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Informativo do Núcleo de Estudos da Divulgação Científica do Museu da Vida Fiocruz      

Ano XXII - nº. 320. RJ, 4 de fevereiro de 2025.      

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O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), principal agência de fomento à pesquisa do Brasil, começou o ano provocando a sua comunidade de cientistas. No dia 14 de janeiro, divulgou texto em tom crítico sobre o movimento de ciência aberta, que costuma ser defendido pelos pesquisadores e instituições de pesquisa do país. O texto, assinado pelo presidente do CNPq, Ricardo Galvão, e sua diretora de Análise de Resultados e Soluções Digitais, Débora Peres Menezes, destaca dois pontos vistos por eles como entraves para a aplicação prática de uma ciência mais acessível no país. O primeiro é o alto custo das taxas de publicação de artigos cobradas por grandes (e milionárias) editoras – especialmente para torná-los abertos (acessíveis). O segundo é a falta de infraestrutura adequada no Brasil para compartilhar dados de pesquisa. Não demorou muito para receberem respostas – também em tom crítico. Uma carta aberta escrita por membros da Rede Brasileira de Reprodutibilidade e assinada por uma lista crescente de cientistas brasileiros () contesta as ressalvas do CNPq, enfatizando que, apesar das dificuldades apontadas, elas não deveriam impedir ações imediatas em favor da ciência aberta, um movimento reconhecidamente complexo e que tende a se estabelecer gradualmente – contando-se justamente com a proatividade de agências de fomento como o CNPq. A carta traz, inclusive, sugestões de medidas a serem tomadas pelo órgão, como a adoção de políticas de avaliação que não estimulem publicações em revistas pagas e a exigência de acesso aberto para artigos resultantes de financiamentos do CNPq. Segundo o documento, o Brasil investe cerca de 500 milhões de reais ao ano em assinaturas de periódicos para proporcionar o acesso de uma parcela restrita da população aos arquivos das editoras científicas – “uma solução mais excludente e menos sustentável do que qualquer modelo de acesso aberto”. Independentemente das críticas, de ambos os lados, este é um tema que merece amplo debate. Além dos desafios apontados nos textos, também é importante discutir, por exemplo – e talvez distribuir melhor – os custos e benefícios no que diz respeito especificamente ao compartilhamento de dados de pesquisa: quem é que paga para produzir e compartilhar esses dados e quem é que vai lucrar mais com o acesso a eles? Do ponto de vista da divulgação científica, vale ainda refletir se tornar acessíveis artigos científicos – que tendem a ser de difícil leitura para uma pessoa sem formação específica na área de que trata o artigo – é realmente democratizar e popularizar o conhecimento científico. Enfim... Este ano o Carnaval é só em março, mas o pré começou. No Rio de Janeiro, já tem ensaio técnico das escolas de samba na avenida e blocos ocupando os palcos e as ruas da cidade. E como já é de praxe, o Museu da Vida Fiocruz (MVF) está preparando uma programação especial para a festa. No dia 22 de fevereiro, o museu realiza o Quero+folia no campus da Fiocruz em Manguinhos. O evento terá atividades para todas as idades, incluindo cortejo, oficina de percussão, exposições e passeios de trenzinho. Leia mais sobre a folia no MVF nesta edição do Ciência & Sociedade e, se estiver no Rio, se prepare para pular com a gente! Este número também indica leituras sobre desinformação e mudanças climáticas que refletem sobre estratégias de comunicar esses temas e contribuir para seu enfrentamento. O boletim de fevereiro traz ainda oportunidades interessantes de bolsas para jornalistas e prêmio para museus. E para quem pretende participar do congresso da RedPOP este ano, que será em Puebla, no México, fica ligado porque o prazo para submissão de trabalho termina no dia 28 deste mês – mais informações na seção “Eventos”. Boa leitura!

  

Especial Desinformação

Percepções e práticas de jovens nigerianos sobre desinformação e Covid-19 – A circulação de conteúdo desinformativo em saúde é especialmente danoso, pois interfere na adesão de pessoas a tratamentos e ações de prevenção de doenças, gerando impactos negativos sobre políticas públicas sanitárias. No artigo “Perceptions and practices of young people regarding COVID-19 health misinformation and the underlying interdependencies”, publicado em janeiro na revista Cultures of Science, Chikezie Uzuegbunam analisa o consumo, a disseminação e o combate à desinformação sobre Covid-19 entre jovens adultos (18 a 30 anos) na Nigéria e suas relações com o contexto local urbano. Buscando entender como esses jovens compreenderam, negociaram e compartilharam desinformação sobre saúde, Uzuegbunam realizou, em dezembro de 2021, quatro grupos focais e oito entrevistas semiestruturadas, com um total de 33 participantes. Entre os resultados, o autor destaca que os principais disseminadores de desinformação naquele contexto incluíam o governo, políticos, blogueiros, influenciadores digitais e jornalistas. Ele também verificou que os participantes da pesquisa empregaram estratégias de verificação e correção de informações, como o ceticismo deliberado, a escuta social, a observação, a experiência pessoal e a checagem de fatos entre pares ou cidadãos. Uma rede de interdependências (fatores externos e características pessoais, como conhecimentos e crenças) foi fundamental para essas experiências, incluindo intermediários (inter)pessoais e culturais, religião, política, status socioeconômico, afetos e emoções, entre outros aspectos. Leia o artigo gratuitamente na íntegra aqui.

 

Leituras

(Des)informação em saúde na perspectiva das mediações – Esse é o título do livro lançado em dezembro de 2024 pela Editora Mauad e cuja proposta vai na contramão dos estudos sobre desinformação realizados no Brasil. Segundo seus autores – Igor Sacramento, Hully Falcão e Ana Carolina Monari –, os estudos sobre desinformação no país costumam centralizar suas análises na produção textual. Eles, por outro lado, apostaram numa abordagem teórico-metodológica que entrelaça a teoria das mediações com uma perspectiva antropológica, para compreender o fenômeno da desinformação sobre saúde em grupos antivacinação, sobretudo no Telegram. O livro tem 199 páginas e é dividido em seis capítulos: “Desinformação como um problema de saúde pública; A problemática da verdade no contexto contemporâneo”; “Mediações culturais e etnografia: uma proposta de estudo da (des)informação”; “Entrando no campo da desinformação científica em saúde e os limites da relativização”; “A autoridade da experiência: testemunhos e cismas sobre vacinas contra a covid-19”; e “Algumas reflexões éticas e metodológicas da pesquisa com divulgadores científicos: como se produz a divulgação científica”. A obra pode ser adquirida no site da Editora Mauad por R$ 52,11. Saiba mais aqui.

Rir (sobre mudanças climáticas) é a melhor estratégia? – Estudos sugerem que o uso do humor em atividades de divulgação científica (DC) tem o potencial de despertar o interesse do público e até promover mudanças de comportamento. Outros, no entanto, alertam para os seus potenciais riscos, como a banalização de questões relacionadas ao tópico abordado. É neste contexto que James Riley e Alexander Hall realizam o “Climate Change is NOT Funny!”, um projeto de engajamento público sobre mudanças climáticas feito em colaboração com pesquisadores e comediantes de stand-up que culminou em um evento ao vivo aberto ao público. Avaliar a eficácia da comédia como estratégia de DC sobre mudanças climáticas e, especialmente, refletir se o formato narrativo da comédia e o poder do riso seriam estratégicos para os indivíduos lidarem proativamente com os desafios em questão foram os principais objetivos da iniciativa. Baseados nas percepções do público (62 adultos) e dos cocriadores – m cientistas e artistas –, obtidas por meio de questionários, Riley e Hall argumentam que a abordagem pode ampliar o alcance das atividades de DC sobre o tema e fomentar comportamentos pró-ambientais. A dupla compartilha mais informações e reflexões no artigo “Climate change is (NOT) funny: insights from a climate change comedy event”, publicado na revista JCOM, disponível integralmente aqui.

Percepção sobre a ciência e seu impacto no jornalismo – A ciência vem passando por transformações, controvérsias e debates sobre temas como métricas de impacto da produção científica e, digamos, seu real impacto; ciência aberta; e integridade na pesquisa. Um grupo de pesquisadores acaba de publicar na revista Plos One um artigo que busca entender a percepção de 19 jornalistas – todos baseados nos Estados Unidos ou Reino Unido, mas de distintos veículos, como The Guardian, Wired, New York Times, Popular Science e IFLScience – sobre essas questões e como essas percepções podem fazer diferença no trabalho jornalístico. A análise das entrevistas semiestruturadas mostrou que as lógicas profissionais dos jornalistas são influenciadas pelos debates dentro da academia, porém, há uma variação grande de quão intimamente os entrevistados estavam envolvidos com esses debates, com alguns apresentando uma compreensão altamente crítica e matizada e outros, uma consciência mais limitada. Os autores afirmam que os jornalistas com uma melhor compreensão dos temas mencionados relatam examinar de perto a pesquisa que divulgam, o desenho do estudo, a metodologia e as análises feitas. Já aqueles com um envolvimento mais superficial no debate tendem a confiar mais no sistema de revisão por pares como um controle de qualidade e estão mais dispostos a transferir para os pesquisadores decisões sobre que pesquisa relatar e como enquadrá-las. O artigo “From impact metrics and open science to communicating research: Journalists’ awareness of academic controversies” pode ser acessado gratuitamente, em inglês, aqui.

 

Eventos

Folia no Museu da Vida Fiocruz – O pré-Carnaval no Rio de Janeiro começou e o Museu da Vida Fiocruz não vai ficar de fora. No dia 22, o museu realiza o Quero+folia no campus da Fiocruz, evento animado para todas as idades. A programação contará com 'Cortejinho por um dia', oficina de iniciação percussiva, exposições, passeios de trenzinho e muito mais. Salve a data e prepare a fantasia! Confira previamente a programação em: https://bit.ly/3Egzn6H.

Congresso RedPOP – Termina em 28/2 (às 21h, no horário da Cidade do México) o prazo de submissão de trabalhos para o XIX Congresso da RedPOP, que será realizado de 9 a 13 de setembro de 2025 em Puebla, México. São aceitas propostas nos formatos de apresentação individual, mesa-redonda, workshop pré-congresso e feira de ideias. Saiba mais no site.

 

Oportunidades

Minicurso online sobre desinformação nas plataformas – A Federação Nacional dos Jornalistas, em parceria com o projeto De Olho na Rede, promove o minicurso online “Desinformação e Plataformas – Como o Jornalismo Pode Enfrentar os Desafios”, que acontecerá em duas datas: 20/2, das 19h às 22h, e 22/2, das 9h às 12h. Os participantes poderão escolher a data mais conveniente. O curso será conduzido pela jornalista e especialista em tecnologia da informação e mídia digital Ivone Rocha, doutoranda em jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina. O curso custa R$ 15,00 (mais taxas) para sindicalizados e estudantes e R$ 30,00 (mais taxas) para não sindicalizados. Informações aqui.

NASW apoia jornalistas científicos – Desde 2010, a National Association of Science Writers (NASW) financia projetos com o objetivo de apoiar a carreira profissional de jornalistas científicos e o campo como um todo por meio do NASW Peggy Girshman Idea Grants. O programa incentiva a criatividade e a novidade, de modo que propostas de novos projetos, programas ou eventos ainda não apoiados têm maiores chances de serem selecionadas. As inscrições individuais ou de grupos, para subsídios de mil a 25 mil dólares, vão até 4/4, às 23h59 do Horário Padrão do Leste (EST Time). São aceitas inscrições de jornalistas, editores, freelancers, produtores, gerentes e outros profissionais da mídia. Candidatos estrangeiros são bem-vindos, mas suas propostas devem demonstrar os benefícios na área para jornalistas de ciência que moram nos EUA. Mais informações em aqui.

Bolsa de jornalismo na Universidade Oxford – O Reuters Institute for the Study of Journalism recebe inscrições até 13/2 de interessados em seu programa de pesquisa em jornalismo, com duração de três ou seis meses e início em outubro de 2025, janeiro de 2026 ou abril de 2026. Os candidatos devem ter pelo menos cinco anos de experiência em jornalismo e fluência em inglês. A maior parte das bolsas cobre os custos do programa, de moradia e de alimentação. Algumas bolsas envolvem requisitos específicos de organizações patrocinadoras parceiras. Informações aqui.

Últimas semanas para se candidatar ao Prêmio Ibermuseus de Educação – Museus públicos, privados sem fins lucrativos e de base comunitária de países da região ibero-americana têm até 27/2 para se inscrever na 13ª edição do Prêmio Ibermuseus de Educação. A iniciativa visa fortalecer a função social dos museus através do reconhecimento de projetos educativos. Neste ano, a premiação traz uma novidade: a oportunidade de apoio para projetos já consolidados que contemplem a possibilidade de novas etapas. Os museus interessados devem ser legalmente constituídos e com pelo menos dois anos de trajetória em projetos educativos com impacto territorial. Além disso, as propostas devem contemplar um ou mais dos oito eixos prioritários. Até 10 projetos educativos serão contemplados com prêmios de 5.000 euros cada um. Para mais informações, acesse aqui.

 

Tem uma sugestão de notinha para a próxima edição do boletim Ciência & Sociedade? Oba! Envie para o e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

 

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Ciência & Sociedade é o informativo eletrônico do Núcleo de Estudos da Divulgação Científica do Museu da Vida (Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz). Editores de Ciência & Sociedade: Carla Almeida e Marina Ramalho. Redatores: Luís Amorim e Rosicler Neves. Projeto gráfico: Barbara Mello. Informações, sugestões, comentários, críticas etc. são bem-vindos pelo endereço eletrônico <Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.>. Para se inscrever ou cancelar sua assinatura do Ciência & Sociedade, envie um e-mail para <Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.>.

* A seção Especial Desinformação é uma iniciativa do projeto “O desafio da desinformação em saúde: compreendendo a recepção para uma melhor divulgação científica”, contemplado pelo Programa Proep 2022, da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) e do CNPq.

 

Publicado em 04 de fevereiro de 2025.

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