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Imunobiológico contra o vírus da febre amarela
Material: vidro/papel/imunobiológico
Fabricante: Instituto Oswaldo Cruz
Local: Rio de Janeiro, Brasil
Dimensões: 8 x 13 x 10,5 cm (caixa)

As delicadas ampolas de vidro com líquido turvo amarelado representam um momento de inúmeros trabalhos que foram desenvolvidos para o alcance de uma vacina contra a febre amarela no Brasil.

No início do século passado, o combate à febre amarela se deu através de campanhas de erradicação da doença, por meio de desinfestação de habitações, do isolamento de doentes e destruição dos focos do mosquito, o que surtiu resultados com uma significativa queda no número de casos da doença.

Na década de 1920, uma nova epidemia ocorreu no Rio de Janeiro e promoveu uma acelerada fase de pesquisas e experimentações científicas que revelam uma intensa competição entre laboratórios norte-americanos, europeus e brasileiros em busca da elaboração de uma vacina.

No Instituto Oswaldo Cruz, o médico e pesquisador Henrique Beaurepaire Rohan Aragão (1879-1956), inspirado em teste realizado em laboratórios norte-americanos, iniciou uma preparação da vacina contra a febre amarela a partir de resíduos orgânicos – fígado e baço - do primeiro macaco da espécie rhesus que conseguiu inocular.

Aragão reduziu esta preparação a uma polpa, diluiu-a em água esterilizada, filtrou o caldo em gaze e esterilizou o produto com vapor de formol, segundo uma técnica usada no instituto desde 1911. Naquela época, a etapa de esterilização ainda era algo pouco padronizado quando o assunto era vírus. Não havia equipamento suficientemente potente para a visualização desses microrganismos. Neste sentido, Aragão também experimentou outras fórmulas para o desenvolvimento da vacina a partir das trocas científicas com pesquisadores norte-americanos, testando uma variação das técnicas usadas pelos pesquisadores da Fundação Rockefeller na etapa de esterilização sem prejuízo da atividade do vírus.

O produto final alcançado por Henrique Aragão resultou em um líquido róseo-amarelado e turvo. Esta vacina começou a ser aplicada em pessoas que trabalhavam com febre amarela no Instituto Oswaldo Cruz.

Com o agravamento da epidemia no Rio de Janeiro, a vacina passou a ser distribuída em larga escala com o aval do Departamento Nacional de Saúde Pública. Entre janeiro e abril de 1929, doses de dois centímetros cúbicos da vacina foram aplicadas em cerca de 25 mil pessoas – entre brasileiros e imigrantes estrangeiros.

Infelizmente, os resultados do imunobiológico não foram satisfatórios. A vacinação foi marcada por muitas reações colaterais e ocorreram muitos casos em que pessoas contraíram a doença mesmo após vacinadas. A indesejada publicidade obrigou Carlos Chagas, diretor do Instituto Oswaldo Cruz, a suspender o fornecimento à saúde pública e a particulares.

Essa vacina produzida em Manguinhos submergiu diante de um ambiente de insegurança e controvérsias pela eclosão da epidemia de uma doença ainda com tratamento indeterminado e pela condensação de outros fatores de instabilidade pertinentes à vida econômica, social e política do país.

A febre amarela, ainda nas primeiras décadas do século XXI, é considerada um grande problema de saúde pública na África e na América Latina. As mais recentes inovações do imunizante produzido pela Fundação Oswaldo Cruz caminham para a substituição do vírus vivo atenuado, presente na vacina convencional usada atualmente, por moléculas de DNA inerte ou mesmo por biotecnologia vegetal – técnica que codifica a proteína do vírus da febre amarela em plantas. As novas técnicas visam ampliar a segurança do imunobiológico, o que significa que ele pode vir a ser ofertado aos grupos em que, hoje, a vacina não é recomendada (crianças, gestantes, idosos e imunodeprimidos) por oferecer baixo índice de reações ou eventos adversos aos pacientes.

 

 

Pavilhão Henrique Aragão, prédio modernista inaugurado na década de 1950 onde são fabricadas as vacinas antiamarílicas da Fundação Oswaldo Cruz, em Manguinhos. Imagem: Bruno Veiga.

Leia mais:

BENCHIMOL, Jaime Larry. Dos micróbios aos mosquitos: febre amarela e a revolução pausteriana no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz/UFRJ, 1999.

BENCHIMOL, Jaime Larry. Febre amarela: a doença e a vacina, uma história inacabada. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2001.

ARAGÃO, Henrique de Beaurepaire. Relatório a respeito de algumas pesquisas sobre a febre amarela. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, vol. 21(s2): 23-34, 1928. Disponível em: http://memorias-old.ioc.fiocruz.br/pdf/Tomo21/tomo21(s2)_23-34.pdf.

ARAGÃO, Henrique de Beaurepaire. Febre amarela experimental do Brasil. Brasil-Médico, v. 42, n. 30, p. 849-855, jul. 1929.

ARAGÃO, Henrique de Beaurepaire. Modernas aquisições sobre a febre amarela experimental. Arquivos de Higiene, v. 3, n. 2, p. 5-22, set. 1929.

ARAGÃO, Henrique de Beaurepaire. Sôro-vírus vacinação na febre amarela. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, vol. 25(f2): 213-219, 1931. Disponível em: http://memorias-old.ioc.fiocruz.br/pdf/Tomo25/tomo25(f2)_213-219.pdf.


Publicado em 8/8/2017

 

 

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