Informativo do Núcleo de Estudos da Divulgação Científica do Museu da Vida
Ano XXII - nº. 297. RJ, 7 de março de 2023.
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Em 11 de fevereiro, comemora-se o Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência. Em 8 de março, o Dia Internacional das Mulheres. Felizmente, as questões de gênero têm conquistado espaço cada vez maior na divulgação científica e, naturalmente, iniciativas relacionadas ao tema abundam nesta época do ano. Neste boletim, também dedicamos especial atenção ao tema: divulgamos um estudo que buscou compreender como a vivência de jovens mulheres que participavam de projetos orientados por equidade de gênero na educação em ciências, tecnologias, engenharias e matemática (STEM) influencia sua percepção sobre pertencimento nas áreas científicas; um evento da Capes, no próprio dia 8, que vai debater o papel da mulher no ambiente acadêmico e seus desafios; e, por fim, uma oportunidade de bolsa para mulheres cursarem mestrado em áreas científicas em universidades britânicas. No boletim passado, comentamos aqui a situação delicada em que se encontrava o Espaço Ciência, em Pernambuco. Pois parece que ela piorou. O museu está fechado no momento, oficialmente para manutenção, em função das chuvas que atingiram a região recentemente. No entanto, há uma insegurança sobre a sua reabertura. Já o Museu Nacional deu um passo importante no que diz respeito à restauração da sua sede no Rio de Janeiro, destruída por um incêndio ocorrido em 2018. O recém-empossado presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Leandro Grass, visitou o museu em fevereiro e anunciou que passará a integrar o Comitê Executivo do Projeto Museu Nacional Vive, dedicado à reconstrução das instalações do museu e à recuperação de parte do seu acervo. A previsão é de que as obras sejam concluídas em 2027. Mas quem quiser adentrar o Museu Nacional neste momento, de uma forma mais estética e sensorial, pode assistir à peça Museu Nacional – todas as vozes do fogo, em cartaz no Rio de Janeiro. Confira essas e outras dicas de ações, leituras, eventos e oportunidades na área de divulgação científica em mais este número do Ciência & Sociedade. Boa leitura!
Especial Desinformação
Compartilhar, compartilhar... essa é a solução!? – Apesar de algumas ações incipientes, o fato é que as empresas responsáveis pelas maiores redes sociais virtuais não têm feito o esforço necessário para combater a desinformação. Para piorar, o próprio modelo de operação delas, de compartilhamento de conteúdo, já parece ser, por si só, um problema para o julgamento da credibilidade da informação. Em estudo recém-publicado na revista Science Advances, pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) buscaram responder se o simples fato de considerar o compartilhamento de notícias nas redes sociais já reduz a preocupação e a capacidade de discernir o verdadeiro do falso. Para isso, realizaram um experimento online com 3.157 estadunidenses, que foram expostos a notícias políticas e sobre Covid-19. Os participantes foram divididos em três grupos: no primeiro, pedia-se a eles para simplesmente avaliarem se cada manchete era precisa; no segundo, era preciso indicar se eles compartilhariam cada manchete nas redes sociais e como avaliariam a precisão da manchete. Um terceiro grupo era questionado apenas sobre a possibilidade de compartilhamento. Os dados mostraram que os participantes foram piores em discernir o verdadeiro do falso se avaliassem a precisão da manchete e também indicassem suas intenções de compartilhamento, em comparação com apenas avaliar a sua precisão. Segundo os pesquisadores, os “resultados sugerem que as pessoas podem ser particularmente vulneráveis a acreditar em falsas afirmações nas mídias sociais, uma vez que o compartilhamento é um elemento central do que torna as mídias sociais ‘sociais’”. A íntegra do artigo (The social media context interferes with truth discernment) está disponível aqui.
Leituras
Por equidade de gênero nas ciências – A dificuldade de acesso de jovens mulheres à universidade e à ciência pode se dar antes mesmo do despertar de interesse por uma área científica: muitas dessas jovens sequer se enxergam como indivíduos capazes de pertencer a esses ambientes. Assim, são necessárias estratégias que trabalhem autoestima, autoconfiança e empoderamento nesse público. Em estudo publicado em fevereiro na Cultural Studies of Science Education, pesquisadoras buscaram identificar percepções, motivações e experiências de jovens mulheres que participavam de projetos orientados por equidade de gênero na educação em ciências, tecnologias, engenharias e matemática (STEM), desenvolvidos em escolas públicas do estado do Rio de Janeiro. A pergunta que orientou a pesquisa foi: de que forma a vivência nos projetos influencia a autopercepção das jovens sobre pertencimento nas áreas científicas? Após a aplicação de questionários e a realização de entrevistas e grupos focais com as jovens, as pesquisadoras afirmam que os projetos se tornaram ‘contra-espaços’, nos quais mulheres que estão à margem encontram locais de resistência e de possibilidades, ao se sentirem incluídas e pertencentes. Solicite gratuitamente o artigo “Informal science learning experiences for gender equity, inclusion and belonging in STEM through a feminist intersectional lens”.
Ciência-teatro via Zoom – Embora a transmissão de espetáculos teatrais não seja algo novo, ela deslanchou com a pandemia de Covid-19, sendo uma alternativa ao teatro tradicional, inviabilizado no contexto pandêmico em que o isolamento físico era a regra. Existem várias formas de assistir a peças de teatro e cada uma delas repercute diretamente na experiência do espectador. Em artigo publicado no periódico Participations, os autores analisam a experiência de espectadores que assistiram à peça The Time Machine, adaptada de H. G. Wells e produzida pela companhia de teatro britânica Creation Theatre, via Zoom. Por ser apresentada de forma síncrona, com possibilidade de interação mediada por tecnologia, os espectadores relataram um sentimento de estar participando ao vivo de uma experiência coletiva, uma característica essencial do teatro. Por outro lado, alguns se incomodaram com o fato de a câmera direcionar seus olhares e outros se sentiram invadidos ao serem vistos em suas casas. De todo modo, o estudo sugere oportunidades de usar tecnologias como o Zoom para ampliar e diversificar os públicos dos espetáculos, como aqueles impossibilitados de frequentar os teatros devido a barreiras físicas, financeiras ou psicológicas. O artigo “Theatre through Zoom: Audience responses to The Time Machine” está disponível aqui.
Olhares sobre a ciência cidadã – A ciência cidadã tem um conceito amplo e abrange vários modelos nos quais voluntários sem formação em pesquisa trabalham em colaboração com cientistas para responder perguntas do mundo real. Na Europa, Estados Unidos e Austrália, já se configura como um campo de pesquisa e prática em amplo crescimento. No Brasil, iniciativas de ciência cidadã vêm ganhando cada vez mais espaço e atraindo a atenção das agências de fomento. O artigo “A ciência em parceria com o público”, capa da edição de janeiro da revista Pesquisa FAPESP, traz exemplos de iniciativas brasileiras e trechos de entrevistas de pesquisadores com experiência em realizar e/ou estudar projetos de ciência cidadã. O texto destaca inúmeros benefícios da prática: a produção de conhecimentos que não poderiam ser gerados sem a colaboração da população; o engajamento público com a ciência; o estímulo ao pensamento crítico; o combate à desinformação científica; e a produção de dados para a criação de políticas públicas. Entretanto, aponta que existem limitações e questões que demandam reflexão, como a dificuldade em manter a colaboração dos voluntários e o nível de envolvimento dos participantes, pois muitas vezes ainda se restringe à coleta de dados. Leia o texto completo e ouça as entrevistas clicando aqui.
Ações
Ebook aborda a dengue da perspectiva das favelas e periferias – O sistema de monitoramento de arboviroses InfoDengue, uma parceria entre a Fiocruz e a Fundação Getúlio Vargas, acaba de lançar o e-book interativo Enfrentando a dengue nas favelas e periferias. Voltado para a população dos locais mais vulneráveis ao clima e desastres ambientais, o material discute as implicações da globalização na disseminação das doenças transmissíveis e a relação entre as mudanças climáticas e a dengue em territórios periféricos. Dicas para combater os criadouros do mosquito Aedes aegypti – transmissor da dengue, zika, chikungunya e febre amarela – e mitigar as mudanças climáticas convidam à ação. A obra também destaca como os jovens podem fazer a diferença em suas comunidades ao receberem formação para o enfrentamento de doenças transmissíveis. Confira.
Do fogo ao palco – Enquanto o Museu Nacional se mobiliza para a restauração da sua sede na Quinta da Boa Vista, destruída por um incêndio em 2018, a histórica instituição vira protagonista no palco do Teatro Riachuelo, no Rio de Janeiro, entre 30/3 e 30/4. Museu Nacional – todas as vozes do fogo, com a companhia Barca dos Corações Partidos, partiu do trágico incêndio para criar um espetáculo que discute a forma como o Brasil cultiva, armazena e conserva sua memória. É um mergulho imaginativo e lírico, em múltiplas camadas de passado, para refletir sobre o presente imediato e o futuro que estamos construindo. O espetáculo é escrito e dirigido por Vinicius Calderoni, com direção musical de Alfredo Del-Penho e Beto Lemos e idealização e direção de produção de Andréa Alves. Mais informações e ingressos.
Eventos
II Encontro Brasileiro de Divulgadores de Ciência – Com o mote “Ciência, comunicação e política - motores de mudança na sociedade”, a 2ª edição do encontro já tem data e local: será realizado presencialmente de 8 a 10/9 no Instituto Principia, em São Paulo, e terá transmissão simultânea on-line pelo canal do Instituto no YouTube. Mais informações sobre a programação, em breve aqui.
Avaliação da divulgação científica em pauta – Acontece no dia 14/3, às 12h (horário de Bruxelas), o webinar “The impact of Science Communication”. O evento é organizado por especialistas do IMPACTLAB, projeto que investiga formas de medir o impacto da divulgação científica, e tem por objetivo discutir metodologias de avaliação das atividades de engajamento público e divulgação da ciência. Inscrições gratuitas.
Participação feminina na ciência – A Capes realiza em 8/3, o Dia Internacional das Mulheres, o evento “Educação: palavra feminina”, com a participação das professoras Tânia Mara de Almeida, da Universidade de Brasília (UnB), e Letícia de Oliveira, da Universidade Federal Fluminense (UFF). A atividade começa às 16h e poderá ser acompanhada pelo canal da agência no YouTube.
Oportunidades
Premiação para o jornalismo científico – Estão abertas até 5/5 as inscrições para o Prêmio José Reis de Divulgação Científica e Tecnológica, edição 2023, que neste ano contemplará jornalistas. A premiação inclui o montante de R$ 20 mil, diploma, passagem aérea e hospedagem para participação na cerimônia de entrega do prêmio na 75ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, que acontece em julho. Informações aqui.
Prêmio para a divulgação científica latina – Estão abertas as candidaturas para o Prêmio Latino-americano de Popularização da Ciência e Tecnologia de 2023, concedido pela RedPop em duas categorias: centros ou programas em atividade há pelo menos três anos e especialistas que atuam no campo há pelo menos uma década. O prazo para candidatura é 24/4. Informações aqui.
Bolsas para mulheres na ciência – O British Council está oferecendo bolsas de mestrado para mulheres em programas de ciências de 19 universidades do Reino Unido. Elas são para o ano acadêmico de setembro/outubro de 2023-2024. No dia 16/3, às 19h, haverá um webinar sobre o programa (gratuito, mas com vagas limitadas). Mais informações sobre o programa e o webinar.
Tem uma sugestão de notinha para a próxima edição do boletim Ciência & Sociedade? Oba! Envie para o e-mail <Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.>.
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Ciência & Sociedade é o informativo eletrônico do Núcleo de Estudos da Divulgação Científica do Museu da Vida (Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz). Editores de Ciência & Sociedade: Carla Almeida e Marina Ramalho. Redatores: Luís Amorim e Rosicler Neves. Projeto gráfico: Barbara Mello. Informações, sugestões, comentários, críticas etc. são bem-vindos pelo endereço eletrônico nedc@fiocruz.br. Para se inscrever ou cancelar sua assinatura do Ciência & Sociedade, envie um e-mail para nedc@fiocruz.br.
* A seção Especial Desinformação é uma iniciativa do projeto “O desafio da desinformação em saúde: compreendendo a recepção para uma melhor divulgação científica”, contemplado pelo Programa Proep 2022, da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) e do CNPq.