights, desenvolver habilidades e promover uma comunidade mais forte e informada, está aceitando, até 21/4, propostas para diferentes sessões, workshops e apresentações. Confira aqui mais informações.
Oportunidades
Bolsas para jornalistas e artistas se dedicarem ao oceano – A Fundação Grupo Boticário, em cooperação com a UNESCO e o Museu do Amanhã, lançou o Edital Conexão Oceano de Comunicação Ambiental, que concederá até cinco bolsas de R$ 10 mil para jornalistas e até cinco bolsas de R$ 10 mil para artistas, além de um valor adicional de até R$ 14 mil, para a produção de conteúdo sobre o oceano. As inscrições estão abertas até 20/4. Mais informações aqui.
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Ciência & Sociedade é o informativo eletrônico do Núcleo de Estudos da Divulgação Científica do Museu da Vida (Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz). Editores de Ciência & Sociedade: Carla Almeida e Marina Ramalho. Redatores: Luís Amorim e Rosicler Neves. Projeto gráfico: Barbara Mello. Informações, sugestões, comentários, críticas etc. são bem-vindos pelo endereço eletrônico <Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.>. Para se inscrever ou cancelar sua assinatura do Ciência & Sociedade, envie um e-mail para <Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.>.
* A seção Especial Desinformação é uma iniciativa do projeto “O desafio da desinformação em saúde: compreendendo a recepção para uma melhor divulgação científica”, contemplado pelo Programa Proep 2022, da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) e do CNPq.
Publicado em 09 de abril de 2025.
