Ir para o conteúdo


Informativo do Núcleo de Estudos da Divulgação Científica do Museu da Vida 
Ano XXII - nº. 302. RJ, 8 de agosto de 2023.      

---------------------------------------------------------- 

Como anunciamos aqui na última edição do boletim, aconteceu de 10 a 16 de julho, no Museu da Vida Fiocruz, o 18º Congresso da RedPOP. O evento, que é o maior encontro de divulgação científica da América Latina, contou com 698 inscritos e 543 propostas aprovadas nas diferentes modalidades de participação, que incluíram minicursos, mesas-redondas, apresentações individuais, feira de ideias e intervenções artísticas e científicas. Mas uma percepção geral é de que o sucesso dessa edição está além dos números. A diversidade e a qualidade dos trabalhos apresentados e dos debates realizados indicam um amadurecimento significativo do campo. Além disso, a volta do encontro presencial teve um sabor especial. As pessoas estavam visivelmente felizes de estarem juntas novamente, o que possivelmente fortaleceu laços e fez crescer um sentimento de pertencimento na comunidade de divulgadores. O próximo congresso da RedPOP será em Puebla, no México, em 2025 – fica a dica! Em julho também foi lançado o livro Que bobagem! pseudociências e outros absurdos que não merecem ser levados a sério, da microbiologista Natália Pasternak e do jornalista Carlos Orsi. Se o objetivo era polemizar, os autores conseguiram. O livro, que coloca no mesmo saco acupuntura, homeopatia e psicanálise, taxando tudo de pseudociência, incomodou não apenas representantes das áreas acusadas, mas um público bastante diverso – de cientistas, divulgadores e profissionais de perfis variados –, que viu na obra um cientificismo dogmático e criticou o tom autoritário dos autores. Anos de estudos no campo da divulgação científica sugerem o quão ineficiente e danoso pode ser esse cientificismo dogmático e o tom autoritário comumente praticado por cientistas e divulgadores. Além de se embasar em dados, a divulgação científica também é politicamente orientada. A equipe deste boletim não só se baseia nas evidências que o campo vem produzindo, como também opta por uma divulgação científica de mão dupla, que escuta, dialoga e busca promover, com base em princípios democráticos, a cultura e a cidadania científica. E, nesse sentido, vê com bons olhos o debate suscitado pela publicação dessa obra, mas indica, neste boletim, a leitura de outra: Como dialogar com quem não quer ouvir? No caminho inverso ao de Pasternak e Orsi, a publicação traz uma série de reflexões e dicas sobre a arte do diálogo difícil. Este número do Ciência & Sociedade também traz indicações de leituras de outros temas quentes, como antivacinação e assédio na divulgação científica, além de dicas de exposição, podcast, eventos e oportunidades no campo. Bom proveito!


Especial Desinformação

Como dialogar com quem não quer ouvir? – O título do livro lançado pela Academia das Ciências de Lisboa ilustra um dos maiores desafios da atualidade, marcada pela desinformação e polarização política. Na obra, o “não querer ouvir” se refere ao “não querer saber”, no sentido de que um indivíduo pode até falar, mas nada predispõe seu interlocutor a acreditar naquilo que será dito, pois “aquele que tem crenças diferentes ver-lhe-á negada, nesses casos, qualquer tipo de credibilidade epistémica”. Disponibilizado recentemente na internet, o livro possui oito capítulos, escritos por filósofos, cientistas (das ciências naturais e sociais), jornalistas e comunicadores de ciência, com reflexões interdisciplinares para tentar compreender fenômenos como as notícias falsas, as teorias da conspiração, a crise da democracia ou as crenças associadas ao negacionismo da ciência. Já na introdução, seus editores relembram dicas de outros autores para a arte do diálogo difícil, como ‘’fale menos e escute mais”, “construa a relação”, “não pregue a sua verdade” ou “saiba quando parar”. Apontam, ainda, técnicas para tentar mudar a opinião alheia: admita as falhas do seu próprio ponto de vista e a existência de extremistas “do seu lado” e busque compreender o outro e não o culpar. Ficam as dicas para os divulgadores científicos, sobretudo aqueles que falam “que bobagem!” para as crenças dos outros. O livro Como Dialogar Com Quem Não Quer Ouvir: para lá da polarização e da desinformação é resultado do Seminário de Jovens Cientistas da Academia das Ciências de Lisboa e pode ser acessado aqui.

 

Leituras

Antivacinação: novos e velhos contextos – Ainda que tenha conquistado os holofotes no contexto da pandemia, o discurso antivacinação já mobilizava o grupo “O Lado Obscuro das Vacinas” no Facebook. Em artigo publicado na revista Famecos, “O lado obscuro da antivacinação: análise de um grupo brasileiro antivacina no Facebook”, Larissa Machado Vieira e Douglas Farias Cordeiro buscam entender a desinformação através da mineração de dados de 5.433 publicações desse grupo, feitas entre 2015 e 2019. A análise mostra uma presença importante dos termos “criança”, “pais” e “pessoa”, indicando que, no grupo, muitos usuários, ao abordarem a questão da não vacinação, referem-se a crenças cultivadas no contexto familiar ou em outras relações interpessoais. Além disso, destaca-se a recorrência dos termos “sarampo” e “autismo” em todos os anos examinados. Os resultados revelam um arcabouço de crenças e emoções condizentes com um cenário de pós-verdade e a reverberação de desinformações fomentadas ainda na década de 1990. O artigo está disponível aqui na íntegra, em inglês.

Divulgação científica sem assédio – O assédio moral, assim como o sexual, não é um comportamento isolado em nossa socie­dade e cultura e nem se restringe a espaços profissionais, ainda que esteja mais comumente presente onde há relações de poder. Em 2017, o movimento #MeToo enxurrou as redes sociais de relatos de assédio, após a exposição de inúmeras alegações de abuso sexual contra o produtor de cinema Harvey Weinstein. Desde então, as denúncias de assédio, moral e sexual, abundam, não apenas no meio cultural, mas em todos os ambientes, incluindo na academia e na divulgação científica. Foi justamente a partir de uma denúncia de assédio, feita num grupo privado de divulgadores que atuavam no Twitter, que se idealizou a campanha coletiva #DCSemAssedio. Lançada em 22 de março de 2021 no próprio Twitter, a campanha registrou quase 100 tweets ou threads, expondo muitos relatos de assédios virtuais no meio. Por acontecer fora do espaço institucional de trabalho, este tipo de assédio é ainda mais difícil de combater. Em “#DCSEMASSEDIO: Debatendo assédio moral e sexual em espaços de ciência e Divulgação científica”, divulgadores diretamente envolvidos na campanha contam sua história e analisam seu resultado. O texto é um capítulo da publicação Corpo, gênero e sexualidade: Memórias, lutas e insurgências nas educações, disponível aqui.

 

Ações

Exposição celebra centenário da Rádio Sociedade – Em 1923, a Academia Brasileira de Ciências criava uma das primeiras emissoras radiofônicas do mundo, a Rádio Sociedade. Com programação diversificada, para atender públicos variados, inclusive o infantil, a rádio desempenhou papel pioneiro na divulgação científica no Brasil, tendo sido visitada pelo físico Albert Einstein e dirigida pelo educador e antropólogo Edgard Roquette-Pinto. Para marcar o centenário da sua fundação, a Casa da Ciência, centro cultural da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) inaugura em 15/8 a exposição “Rádio Sociedade: 100 anos de rádio no Brasil”. Dividida em oito sessões, compostas por imagens e objetos históricos, a mostra é uma viagem pela história da rádio, com atividades educativas e interativas. Fica em cartaz até 8/10. A Casa da Ciência fica na Rua Lauro Müller, 3, em Botafogo, no Rio de Janeiro. Recebe visitas de terça a sexta, das 9h às 20h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 17h. Informações e agendamento em: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

Influenciadores digitais: o que comem? Do que vivem? – Quando se fala em influenciadores digitais, sobretudo na área de saúde, o tom, em geral, é de preocupação e crítica. De fato, ver pessoas sem formação em áreas relacionadas à saúde orientando o comportamento de milhares de pessoas sobre, por exemplo, alimentação e exercícios físicos, acende o alerta. No entanto, os influenciadores digitais desempenham papel relevante na sociedade e há quem se dedique mais a compreendê-los do que a criticá-los. Issaaf Karhawi, doutora em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, pesquisa desde 2014 a cultura dos influenciadores digitais no Brasil. Em entrevista concedida ao podcast Observatório Canal Saúde, da Fiocruz, a especialista fala sobre a profissionalização dos influenciadores no país. Filhos da cultura participativa, vivem hoje de parcerias comerciais e buscam treinamentos e estratégias diversas para se tornarem de fato influentes. No entanto, segundo Karhawi, ainda enfrentam muitos desafios, como o trabalho precarizado, as mudanças abruptas na dinâmica das redes e o funcionamento dos algoritmos, “que punem e penalizam”. Para ouvir o episódio na íntegra, acesse.

 

Eventos

Acessibilidade em museus – As inscrições estão abertas para participação na 50ª conferência anual do CIMUSET, o comitê internacional do ICOM para museus de ciências e tecnologia. O evento vai acontecer de 23 a 27/10, no Museu Nacional da Aviação da Coreia, em Seul, e terá como tema central a acessibilidade em museus. Mais informações e inscrições aqui.

PCST 2024 já recebe trabalhos – Além da reunião bianual, já anunciada para maio de 2025 em Aberdeen, a rede PCST organizará outros simpósios internacionais. Um deles acontece de 10 a 14/4 de 2024, na cidade de Zacatecas, no México, com o tema central “Ampliando o espectro da discussão: novas vozes, novos saberes”. As inscrições de trabalhos estão abertas até 23/9. Mais informações.

Melhores práticas em jornalismo científico – Acontece de 23 a 26/10, em formato virtual, a 4ª edição do Fórum de Jornalismo Científico, com o tema central “Jornalismo científico: buscando as melhores práticas”. O evento está organizado em cinco idiomas – inglês, árabe, espanhol, português e francês – e recebe propostas de especialistas e entusiastas do campo que queiram participar como palestrantes. Mais informações.

 

Oportunidades

Oficina para comunicadores populares – O Museu da Vida Fiocruz está com inscrições abertas até 13/8 para a “Oficina de Jornalismo de Ciência e Saúde para Comunicadores Populares”. O curso, exclusivo para profissionais de comunicação de favelas e periferias do Rio e região metropolitana, ocorre em 19/8, das 9h às 14h. O curso vai oferecer alimentação, ajuda de custo para transporte e certificado de participação. Inscrições aqui.

Mestrado em divulgação científica – Estão abertas, até 25/9, as inscrições para a seleção da próxima turma do Mestrado em Divulgação da Ciência, Tecnologia e Saúde (Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz). Com 15 vagas disponíveis, o curso possui três linhas de pesquisa: Cultura científica e sociedade; Educação, comunicação e mediação; e Estudos de público/audiência. Confira o cronograma e os documentos necessários no edital.


Tem uma sugestão de notinha para a próxima edição do boletim Ciência & Sociedade? Oba! Envie para o e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 

Ciência & Sociedade é o informativo eletrônico do Núcleo de Estudos da Divulgação Científica do Museu da Vida (Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz). Editores de Ciência & Sociedade: Carla Almeida e Marina Ramalho. Redatores: Luís Amorim e Rosicler Neves. Projeto gráfico: Barbara Mello. Informações, sugestões, comentários, críticas etc. são bem-vindos pelo endereço eletrônico Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.. Para se inscrever ou cancelar sua assinatura do Ciência & Sociedade, envie um e-mail para Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..        

     * A seção Especial Desinformação é uma iniciativa do projeto “O desafio da desinformação em saúde: compreendendo a recepção para uma melhor divulgação científica”, contemplado pelo Programa Proep 2022, da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) e do CNPq.

 
Link para o site Invivo
link para o site do explorador mirim
link para o site brasiliana

Funcionamento:  de terça a sexta, das 9h às 16h30; sábados, das 10h às 16h.

Fiocruz: Av. Brasil, 4365, Manguinhos, Rio de Janeiro. CEP: 21040-900

Contato: museudavida@fiocruz.br | (21) 3865-2128

Assessoria de imprensa: divulgacao@fiocruz.br

Copyright © Museu da vida | Casa de Oswaldo Cruz | Fiocruz

conheça