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Créditos: Flavia Braga / Museu da Vida Fiocruz

 

No mês de abril, é celebrado o Dia Mundial da Doença de Chagas (14/04). Esta enfermidade é endêmica em algumas regiões do Brasil. Mas você sabe que doença é esta? O que é necessário para seu diagnóstico?

Nas últimas décadas, uma das formas possíveis e eficazes para diagnosticar a doença de Chagas surgiu com o uso do conjunto diagnóstico que vamos conhecer agora no Objeto em Foco.

 

O que é doença de Chagas?

A doença de Chagas, descoberta em 1909, é uma parasitose causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi. Esse parasita é transmitido ao homem por um inseto conhecido popularmente pelos nomes de barbeiro, chupão, procotó e outros.

Triatomíneo, ou barbeiro, inseto transmissor do Trypanosoma cruzi. Créditos: Fiocruz Imagens

A transmissão ocorre principalmente por via sanguínea. Em zonas rurais, a doença é geralmente transmitida a partir do contato com fezes do barbeiro. Enquanto o inseto suga o sangue, deposita suas fezes sobre a pele da pessoa. Como a picada provoca coceira, facilita a entrada do Trypanosoma cruzi no organismo. Isso também pode ocorrer pela mucosa dos olhos, do nariz e da boca ou por feridas e cortes recentes na pele.

Esta doença é frequente em algumas regiões da América Central e da América do Sul. No Brasil, a ocorrência dessa enfermidade é particularmente elevada em estados como Minas Gerais, Goiás, Rio Grande do Sul, Bahia e Piauí.

 

O que é um teste diagnóstico?

O teste diagnóstico é exame utilizado para identificar a presença de parasitos, bactérias ou mesmo vírus causadores de doenças no sangue. Quando alguma substância estranha entra no nosso corpo (antígeno) e ele entende como uma ameaça, inicia-se um processo de defesa. O sistema imune começa a produzir proteínas específicas (anticorpos) que irão combater os antígenos. Nosso corpo produz um anticorpo específico para combater cada antígeno.

Desta forma, a partir de uma amostra de sangue, o conjunto diagnóstico é capaz de apresentar o resultado utilizando reagentes específicos para a identificação de cada doença. Ele é capaz de informar a presença ou ausência de anticorpo no sangue.

 

Teste diagnóstico do T-cruzi

A jornada pela criação de um meio para facilitar o diagnóstico precoce da doença de Chagas é bastante antiga. O primeiro a desenvolver um teste para a detecção da infecção pelo Trypanosoma cruzi foi o pesquisador Guerreiro Machado, em 1913. Depois disso, diversos outros estudos e tentativas foram sendo elaborados no último século.

O conjunto diagnóstico presente no acervo do Museu da Vida Fiocruz funciona pelo método de Hemaglutinação Passiva ou Indireta (HAI). Este kit contém uma placa de microtitulação e soros com reagentes que indicam a presença de anticorpos relacionados à doença no sangue do paciente.

A reação por hemaglutinação passiva baseia-se na aglutinação das hemácias sensibilizadas pelo antígeno T-cruzi em presença de soro que contém anticorpos contra esse parasita.

 

Representação esquemática de uma HAI. Na etapa 1, adiciona-se o reagente que contém o anticorpo anti T-cruzi. Na etapa 2, adiciona-se as hemácias sensibilizadas com o antígeno T-cruzi. Por fim, na etapa 3, a reação antígeno-anticorpo é visualizada pela aglutinação das hemácias. Fonte: Ministério da Saúde, 1998.

 

O conjunto diagnóstico começou a ser produzido nos anos 1980 por Bio-Manguinhos, unidade técnico-científica da Fiocruz. Foi organizado neste período um laboratório dedicado ao desenvolvimento e produção de reagentes para diagnóstico, com o objetivo de padronizar a produção de reagentes e de kits diagnóstico.

A implantação do laboratório possibilitou o desenvolvimento de tecnologias, economia com a substituição de produtos importados e a melhoria dos instrumentos de diagnóstico. O núcleo de desenvolvimento de antígenos e produção de kits diagnósticos para a doença de Chagas baseou-se nas atividades de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e produção. O teste por hemaglutinação passiva foi desenvolvido integralmente por técnicos da instituição.

O teste era positivo quando mostrava um depósito de hemácias em forma de tapete no fundo da cavidade da placa. Eram considerados não reagentes os testes que apresentavam um formato de botão bem definido ou de formato irregular. O resultado saía em duas horas, um bom período de tempo para os padrões da época.

Representação da reação de HAI. Fonte: Ministério da Saúde, 1998


Como são os testes hoje?

Atualmente, existe uma diversidade de testes que são aplicados conforme a necessidade e especificidade de cada caso. Em versões mais modernas, o teste por hemaglutinação indireta é muito utilizado na identificação das formas agudas e crônicas da doença. Outros testes sorológicos muito utilizados são o de Imunofluorescência Indireta e o Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay (ELISA).

Mas hoje existem outros de grande complexidade, como o teste molecular, utilizando Polymerase Chain Reaction (PCR). Este último é capaz de capaz de identificar a presença da doença a partir de fragmentos de DNA, sendo indicado para controle do desenvolvimento do paciente após o tratamento antiparasitário.


Informações técnicas do objeto:
Materiais: vidro / metal/ papel/ isopor/ reagente
Dimensões: 6,5 x 10,5 x 11 cm
Fabricante: Bio-Manguinhos
Origem: Brasil
Data: [1990-1992]
Procedência: Biomanguinhos


Fontes:
CASA DE OSWALDO CRUZ. Departamento de Arquivo e Documentação. Fundo Presidência. Série Secretaria de Presidência.

MEDEIRO, Maurício Zuma. Reagentes para diagnóstico; estratégias para a produção e desenvolvimento em Bio-Manguinhos. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2004.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Doença de Chagas – Triagem e diagnóstico sorológico em unidades hemoterápicas e laboratórios de saúde público. Brasília: Ministério da Saúde, Coordenação Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids. 1998. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cd07_08.pdf

FIOCRUZ. Portal da Doença de Chagas. Disponível em: http://chagas.fiocruz.br/


Créditos:
Objeto em Foco é um produto de divulgação do acervo museológico sob a coordenação de Inês Santos Nogueira e Pedro Paulo Soares
Serviço de Museologia - Museu da Vida Fiocruz


Publicado em 25 de abril de 2023.

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