Ir para o conteúdo
Crédito: Luana Ferreira

Você já ouviu falar em ex-líbris? Se você ama livros, vai adorar descobrir as histórias por trás deles! Ex-líbris são etiquetas ou selos usados para identificar o dono de um livro. Mas essas pequenas gravuras também carregam histórias, simbolismos e uma rica dose de arte. Vamos descobrir como essa tradição antiga vai além da marcação de propriedade, conhecendo o exemplo do ex-líbris de Oswaldo Cruz no Objeto em Foco de hoje, que celebra o nascimento do médico-sanitarista e o Dia Nacional da Saúde.

 

Ex-líbris também marca personalidade

Marcar a posse de cada livro é algo que se tornou uma tradição desde a Antiguidade, com várias funções e significados. Essas marcações deram origem a uma forma especial de arte chamada ex-líbris. A expressão latina "dos livros de" deu nome ao ex-líbris, que é uma etiqueta, selo ou marca usada para identificar o dono de um livro, ligando-o a uma pessoa ou instituição. Normalmente encontrados no verso da capa de um livro, os ex-líbris são estampas com brasões, figuras mitológicas, paisagens, elementos decorativos e até caricaturas, acompanhadas da expressão "Ex-libris", seguida do nome do proprietário.

Os ex-líbris não apenas identificam o dono, mas também frequentemente refletem sua personalidade, gostos e interesses por meio de símbolos, desenhos e frases utilizadas.

Muitos ex-líbris são verdadeiras obras de arte em miniatura, desenhadas por artistas renomados, refletindo estilos artísticos e características culturais distintas.

Assim, o ex-líbris pode ser entendido como uma forma de expressão artística e cultural que revela o gosto, a criatividade e o status social do proprietário.

A confecção e o uso de ex-líbris se expandiram da Europa para o restante do mundo a partir do século 13. No Brasil, os primeiros registros de seu uso surgem com mais força na virada do século 19 para o 20. Nessa época, não era incomum que intelectuais e personalidades brasileiras tivessem seus próprios ex-líbris e confiassem a confecção de suas marcas de propriedade a artistas estrangeiros... e com Oswaldo Cruz isso não foi diferente.

 

Conheça os 3 ex-líbris de Oswaldo Cruz

1-) Ex-líbris francês

Em 1911, Oswaldo encomendou à Stern Graveur, uma famosa casa de artes gráficas de Paris, na França, que criasse seu ex-líbris. Eles fizeram uma imagem cheia de simbolismos. O pesquisador Manuel Esteves, em um importante livro sobre ex-líbrismo no Brasil, destaca a importância histórica e artística da gravura abaixo.
 

Ex-líbris de Oswaldo Cruz. Crédito: Luana Ferreira/Acervo do Museu da Vida Fiocruz

Manuel Esteves destaca a figura de uma coruja ao centro do ex-líbris de Oswaldo Cruz, ave que simboliza a ciência. E completa: “Um pouco mais para fora, bem gravadas, vê-se estas palavras: ‘Fé Eterna Na Sciencia’ (Fé eterna na Ciência), palavras que estão dentro de um círculo formado por uma cobra. Esse círculo, se não estamos enganados,

deve ser a letra inicial do nome ‘Oswaldo’. Dentre uma bela ornamentação sobressai a Cruz de Cristo que domina todas as outras partes do ex-líbris. Desse modo, a ‘Cruz’, completa o nome do possuidor da vinheta. Terminando, no alto, estão as palavras ‘Ex Libris’, e embaixo o nome ‘O. G. Cruz’”.

A gravura foi feita com a técnica da xilografia, que é uma antiga forma de criação e impressão. Com ela, o artista grava na madeira a imagem que pretende reproduzir, criando assim uma matriz que possibilita diversas reproduções idênticas da imagem criada, seja sobre papel ou outro suporte adequado.

Com uma boa quantidade do seu belo ex-líbris em mão, Oswaldo Cruz marcou os livros da sua biblioteca.

Oswaldo Cruz morreu em 1917. Alguns anos depois, a sua biblioteca veio para o Instituto Oswaldo Cruz. Como havia acabado os ex-líbris originais e ainda existiam livros sem a marca de Oswaldo, o Instituto resolveu então criar uma edição brasileira do ex-líbris do cientista.

 

2-) Ex-líbris brasileiro em latim

Produzido em data incerta – provavelmente, entre os anos 1920 e 1940 –a versão nacional do ex-líbris de Oswaldo Cruz também foi feita pela técnica da xilografia e tentou manter ao máximo os traços da gravura original francesa, introduzindo alguns detalhes funcionais.

Veja abaixo o segundo ex-líbris de Oswaldo Cruz. Quais diferenças mais chamam atenção?
 

Edição brasileira latinizada do ex-líbris de Oswaldo Cruz. Crédito: Rodrigo Mexas/Acervo: Biblioteca de História das Ciências e da Saúde – Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz.

As diferenças que mais se destacam no ex-líbris brasileiro são a grafia em latim do nome – “O. G. CRUCIS” em vez de “O. G. CRUZ”. Além disso, o desenho da coruja ganhou orelhas e asas mais proeminentes e houve a criação de um espaço, acima da gravura, para anotação da localização do livro. Os dizeres “EST. N°” servem para indicar a estante, a prateleira e o número de ordem do livro.

Diferente do ex-líbris francês, que conta com a assinatura “STERN Gr. Paris”, o ex-líbris brasileiro não guarda nenhuma pista do artista que o elaborou.

 


3-) Ex-líbris brasileiro em português

Curiosamente, essa versão nacional do ex-líbris de Oswaldo Cruz conta com uma segunda edição, que apenas modificou o nome de Oswaldo Cruz para a sua versão original (sem latim) e acrescentou um detalhe gráfico após o nome.

Não se sabe quando ou porque houve essa mudança no ex-líbris brasileiro, mas o fato é que o uso dessa segunda edição foi maior e sua presença é mais comum nos livros oriundos da biblioteca de Oswaldo Cruz que, hoje, são preservados pela Fundação Oswaldo Cruz.

Segunda edição brasileira do ex-líbris de Oswaldo Cruz. Crédito: Rodrigo Mexas/Acervo: Biblioteca de História das Ciências e da Saúde – Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz.

A apuração das edições do ex-líbris brasileiro de Oswaldo Cruz só foi possível graças à pesquisa feita da matriz xilográfica da gravura, que hoje se encontra no acervo do Museu da Vida Fiocruz.

Segunda edição brasileira do ex-líbris de Oswaldo Cruz. Crédito: Rodrigo Mexas/Acervo: Biblioteca de História das Ciências e da Saúde – Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz.

Na peça é possível verificar a modificação feita no nome de Oswaldo Cruz, que alterou as letras “CIS” para “Z” e acrescentou um detalhe gráfico para preencher o espaço restante derivado da alteração. Dessa forma, essa matriz se tornou uma peça fundamental no estudo da proveniência do acervo bibliográfico da Fiocruz.


Informações técnicas dos objetos:

Fabricante: Desconhecido
Origem: Brasil
Época: [1920-1940]
Material: madeira
Dimensões: 8 x 6 x 2,5 cm
Procedência: Instituto Oswaldo Cruz

Referência na Base Museu: https://basemuseu.coc.fiocruz.br/inweb/ficha.aspx?id=1667&ns=216000&Lang=BR

Fontes:
SOUSA, Alexandre Medeiros Correia de et al. (org.). Catálogo Marcas de Oswaldo Cruz: proveniência, propriedade e circulação no Patrimônio Cultural Científico da Fiocruz. Rio de Janeiro: Fiocruz/ICICT, 2023. 116 p. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/63123

Créditos:
SOUSA, Alexandre Medeiros Correia de; NOGUEIRA, Inês Santos. Objeto em Foco: Matriz do ex-líbris de Oswaldo Cruz. In: Museu da Vida Fiocruz. Publicado em 5 de ago. de 2024.

Objeto em Foco é um produto de divulgação do acervo museológico sob a coordenação de Inês Santos Nogueira, Serviço de Museologia - Museu da Vida Fiocruz.

Link para o site Invivo
link para o site do explorador mirim
link para o site brasiliana

Funcionamento:  de terça a sexta, das 9h às 16h30; sábados, das 10h às 16h.

Fiocruz: Av. Brasil, 4365, Manguinhos, Rio de Janeiro. CEP: 21040-900

Contato: museudavida@fiocruz.br | (21) 3865-2128

Assessoria de imprensa: divulgacao@fiocruz.br

Copyright © Museu da vida | Casa de Oswaldo Cruz | Fiocruz

conheça