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Por Carlos Pinho

Painel sobre Ciência, desinformação e polarização mobilizou o debate da RedPOP2023. Crédito: RedPOP2023

O avanço da desinformação no Brasil e no mundo e a busca de soluções para o seu enfrentamento foram os destaques na programação do XVIII Congresso RedPOP na quinta-feira (13), quarto e último dia das atividades acadêmicas na Fiocruz. Uma semana de muitas atividades, trocas e aprendizado. A programação teve início às 9h com os painéis “Ciência, desinformação e polarização”, no Museu da Vida Fiocruz, e “Políticas de Divulgação Científica”, no auditório de Bio-Manguinhos. Na sequência, diversas feiras de ideias, apresentações individuais, mesas simultâneas, homenagens, premiações e festa.

Desinformação x Divulgação Científica: desafios e caminhos
O auditório do Museu da Vida Fiocruz recebeu o painel “Ciência, desinformação e polarização” com as participações de António Gomes da Costa (Instituto Gulbenkian de Ciência), Yurij Castelfranchi (UFMG), Thaiane Oliveira (UFF) e Theo Ruprecht (Ciência Suja), e mediação de Maria Eugenia Fazio.

Por meio de vídeo, o português António Gomes da Costa expôs alguns fatores que fortaleceram a desinformação nos últimos anos e mostrando que esse processo, adaptado a diferentes contextos, é longo e atravessa séculos. No caso da tentativa de se descredibilizar a ciência, ele pontuou que há uma incompreensão sobre o seu funcionamento. Não fazemos comunicação de ciência sobre modos científicos, mas de fatos científicos.

Para Yurij Castelfranchi, desinformação não é o contrário de falta de informação. Uma controvérsia pode ser construída para gerar desconfiança. A ignorância não é a causa do problema, mas resultado desse esforço dos fabricantes de mentira. Ele apresentou dados da pesquisa do INCT-CPCT sobre o índice de confiança dos brasileiros na ciência e nas vacinas, que aponta que a desinformação depende principalmente de fatores éticos e pessoais, não de acesso à informação. Ser negacionista não tem a ver com falta de conhecimento, mas com negar o conhecimento. (...) O contrário de desinformação é participação. Temos que reconstruir a confiança.

A professora Thaiane Oliveira falou da disputa narrativa no ambiente digital e da grande dependência informacional dos conteúdos compartilhados nas grandes plataformas digitais. Essas mediações algorítmicas criam espacos homofílicos. (...) Não há interesse das plataformas em combater esse regime porque elas lucram com isso.

Já o jornalista Theo Ruprecht relatou a sua experiência na produção do podcast Ciência Suja, que apresenta histórias de fraudes científicas e seus prejuízos para a sociedade. Um dos episódios compartilhados foi sobre a vacinação de HPV no Acre e os bastidores dessa apuração, quando foram vítimas de lawfare (ações legais instauradas com o intuito de intimidar um oponente). Ele também falou da importância do trabalho em rede com outras organizações para manter o projeto.

 

Políticas de divulgação científica foi o tema de outro painel da programação. Crédito: REDPOP2023

O painel sobre “Políticas de Divulgação Científica”, no auditório de Bio-Manguinhos, recebeu especialistas do Brasil, Uruguai, México, Peru e Colômbia. Ernesto Polcuch, diretor regional da Unesco em Montevidéu, apresentou ações da Unesco em prol da abertura do conhecimento. “Chegar a uma definição sobre ciência aberta permitirá fazer políticas públicas mais consistentes”.

Sobre a experiência no México, Julia Tagüena Parga, da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), falou, em participação virtual, que a profissionalização e o financiamento da ciência e promoção de igualdade de gênero são alguns dos maiores desafios no seu país. Contudo, Ernesto Márquez Nerey, da Sociedade Mexicana para Divulgação da Ciência e Tecnologia, contou que está surgindo uma rede para fortalecer o cenário de divulgação científica local.

Por vídeo, Myra Flores, do Conselho Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação Tecnológica do Peru, elencou as ações que estão transformando o cenário da promoção científica no país, como um concurso com 425 mil estudantes. Também de forma virtual, Ângela Bonilla Ramirez, do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação da Colômbia, falou sobre a importância da democratização da ciência a partir da reconhecida experiência colombiana com a política pública de apropriação social da ciência. Sigrid Falla, do Centro de Experiência Maloka, na Colômbia, também participou da sessão.

Juanna Nunes, diretora do Departamento de Popularização da Ciência, Tecnologia e Educação Científica do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), detacou a importância de institucionalizar programas e ações, formando uma rede para a popularização da ciência com estados, municípios e sociedade civil. Ciência e tecnologia têm que estar a serviço da melhoria da qualidade de vida da sociedade brasileira. (...) Queremos que esse processo seja de todos, todas e todes.

O mediador do painel, Ildeu Moreira, físico e professor da Universidade Federal do Rio de  Janeiro (UFRJ), ressaltou a importância do conhecimento compartilhado durante o Congresso RedPOP reverberar para além do evento.

Saúde em pauta: método, ação e comunicação
Na sequência da programação, o Congresso RedPOP contou com diversas exposições na Feira de Ideias, apresentações individuais e mesas simultâneas. Destaque para trabalhos relacionados à difusão de informações para diferentes comunidades e métodos para ampliar o acesso à saúde.
 

Feira de ideias foi um espaço de troca entre congressistas. Crédito: REDPOP2023


Um dos trabalhos apresentados na Feira de Ideias foi o “Projeto Arte & Saúde: uma experiência de produção em ciência e arte para o público infantil”, de Luciana Sales da Cruz, Bianca Santos Silva Reis, Suzi Santos de Aguiar, Carmem Evelyn Rodrigues Mourão, realizado pelo Grupo de Estudos e Ações Educativas para o Público Infantil (GEAEPI) - Museu da Vida Fiocruz. Lançado durante a pandemia, o objetivo do projeto pe propiciar ao público infantil vivências lúdicas e interativas sobre o cuidado com o seu próprio corpo e conceito ampliado de saúde.

Já entre as mesas simultâneas realizadas no dia, “La comunicación de la ciencia y la salud ante emergencias sanitarias: análisis de la comunicación gubernamental implementada en países iberoamericanos ante su primer contagio local por COVID-19” comparou os processos de comunicação governamental das primeiras normas adotadas diante da emergência sanitária e as campanhas informativas implementadas em oito países ibero-americanos (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Espanha, México e Panamá). A mesa, realizada no auditório de Bio-Manguinhos, contou com as participações de Margoth Mena Young, Ana Almansa Martínez, Daisy Margarit Segura, Diana Caho Rodríguez, Griselda Guillén Ojeda, María Aparecida Ferrari, Sandra Murriello e Lina Lay Mendivil.

Dia de homenagens, novidade e celebração
A cerimônia de encerramento das atividades acadêmicas na Fiocruz foi marcada por homenagens emocionantes a nomes importantes da DC e na trajetória da RedPOP que faleceram recentemente, prêmios e confraternização. Foram homenageados o físico brasileiro Ernst W. Hamburger (1933-2018), o físico mexicano Jorge Flores Valdés (1941-2020), a educadora argentina Roxana Giamello (1961-2021) e a uruguaia Nelsa Botinelli Capuccio (1941-2022), integrante ativa da RedPOP ao longo de 30 anos.
 

Premiados pela RedPOP2023: Jorge Padilla e Martha Cambre. Crédito: REDPOP


Na premiação, o engenheiro químico Jorge Padilla, presidente da Sociedade Mexicana para a Divulgação da Ciência e Tecnologia (Somedicyt), ganhou o prêmio individual de especialista. Já o Espacio Ciencia, o centro interativo de ciências do Laboratório Tecnológico do Uruguai, recebeu o prêmio institucional, e foi representado por Martha Cambre, sua diretora.

Miliana Fernandes, chefe do Serviço de Apoio à Operação, Infraestrutura e Gestão da Fiocruz e integrante da comissão diretora do XVIII Congresso RedPOP, falou sobre a experiência de desenvolvimento desta edição ao longo de um ano e meio. "Fizemos um projeto de gestão
marcado pelo afeto, inclusivo, compartilhado, democrático, trabalhoso, mas igualmente mais engajador e ativador de compromissos profundos com cada entrega e resultado.

A semana na Fiocruz contou com mais de 650 pessoas credenciadas, mais de 500 trabalhos aprovados, mais de 80 voluntários, 15 voluntários em acessibilidade, 21 mesas gravadas para disponibilização pelo Youtube, 10 roteiros de visitas técnicas, mais de 30 horas de legendagem em tempo real, mais de 40 horas de traduções em libras e mais de 40 horas em audiodescrição.

Ao final do cerimonial, foi anunciada a sede do XIX Congresso RedPOP: a cidade de Puebla, no México.

Para encerrar essa grande maratona do saber, foi realizada uma festa tipicamente julina, com comidas típicas do período e muita música e dança. O clima festivo continua no final de semana, quando teremos atividades lúdicas e recreativas – sempre relacionadas à divulgação da ciência – na Quinta da Boa Vista, das 9h às 16h. Não perca!
 

Público do auditório do Museu da Vida Fiocruz aplaude o fim das atividades acadêmica do Congresso. Crédito: REDPOP2023



Publicado em 14 de julho de 2023.

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