Por Teresa Santos
Estamos sem tempo. O nosso planeta não suporta mais a forma como o ser humano vive. É preciso agir de forma rápida e drástica. E o caminho da mudança passa pela mobilização social e pela educação ambiental. Essas são algumas das mensagens que ficam do Seminário 'Educação Ambiental e Mudanças Climáticas', realizado no dia 02 de dezembro no Auditório do Museu da Vida Fiocruz.
O evento, que marcou o lançamento do projeto 'Educação Ambiental e Popularização da Ciência em Territórios de Favelas (Maré e Manguinhos)', discutiu estratégias de enfrentamento às mudanças climáticas em regiões socialmente vulnerabilizadas a partir de ações educativas e divulgação de temas cientificos na perspectiva do meio ambiente. O Seminário contou com a participação de Alexandre Pessoa (Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio / Fiocruz), Gisele Moura (Rede Favela Sustentável) e TarcÍsio Motta (PSOL-RJ). A mediação foi de Alessandro Batista (Museu da Vida Fiocruz).
A atividade reuniu estudantes, entre eles, alunos do Colégio Estadual Professor Clóvis Monteiro, professores, ativistas de movimentos sociais e demais interessados na pauta climática.
Durante a mesa de abertura, Ana Carolina Gonzalez, chefe do Museu da Vida Fiocruz, destacou a importância de o Museu debater, refletir e agir acerca dos temas das mudanças climáticas e dos territórios socialmente vulnerabilizados. “Precisamos fortalecer laços para construir o mundo em que nós acreditamos”, ressaltou.
Também participaram da abertura do seminário Marcos José de Araújo Pinheiro, diretor da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), e José Leonídio Madureira de Sousa Santos, coordenador da Cooperação Social da Presidência da Fiocruz. Pinheiro defendeu que a mobilização social é uma estratégia “extremamente importante para o enfrentamento das mudanças climáticas”. Já Santos reforçou a necessidade de ter um diálogo “mais direto, igual e transparente com os movimentos sociais, com os territórios periféricos de favelas”. Também destacou a importância de conversar com os coletivos sobre a produção do conhecimento que pode interferir diretamente nas nossas vidas.
“A chuva cai pela cidade inteira, mas quem morre é a periferia”, alerta palestrante
Após a abertura, foi iniciada a mesa de debate. Durante apresentação, Alexandre Pessoa, engenheiro sanitarista e professor-pesquisador da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), lembrou que a responsabilidade da crise climática que vivemos não é de todas as pessoas. “A responsabilidade é de 1% da população que movimenta o capital. Elas não são muitas, mas definem a política mundial”, destacou.
De acordo com o professor, estamos enfrentando um problema muito grave, vivenciando colapsos ecológicos sucessivos e que, portanto, exigem medidas radicais. “A educação ambiental está completamente atrasada frente à emergência das mudanças climáticas”, destacou Pessoa. Ele acrescentou que o processo educativo precisa ser estruturado nos pilares do trabalho, natureza, afetos, linguagem e emancipação social.
A cientista ambiental Gisele Moura, coordenadora da Rede Favela Sustentável, apresentou a organização Comunidades Catalisadoras (ComCat), uma entidade sem fins lucrativos defensora de favelas, e os projetos RioOnWatch, Rede Favela Sustentável e Termo Territorial Coletivo.
Segundo Moura, a favela não tem tempo de esperar os políticos voltarem o olhar para seus territórios. “A gente resolve os nossos problemas”, destacou, lembrando que a própria população de territórios socialmente vulnerabilizados desenvolvem diversas iniciativas sustentáveis e baseadas na natureza de seus espaços, tais como tetos verdes, reciclagem, economia circular e hortas comunitárias. “A favela produz a todo tempo conhecimento”, afirmou. Moura elencou ainda várias conquistas da Rede Favela Sustentável, como a criação de um projeto de justiça climática, uma exposição sobre memória climática e um aplicativo que irá monitorar o acesso à água e luz em favelas.
Fechando as apresentações, Tarcísio Motta, deputado federal e professor de história, destacou que a educação ambiental tem um desafio ‘colossal’. “O capitalismo é inviável ecologicamente. Ele produz uma lógica expansionista. Enquanto continuarmos assim, não há futuro”, declarou, acrescentando que a parte boa é que o capitalismo não é imutável. “Educação ambiental é lutar contra o senso comum”, pontuou, explicando que o caminho é trabalhar com adaptação e mitigação.
Segundo Motta, os desastres não são naturais, são socioambientais. “O fenômeno climático extremo é uma manifestação extrema da natureza provocado pelas mudanças que o ser humano fez no mundo. Mas só se torna desastre quando o território não está pronto para enfrentá-lo”, afirmou. E acrescentou que outro ponto importante é o racismo ambiental. “A chuva cai sobre a cidade inteira, mas quem morre é a periferia, é a favela, é a população negra, favelada no Rio de Janeiro e em vários outros lugares”, ressaltou. Isso ocorre porque é nessa área que há ausência de infraestrutura. “Mortes são evitáveis”, destacou.
Guia reúne ações de cultura na Maré e Manguinhos
Durante o seminário, aconteceu ainda o lançamento do guia "Culturas e Territórios: um mapeamento das iniciativas de Maré e Manguinhos". A publicação, que já está disponível no site do Museu, é fruto de uma pesquisa desenvolvida pela educadora Clarice Ramiro, do Museu da Vida Fiocruz, realizada entre 2023 e 2024. Jovens graduandos da Maré e de Manguinhos também atuaram no estudo, mapeando os projetos e ações de cultura nas duas comunidades. Ao todo, o guia reúne 119 inciativas culturais. Segundo Alessandro Batista, coordenador do Serviço de Educação do Museu e mediador do seminário, o mapeamento pode subsidiar várias ações, inclusive de enfrentamento às mudanças climáticas no território, entendendo a cultura como um vetor para esse enfrentamento. Acesse e baixe aqui a publicação.
O Seminário 'Educação Ambiental e Mudanças Climáticas' faz parte das ações comemorativas dos 25 anos do Museu da Vida Fiocruz. O evento foi uma iniciativa do Museu da Vida Fiocruz, da Fiocruz, do Ministério da Cultura e do Governo Federal, com gestão cultural da Associação Amigos do Museu da Vida Fiocruz e SPCOC. Contou ainda com patrocínio das empresas Abbott, White Martins, XP Investimentos, IBMR, Dataprev, Icatu Seguros, Transegur, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e Secretaria Municipal de Cultura, por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura - Lei do ISS e Lei Federal de Incentivo à Cultura.
Publicado em 05 de dezembro de 2024.