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Informativo do Núcleo de Estudos da Divulgação Científica do Museu da Vida
Ano XXII - nº. 306. RJ, 8 de dezembro de 2023.      

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A divulgação científica perdeu esta semana um dos seus mais importantes e entusiasmados representantes no país, o físico Ennio Candotti. Italiano de nascimento, Ennio se mudou com a família para o Brasil ainda criança e aqui se formou físico, foi professor, cofundou as revistas Ciência Hoje e Ciência Hoje das Crianças, presidiu a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) por quatro mandatos, criou e dirigiu o Museu da Amazônia (Musa) até sua morte, para citar apenas alguns de seus feitos mais relevantes na defesa da democracia e da ciência no Brasil e de sua conexão com a sociedade. Ennio foi um dos cinco brasileiros que receberam o Prêmio Kalinga para a Popularização da Ciência, conferido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) por habilidades excepcionais na divulgação científica. Na SBPC, foi um dos que estimulou a maior presença das ciências humanas numa época em que a entidade era composta sobretudo por nomes das ciências médicas, química, física e matemática. Por coincidência (ou não), o atual presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro, acaba de ser eleito membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), cujos membros, a maioria homem, ainda representam majoritariamente as ciências exatas e naturais. Professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), Renato, que já foi ministro da Educação do Governo Dilma, é o primeiro filósofo a integrar a ABC. Se há motivos para comemorar nas humanidades, no setor ambiental, o clima é outro. O Senado aprovou no fim de novembro o projeto que flexibiliza regras de aprovação, registro e comercialização de agrotóxicos no país, não à toa apelidado de PL do Veneno e muito criticado pelos ambientalistas. Agora resta a sanção ou o veto do presidente Lula, que saiu da COP-28 – a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que acontece em Dubai até o dia 12/12 – falando da liderança que o Brasil exerce no debate sobre e no enfrentamento das mudanças climáticas. Lula falou em renovação energética e em revolução econômica a partir da bioeconomia. Pode parecer contraditório, mas... Falando em mudanças climáticas, acabam de ser divulgados os resultados de uma enquete de percepção dos brasileiros sobre o tema. Confira alguns dos principais dados na seção de Leituras desta edição do Ciência & Sociedade – spoiler: a grande maioria se preocupa com as mudanças climáticas e já sente seus efeitos. Leia também neste número do boletim notas sobre pesquisa que analisa narrativas pseudofactuais acerca da Covid-19 que circularam no Governo Bolsonaro e embasaram medidas concretas por ele tomadas, novo aplicativo criado pela Fiocruz Pernambuco para estimular o engajamento da população no controle das arboviroses, nova newsletter com conteúdo de divulgação científica feminista e interseccional, bolsas para capacitação de jornalistas de ciência, entre outras dicas de leituras, eventos e oportunidades no campo da divulgação científica. Descanse em paz, Ennio. Você fará muita falta. 

 

Especial Desinformação 

 

Narrativas pseudofactuais que levam a ações reais – A Covid-19, além de provocar milhões de adoecimentos e mortes em todo o mundo, reforçou como o excesso de informações que circulam e a dificuldade que os indivíduos têm de encontrar fontes idôneas e orientações confiáveis constituem importantes desafios no contexto atual de crises. Uma forma de enfrentar esse desafio é compreender melhor o fenômeno da infodemia, o que diversos pesquisadores estão buscando fazer. Dentro desse esforço, pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Saúde Global e Sustentabilidade (PPG-SGS) da Universidade de São Paulo (USP) analisaram as narrativas disseminadas pelo chamado “gabinete paralelo” na tentativa de identificar quais enquadramentos foram acionados por ele e, assim, buscar compreender suas intersecções com as políticas públicas adotadas e negligenciadas pelo Governo Bolsonaro na pandemia. Ao se debruçarem sobre três documentos – o Relatório Final da CPI da Pandemia (2021), a Linha do tempo da estratégia federal de disseminação da Covid-19 (2021) e a Linha do tempo de eventos diários da pandemia (2023) –, os pesquisadores identificaram 30 narrativas mobilizadas pelo “gabinete paralelo”, agrupadas em seis enquadramentos principais – “Teorias da conspiração”, “Tratamento precoce”, “Só uma gripezinha”, “Ataque à liberdade”, “Imunidade de rebanho” e “Brasil não pode parar” –, e as ações políticas e omissões do Governo Bolsonaro por eles suportadas. Os pesquisadores sustentam que, ao optar por uma abordagem clínica alinhada com premissas do neoliberalismo, o “gabinete paralelo” não mobilizou narrativas científicas em disputa, mas lançou mão de narrativas pseudofactuais e muitas vezes negacionistas, “confundindo a população, embaralhando discursos, influenciando e endossando as decisões tomadas pelo Governo Federal”. O estudo é um capítulo do livro As múltiplas dimensões da crise de Covid-19: perspectivas críticas da Saúde Global e Sustentabilidade, iniciativa do PPG-SGS/USP e está disponível aqui.

 

Leituras 

Percepção dos brasileiros sobre mudanças climáticas – Num ano marcado por chuvas intensas e alagamentos no sul do país e calor recorde em outras regiões, a grande maioria da população brasileira se diz preocupada com as mudanças climáticas (cerca de 80%) e percebe que, com o passar do tempo, os eventos climáticos extremos estão ficando mais frequentes e intensos (71%). Os dados são da pesquisa “Natureza e Cidades: a relação dos brasileiros com a mudança climática”, realizada pela Fundação Grupo Boticário, com apoio da Unesco no Brasil, da Associação Nacional de Municípios e Meio Ambiente e da Aliança Bioconexão Urbana. O levantamento ouviu duas mil pessoas com idades de 18 a 64 anos, de ambos os sexos e de todas as classes sociais, nas cinco regiões do país. A sensação de já ter sido impactado ou ter tido um parente impactado diretamente por fenômenos climáticos extremos toca um a cada três brasileiros, sendo que a população que se sente mais impactada diretamente é a da Região Sul (45%), seguida por Sudeste (36%), Norte (34%), Centro-Oeste (32%) e Nordeste (29%). A pesquisa destaca ainda que quatro entre dez entrevistados percebem que as mudanças climáticas impactam diferentemente ricos e pobres, assim como atingem países também de forma distinta. O objetivo era lançar a pesquisa completa durante a COP 28, porém ela ainda não aparece na íntegra nos sites das organizações coordenadoras. Mais informações.

 

Para apoiar a DC nas instituições de pesquisa – Práticas de divulgação científica (DC) são capazes de gerar uma série de benefícios para a sociedade, as instituições científicas e seus pesquisadores. Ganhos para a sociedade incluem combater desinformação e tornar a ciência acessível a diversas comunidades. Vantagens para instituições abrangem construir reputação, aumentar a empregabilidade dos alunos e tornar-se conhecidas como instituições cívicas envolvidas e responsivas. Benefícios para os pesquisadores incluem oferecer novas perspectivas sobre seu trabalho e maior visibilidade entre financiadores, políticos e outras audiências. Assim, o apoio de instituições acadêmicas e de pesquisa para ações de DC é fundamental e requer comprometimento, bem como investimento e políticas que as incentivem. Mas como colocar em prática tais ações? Um grupo de estudiosos, educadores e profissionais da divulgação científica que atuam em instituições acadêmicas e de pesquisa – reunidos em setembro de 2023 em simpósio da Rede de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (PCST) – elaborou uma declaração em que apontam as formas mais importantes de apoio institucional a práticas de DC e detalham diferentes maneiras de operacionalizá-las. Acesse o documento aqui.  

 

Ações 

Aplicativo busca engajar população no controle das arboviroses – Segundo o Ministério da Saúde, foram registrados no Brasil mais de 1,6 milhão de casos de dengue, mais de 141 mil casos de Chikungunya e mais de 7 mil casos de zika – todas transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti – entre janeiro e novembro deste ano. Identificar, mapear e eliminar criadouros do A. aegypti são ações fundamentais para o controle das arboviroses, que exigem um esforço conjunto da população, dos profissionais de saúde e dos gestores. Para estimular a participação da população, a Fiocruz Pernambuco acaba de lançar o aplicativo “Você agente”, ferramenta que funciona como um jogo no qual o usuário adquire pontos ao alcançar determinadas metas e evolui o seu avatar. Além de lúdico, o App permite que os usuários insiram informações sobre focos de proliferação do A. aegypti, monitorem a situação epidemiológica do seu território por meio de um mapa e acessem informações confiáveis, tudo em tempo real. Conheça e baixe o App.

 

Divulgação científica feminista e interseccional – Diversos estudos já mostraram que, dentre as imagens de cientistas que circulam nas mídias, a maioria é de homem. Parece até que existem poucas cientistas mulheres no mundo – ou que o que elas produzem não é relevante. Mas isso não é realidade. Há muitas mulheres fazendo ciência de qualidade por aí. Para dar visibilidade ao trabalho delas, a organização sem fins lucrativos AzMina lançou em novembro a newsletter Olha o que ela fez! com conteúdo de divulgação científica feminista e interseccional, que fala de ciência feita por mulheres. As edições são temáticas e saem na primeira quarta-feira de cada mês. Há também perfis de pesquisadoras bem-sucedidas em seus campos de estudo (e como elas fizeram para chegar aonde estão). Além de ser uma forma de reconhecimento, o intuito é ser um estímulo para meninas e mulheres que buscam esse caminho. Para assinar a newsletter, acesse

 

Eventos 

Do laboratório para o telão – Se você sempre quis transformar a sua pesquisa em um filme, mas não sabe nem por onde começar, esse webinar é para você! Às 8h (horário de Brasília) do dia 12/12, Peter Tom Jones, do Instituto KU Leuven para Metais e Minerais Sustentáveis, e Frank Moens, diretor do Festival de Cinema Documentário DOCVILLE em Leuven, compartilharão suas experiências no ramo e darão dicas de como se inserir nele. O webinar é gratuito. Mais informações

 

EGU recebe trabalhos para sessão de Ciência e Arte – Membros da União Europeia das Geociências (EGU, na sigla em inglês) têm até o dia 10/12 para submeter propostas para a Assembleia Geral EGU, a ser realizada de 14 a 19 de abril de 2024, em Viena (Áustria). A sessão "Scientists, artists and the Earth: cooperating for the planet", que busca enfocar o engajamento emocional, recebe trabalhos realizados em cooperação entre cientistas e artistas. Interessados devem submeter um resumo de 100 a 500 palavras e pagar uma taxa no valor de 50 euros. Mais informações.

 

Oportunidades 

Inscrições abertas para Especialização em Divulgação e Popularização da Ciência – Com 20 vagas, sendo 13 de ampla concorrência e sete para ações afirmativas, e sem cobrança de taxa (nem na inscrição e nem para o curso), as inscrições podem ser feitas até 12/1/2024, pela plataforma Siga, sendo recomendável a utilização do navegador Internet Explorer (Edge). O público-alvo do curso é amplo, englobando todos os interessados em estudar interfaces entre ciência e sociedade. Mais informações.

 

Masterclasses de jornalismo científico – Procurando dicas de como melhorar sua atuação no jornalismo científico? As masterclasses da Open Notebook, gratuitas, podem ser um bom caminho. Preparadas por Emily Laber-Warren, que dirige o programa de Reportagem de Saúde e Ciência da Craig Newmark Graduate School of Journalism da City University of New York, as aulas incluem orientações sobre como propor e desenvolver ideias para matérias impactantes, como identificar entusiasmo excessivo e desinformação no meio científico, entre outros meandros da profissão. Mais informações.

 

Bolsas para jornalistas de ciência – Dois programas de capacitação em jornalismo científico estão abertos à candidatura. Um é o Logan Science Journalism Program, que oferece a jornalistas científicos, escritores e editores a oportunidade de mergulhar a fundo em pesquisas biomédicas ou ambientais. O prazo para submissão é 25/1/2024, aqui. O outro é o Knight Science Journalism Program, do MIT, que todos os anos oferece bolsas a 10 jornalistas científicos de todo o mundo, dando-lhes a oportunidade de explorar a ciência, a tecnologia e a arte do jornalismo e concentrar-se em uma especialidade em ciências. O prazo para submissão é 15/1/2024, aqui.

 

 

Tem uma sugestão de notinha para a próxima edição do boletim Ciência & Sociedade? Oba! Envie para o e-mail <Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.>. 


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Ciência & Sociedade é o informativo eletrônico do Núcleo de Estudos da Divulgação Científica do Museu da Vida (Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz). Editores de Ciência & Sociedade: Carla Almeida e Marina Ramalho. Redatores: Luís Amorim e Rosicler Neves. Projeto gráfico: Barbara Mello. Informações, sugestões, comentários, críticas etc. são bem-vindos pelo endereço eletrônico <Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.>. Para se inscrever ou cancelar sua assinatura do Ciência & Sociedade, envie um e-mail para <Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.>.        

     

* A seção Especial Desinformação é uma iniciativa do projeto “O desafio da desinformação em saúde: compreendendo a recepção para uma melhor divulgação científica”, contemplado pelo Programa Proep 2022, da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) e do CNPq.

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