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Informativo do Núcleo de Estudos da Divulgação Científica do Museu da Vida
Ano XXII - nº. 319. RJ, 10 de janeiro de 2025.
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Para quem acompanhou as notícias sobre o clima em 2024, tanto físicas quanto políticas, não surpreende que o ano tenha sido o mais quente já registrado no Brasil – pelo menos desde o início das medições, no começo dos anos 1860. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a média das temperaturas no país em 2024 atingiu 25,02°C, superando a média histórica de 1991-2020, que é 24,23°C. Já havíamos ultrapassado esse marco em 2023. Infelizmente, com os sucessivos fracassos das conferências das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas, não há indícios de que seremos capazes de interromper essa tendência de quebra anual de recordes de temperaturas. Para agravar a situação, a Meta acaba de comunicar ao mundo que está encerrando seus mecanismos de checagem de fatos, deixando os usuários a sua própria sorte – ou seria melhor azar? A ideia é que os próprios usuários avaliem as informações que circulam nas redes da empresa, por meio de ferramentas geridas pelas próprias plataformas. Nesse novo cenário, também caberá aos usuários acionar os tribunais para exigir a remoção de conteúdo ofensivo – e criminoso –, já que a Meta declarou que deixará de excluir de forma proativa posts homofóbicos, transfóbicos, xenófobos, entre outros similares. Além disso, as redes sociais da empresa, que em 2021 passaram a reduzir a exposição dos usuários a publicações de cunho ideológico e eleitoral, já começaram a mostrar conteúdo político de perfis não seguidos pelos usuários. Enfim, pelo que já sabemos empiricamente sobre a dinâmica das redes, não é difícil prever uma intensificação da circulação de fake news e da polarização política por meio delas. Mais do que uma decisão tecnológica, o anúncio de Mark Zuckerberg, salpicado de referências à censura e à liberdade de expressão, é uma clara sinalização de alinhamento com o novo governo Trump. Vale destacar que o comunicado da Meta incluiu recados diretos para o Brasil e outros países que buscam regular a atividade da empresa, sobretudo no que diz respeito à moderação de conteúdo. Mostrando que entendeu bem o recado, o presidente Lula reagiu dizendo achar grave que os responsáveis pela comunicação digital não queiram seguir regras como faz a imprensa escrita e que não permitirá que a soberania do país seja ferida. O Brasil não foi o único país a reagir. Mais de 150 entidades internacionais, incluindo universidades e institutos de pesquisa, já assinaram uma carta aberta contra o fim da checagem de fatos nas plataformas da Meta. Tamanha repercussão negativa pode levar a Meta a rever suas novas diretrizes, mas, da forma como se apresentam por ora, elas representam um enorme retrocesso no enfrentamento da desinformação e, indiretamente, da crise climática, além de ser uma grave ameaça à democracia. Navegando em sentido oposto, as Academias de Ciências, Engenharia e Medicina dos Estados Unidos abraçaram a árdua tarefa de organizar o volume enorme de dados que vêm sendo produzido sobre a desinformação em ciência e lançaram no fim de 2024 um relatório robusto sobre o tema, que, além de reunir evidências que ajudam a compreender o fenômeno, inclui uma série de recomendações para a sua prevenção e mitigação. Leia, nesta edição do Ciência & Sociedade, nota sobre o documento na seção “Especial Desinformação”. Ainda neste boletim, comentamos sobre o desenvolvimento de métodos mais eficientes para se medir a (des)confiança na ciência, divulgamos a programação de férias do Museu da Vida Fiocruz e recomendamos publicação e concurso que exploram a interface ciência-arte. Isso para mencionar apenas algumas das nossas dicas de leituras, ações, eventos e oportunidades em divulgação científica. Aproveitamos para desejar, apesar de todos os desafios à vista, um feliz 2025 a todas e todos e boa leitura!



Especial Desinformação

Documento reúne evidências sobre desinformação em ciências – A desinformação sobre assuntos que envolvem as ciências não é um problema novo, mas ampliou e se tornou mais complexo com as novas tecnologias de comunicação, tendo grande potencial danoso. Não à toa, pesquisas sobre o tema vêm se multiplicando e acumulando um volume enorme de dados que buscam explicar o fenômeno. No entanto, por esses estudos se originarem em áreas bem diversas e se concentrarem em contextos muito específicos, ainda é difícil traçar um panorama compreensível da desinformação sobre ciências. Reconhecendo essa dificuldade, um comitê formado por especialistas em diferentes campos, recrutados pelas Academias de Ciências, Engenharia e Medicina dos Estados Unidos, encarou o desafio de organizar o conhecimento produzido sobre o tema em um relatório que, além de apontar suas fontes, seus modos de disseminação e potencial de causar danos, traz recomendações para o seu enfrentamento. As evidências acumuladas indicam que a desinformação sobre ciências tem maior potencial de influência – e de causar danos – quando ela tem origem em fontes confiáveis, é disseminada por atores poderosos, atinge grandes públicos, é direcionada a grupos específicos ou é produzida de forma deliberada, personalizada e organizada, como no caso das campanhas da indústria do tabaco para lançar dúvidas sobre os riscos do tabagismo para a saúde. As recomendações envolvem esforços de diversos atores, incluindo autoridades políticas e científicas, órgãos reguladores, organizações governamentais e não governamentais e a mídia. A conclusão é de que todos têm papel relevante a desempenhar no enfrentamento da desinformação sobre ciências. E para desenvolver respostas políticas embasadas e ajudar indivíduos e comunidades a combater seus potenciais efeitos negativos, o comitê enfatiza a necessidade de mais pesquisas, sobretudo que ajudem a entender o fenômeno de forma mais sistêmica e como ele atinge populações vulnerabilizadas. Leia aqui o relatório completo em inglês.
 

Leituras

Panorama da DC no Brasil – Ações sistemáticas de divulgação científica (DC) no Brasil vêm ocorrendo há mais de um século, mas estudos sobre elas só tiveram início há algumas décadas. Apesar desse delay, desde então, o número de artigos publicados anualmente indica uma tendência de crescimento da produção nacional no campo. Buscando mapear como a DC foi abordada academicamente entre 2014 e 2021, pesquisadoras da Universidade Federal do ABC analisaram 51 artigos publicados em seis periódicos científicos nacionais, níveis A1 e A2 no sistema Qualis Periódicos do quadriênio vigente. Elas observaram que poucos artigos resultaram de parcerias entre instituições nacionais e estrangeiras, o que, na opinião das autoras, “reforça a importância de ações que aumentem as colaborações nessa região”. Por meio de análise qualitativa, as autoras criaram oito categorias que possibilitaram identificar o predomínio da utilização da DC em sala de aula, com exemplos de uso do teatro e do cinema como recursos didáticos. Esses e outros resultados estão no artigo “Enfoques e abordagens de artigos sobre divulgação científica publicados em periódicos brasileiros”, publicado na revista Educação e Pesquisa. Leia aqui o texto completo.

Confiar ou não confiar, eis a questão – A (des)confiança na ciência é um tópico recorrente no debate público e ganhou ainda mais atenção com a pandemia da Covid-19. Ela também é tema-chave da pesquisa em divulgação científica. Mas nem sempre é possível confiar nos dados por elas gerados. Como colocam os autores do artigo “The Public Trust in Science Scale: A Multilevel and Multidimensional Approach”, publicado na revista Science Communication, a maioria das pesquisas sobre o assunto utiliza um único item para medir a confiança na ciência, com uma gradação ao longo do tempo ou por meio de comparações entre países, ou ainda como uma variável dependente em regressões lineares. Desse modo, as pesquisas ainda seriam, segundo eles, implicitamente baseadas na suposição de déficit, ou seja, se concentrariam em alcançar a confiança plena (e potencialmente cega) da sociedade, em vez de reconhecer a pertinência de críticas legítimas e/ou do equilíbrio entre confiança e ceticismo em relação à ciência. Os autores propõem, então, após validações com enquetes realizadas na Alemanha, uma mensuração com cinco dimensões — expertise, integridade, benevolência, transparência e orientação ao diálogo –, sendo cada dimensão composta por três itens, no intuito de garantir um instrumento de pesquisa mais eficiente para medir a confiança pública na ciência. O artigo completo pode ser acessado aqui gratuitamente

Arte, insetos e mudança – A última edição de 2024 da Consilience, revista que celebra as interações entre ciência, poesia e artes visuais, é voltada aos insetos. Essas fascinantes criaturas, mais temidas do que amadas, são representadas em poemas e ilustrações que enfatizam sua beleza e complexidade, “das asas luminosas de uma libélula em voo à sabedoria enigmática dos besouros correndo pela vegetação rasteira”, destacam os editores. Juntas, as obras iluminam as particularidades da vida dos insetos e sua relação com a nossa. Cada trabalho artístico traz uma explicação sobre a ciência que o inspira, sobre os métodos utilizados e sobre o artista por trás dele. Em seu conjunto, visam despertar a curiosidade dos leitores pelo tema, aprofundar sua apreciação pelo mundo dos insetos e estimular a reflexão sobre o impacto das ações humanas nos ecossistemas que eles sustentam. Confira aqui o número completo. A primeira edição de 2025 já está em produção e abordará o tópico “Mudança”. A revista recebe submissões até 12/1, às 9h, horário de Brasília. Saiba mais.

 

Ações

Temporada de férias no MVF – O Museu da Vida Fiocruz (MVF) organizou uma programação especial para crianças e adultos aproveitarem as férias de janeiro e fevereiro. Para quem quiser conhecer detalhes curiosos da vida das borboletas e ficar pertinho desses insetos incríveis, a visita ao borboletário às terças, quintas, sextas e aos sábados, das 10h às 16h, é imperdível. Dúvidas sobre o que é verdade e o que é mentira sobre as vacinas serão discutidas na atividade Fato ou Fake na Ciência, nos dias 11/1 (sábado) e 18/2 (terça), às 11h e às 14h. Já nos dias 15/1 (quarta) e 23/1 (quinta), às 10h, ocorre a Caminhada Histórica, que apresenta o Castelo Mourisco, símbolo da Fiocruz, e discute a trajetória da fundação e o contexto de saúde pública do país. Exposições, oficinas com observações ao microscópio e apresentações teatrais são outras atrações programadas. O Museu da Vida Fiocruz fica na Av. Brasil, 4365 - Manguinhos, Rio de Janeiro. Na temporada de férias o funcionamento é de terça a sábado, das 10h às 16h. Confira aqui a programação completa e gratuita.

Apaixonados pelo céu, uni-vos! – Um esforço de cooperação internacional, liderado pelo Brasil e baseado nos princípios da ciência cidadã, buscará identificar diversos objetos astronômicos, utilizando imagens obtidas no âmbito do projeto Southern Photometric Local Universe Survey. A iniciativa, batizada de S-PLUS Science Hunters, é coordenada por Claudia Mendes de Oliveira, professora do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo, e está alocada na plataforma Zooniverse, um portal de pesquisa científica colaborativa. Para se juntar ao esforço, é preciso criar um perfil na plataforma e depois acessar o tutorial do S-PLUS Science Hunters.

 

Eventos

O diálogo entre artistas e universidades – O Centro Nacional de Intercâmbio Acadêmico e Cultural do Reino Unido promove no dia 22/1, às 12h30 (horário de Brasília), um café virtual gratuito sobre as interações entre artistas e universidades. O evento abordará projetos que incluem colaborações de pesquisa, engajamento público, troca de conhecimento e outras iniciativas desenvolvidas pela instituição. Para mais informações e inscrições, clique aqui.

Inscrições com descontos para o PCST – Estão abertas as inscrições para a próxima conferência internacional da rede Public Communication of Science and Technology (PCST), que acontecerá em Aberdeen, no Reino Unido, entre 27 e 29 de maio. Há valores promocionais para quem se inscrever até 31/1. Veja aqui mais informações.

 

Oportunidades

Prêmio de fotografia científica – O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, mais conhecido como CNPq, recebe inscrições para o Prêmio Fotografia Ciência & Arte, em duas categorias, até 10/2. Aberta a pesquisadores e estudantes de graduação e pós-graduação, a premiação visa premiar imagens produzidas no âmbito do trabalho científico. Os três primeiros colocados de cada categoria serão premiados com 15 mil reais (1º lugar), 10 mil reais (2º lugar) e 5 mil reais (3º lugar). Acesse aqui o edital e se inscreva.

Palestra sobre como palestrar em DC – Para quem está no Reino Unido, no dia 21/1, a New Scientist Live promove um evento gratuito com o tema “Impacto por meio do engajamento”. Na ocasião, o consultor Jamie Gallagher falará sobre como realizar palestras envolventes sobre tópicos científicos complicados, apresentar pesquisas de forma interessante e ter maior impacto na divulgação da ciência. Confira aqui mais informações e inscrições.


Tem uma sugestão de notinha para a próxima edição do boletim Ciência & Sociedade? Oba! Envie para o e-mail <Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.>. 

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Ciência & Sociedade é o informativo eletrônico do Núcleo de Estudos da Divulgação Científica do Museu da Vida (Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz). Editores de Ciência & Sociedade: Carla Almeida e Marina Ramalho. Redatores: Luís Amorim e Rosicler Neves. Projeto gráfico: Barbara Mello. Informações, sugestões, comentários, críticas etc. são bem-vindos pelo endereço eletrônico <Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.>. Para se inscrever ou cancelar sua assinatura do Ciência & Sociedade, envie um e-mail para <Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.>.        

*A seção Especial Desinformação é uma iniciativa do projeto “O desafio da desinformação em saúde: compreendendo a recepção para uma melhor divulgação científica”, contemplado pelo Programa Proep 2022, da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) e do CNPq.

 

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Funcionamento:  de terça a sexta, das 9h às 16h30; sábados, das 10h às 16h.

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