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Ano XXII - nº. 295. RJ, 5 de janeiro de 2023.
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Mais um ano se inicia. Mas sabemos muito bem que não é um início de ano qualquer. 2023 é ano de recomeçar, de renovar as esperanças, de recolocar a casa – no caso, o Brasil, e em especial a ciência brasileira – em ordem. Nesse sentido, começamos ressaltando a competência dos nomes à frente de ministérios relevantes para a reconstrução do setor. Como um boletim do Museu da Vida Fiocruz, vibramos com a posse da nossa ex-presidente, Nísia Trindade, como ministra da Saúde. Primeira mulher a ocupar o cargo, Nísia participou da criação do Museu e sempre se posicionou em defesa do SUS. Para completar o time de mulheres liderando ministérios afins, temos Luciana Santos com a pasta da Ciência, Tecnologia e Inovações – que já prometeu reajustar as bolsas de estudo e pesquisa – e Marina Silva comandando mais uma vez o Meio Ambiente. E com o Ministério da Educação nas mãos de Camilo Santana, já podemos começar a recuperar o fôlego. Por outro lado, sabemos também que um desafio enorme nos aguarda. Vivemos num país fortemente polarizado, onde negacionismos de toda sorte ganham terreno. Mas talvez ajude começarmos com uma dose de otimismo. Nesse ano novo tão cheio de significados, o boletim Ciência & Sociedade também chega com algumas novidades, como este textinho de abertura e com um convite para que vocês, leitores, nos enviem sugestões de notas. Nosso intuito é aumentar o diálogo entre nós. Por aqui, trataremos de comentar acontecimentos relevantes para o campo da divulgação científica e adiantar parte do conteúdo do boletim, para tentar aguçar seu interesse. Neste número, trazemos uma nota em homenagem a Bruno Latour, um dos maiores pensadores dos estudos sociais da ciência e tecnologia, que nos deixou no fim do ano passado; comentamos pesquisas que investigam a relação das fake news com a política e a acessibilidade em museus de ciências no Brasil; comemoramos a inauguração do SESI Lab, novo centro de ciências interativo de Brasília; além de darmos dicas de podcasts – para ouvir e produzir –, eventos e oportunidades em divulgação científica. Desejamos a você um feliz 2023 e uma boa leitura! 

Especial Desinformação 

Fake news e/é política – Com a rápida proliferação de estudos e publicações sobre as fake news, está difícil se manter atualizado no debate acadêmico sobre o tema. Nesse sentido, chega em boa hora o artigo “Fake News e o Repertório Contemporâneo de Ação Política”, recém-publicado pela Revista Dados. Trata-se de uma revisão de literatura, com quase 100 referências, que aborda desde as definições do termo até as suas consequências, passando pelos fatores que explicariam a onipresença das fake news na discussão política contemporânea. O artigo também traz uma análise dos casos recorrentemente explorados na literatura, que coloca em xeque os supostos “antídotos” e soluções propostos para lidar com o fenômeno. Os autores destacam que a agenda de estudos sobre fake news, em suas várias frentes, aponta a forte relação entre mentiras e a política contemporânea. Assim, chamam a atenção para “a necessidade de pensar a mobilização das fake news como parte das performances entendidas como disponíveis por atores diversos em face de adversários políticos”, ou seja, como parte do repertório atual de confronto político. Pontos importantes da questão são destrinchados no texto até a defesa final de que contradizer “fake news específicas e educar cidadãos para lidar com mídias digitais podem ser ações paliativas inevitáveis, mas permanecem como ações paliativas que não enfrentam o cerne das questões geradoras do cenário de desinformação em que nos encontramos”. Para os autores, um enfrentamento adequado do fenômeno requer tanto o fortalecimento democrático quanto “a revitalização pública de terrenos comuns capazes de enfrentar a crise epistêmica”. O artigo na íntegra pode ser lido aqui.

Homenagem 

Despedindo de Latour – Em outubro do ano passado, mais precisamente no dia 9, perdemos um dos maiores pensadores do que chamamos no Brasil de estudos sociais da ciência e tecnologia (com algumas variações): Bruno Latour morreu aos 75 anos de um câncer. Mais filósofo para uns, mais antropólogo para outros, Latour foi um dos primeiros e mais argutos investigadores da produção dos fatos científicos, ou da “ciência em ação”, como intitulou um dos seus livros mais conhecidos. A partir de estudos empíricos, abriu a caixa-preta da ciência, revelando toda a rede de atores – humanos e não humanos – e conexões necessárias para se validar um fato científico. Acusado de relativizar as verdades e a objetividade da ciência, tido frequentemente como seu inimigo, Latour indignou muitos cientistas. No entanto, no contexto mais recente de recrudescimento do negacionismo, particularmente no campo climático, foi incitado a se juntar a seus antigos detratores por uma causa comum: conceber formas novas e viáveis de habitar o planeta – como conta o jornalista e doutor em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia Bernardo Esteves no texto “O inimigo era outro”, publicado na revista piauí (shorturl.at/elrGR). Latour abraçou a causa, dedicando as últimas décadas de sua vida à questão e, nesse movimento, extrapolou os limites estreitos da academia. Além de construir suas próprias redes de pesquisa, publicar livros e artigos e participar de conferências científicas, se aventurou no teatro, produziu exposições e ocupou outros espaços, buscando ampliar e diversificar seu coro e sua audiência. Por essas e outras, a morte de Latour deixa um enorme vazio e uma inconformidade pelas reflexões e provocações tão necessárias para esse momento que não virão mais – como lamentou o filósofo francês Patrice Maniglie, da Universidade Paris Nanterre, no texto “Uma morte a contratempo, uma obra para o futuro” (shorturl.at/bcgMS), publicado originalmente no site AOC e traduzido por Peter Pál Pelbart. Apesar do luto, “seu chamado a multiplicar, proteger e cuidar dos seres e relações que povoam nosso mundo seguirá ecoando forte entre os que embarcaram em suas aventuras”, afirma a filósofa Alyne Costa, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), no texto “Depois de Latour ficou mais difícil se orientar no Antropoceno”, publicado na revista Pessoa (shorturl.at/MSUW8). Além dos textos em homenagem ao filósofo-antropólogo aqui citados, sugerimos um mergulho nos escritos do próprio Latour, que com sua curiosidade, perspicácia e vitalidade, há de nos inspirar para mais um ano de luta contra todo o tipo de negacionismo. E para quem tem um texto na manga ainda não publicado, atenção para chamada especial do Boletim CTS em foco em homenagem a Latour. O envio de textos foi prorrogado até 10/1 e deve ser feito via e-mail (Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.). As diretrizes para submissão estão aqui

Leituras 

O caso do (des)apoio à ciência no Brasil – No texto “What the World Can Learn from Brazil’s Shifting Stance on Science”, o pesquisador e escritor estrangeiro Daniel Henryk Rasolt, que passou pelo Brasil em 2010 durante seu doutorado em física, dá seu depoimento sobre o rápido avanço e declínio da ciência no país. Ele narra o incremento dos investimentos nacionais em ciência e educação entre 2003 e 2014, com o aumento no número e valor das bolsas de estudo, a abertura de novas universidades e a injeção de recursos em áreas como sensoriamento remoto e luz sincrotron. Em seguida, uma combinação complexa de crise econômica, um escândalo de corrupção, políticas de conservadorismo fiscal e retórica populista anticientífica teriam levado ao desinvestimento e à desvalorização da ciência brasileira. Seu principal ponto é alertar para o fato de que o corte de investimento no setor científico tem consequências profundas nas sociedades contemporâneas, como a fuga de cérebros, o desinteresse pelas carreiras científicas e a dificuldade de inovar. O autor resume o caso com uma frase dita a ele pelo também físico Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo (USP): “Os apoios financeiros perdidos tornam o trabalho muito difícil, mas as mentes perdidas o tornam quase impossível”. Leia o depoimento, em inglês.

O lugar dos surdos em museus de ciências – De acordo com o Guia de Museus e Centros de Ciências Acessíveis da América Latina e do Caribe, de 2017, apenas 69 dos museus de ciências brasileiros apresentam recursos acessíveis. Desses, 18 possuem alguma forma de acessibilidade para surdos. A partir desses dados, pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) buscaram compreender como esses espaços se preparam para atender esse público. Dos 18 museus indicados no guia e contatado pelos pesquisadores, 11 foram incluídos no estudo. Deles, sete ainda desenvolviam atividades acessíveis e, nos outros quatro, as atividades haviam sido descontinuadas. Para os profissionais que participaram da pesquisa, a inclusão da comunidade surda nos museus de ciências depende principalmente de uma equipe fluente e/ou educador intérprete, da contratação de funcionários surdos e da ampliação da acessibilidade nas atividades desses espaços. Os resultados foram publicados na edição corrente da revista ACTIO: Docência em Ciências, que traz um dossiê temático sobre a relação entre as pessoas com deficiência e os conteúdos científicos. O artigo “Popularização da ciência: acessibilidade a visitantes surdos em museus brasileiros” pode ser lido aqui. Para a edição completa da revista, acesse.

Ações 

Nasce um novo museu – Em meio ao contexto inquietante de museus fechando, queimando ou sem recursos no Brasil, uma notícia boa para alegrar o setor e os brasileiros que gostariam de ter mais acesso a esses espaços: novo museu de ciências abre as portas em Brasília. Inaugurado em novembro do ano passado, o SESI Lab pertence à linha dos centros interativos que se baseiam mais na exibição de aparatos interativos do que de peças de acervo. O centro conta com três espaços de exposição, um para mostras temporárias – a primeira aborda as profissões do futuro –, outro abriga a exposição de longa duração –composta por três galerias, com mais de 100 aparatos interativos – e uma área externa com experiências que estimulam sentidos e sensações. A entrada inteira custa R$ 20; a meia vale para estudantes, professores e idosos. Há gratuidade para públicos específicos e toda primeira quinta do mês. Visite o site do SESI Lab para mais informações.

Ela, ela, ela, ciência na favela – A fim de reforçar os debates sobre acesso e produção de conhecimento em territórios populares, a Coordenação de Cooperação Social da Fiocruz, o Museu da Vida Fiocruz e a Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal do Rio de Janeiro promoveram uma série de atividades na 19ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. Algumas delas foram registradas e deram origem à nova série de episódios do podcast Favela e Ciência. O primeiro trata dos dez anos da exposição Manguinhos: Território em Transe. A mostra traz narrativas de moradores sobre a ocupação de Manguinhos, na Zona Norte do Rio de Janeiro, pela perspectiva dos movimentos sociais, trazendo uma reflexão sobre memória, arte e território. A cada mês, um novo episódio será lançado nas plataformas de áudio da Cooperação Social e no site do Museu da Vida. Ouça o primeiro episódio.

Eventos 

O jornalismo em discussão – Medellín, na Colômbia, será a sede, entre 27 e 31/3, da World Conference of Science Journalists 2023, evento bianual que visa debater o jornalismo científico, aproximar cientistas de jornalistas e levar autores de destaque para falar sobre seus projetos, livros e responder a perguntas sobre seus métodos e motivações. Inscrições com descontos – ainda assim pe$adas – vão até 18/1. Mais informações.

Conferência debaterá teoria e prática do ciência-teatro – Em novembro de 2019 aconteceu em Coimbra (Portugal) o evento internacional Theatre about Science: theory and practice. Considerado um sucesso pelos participantes e organizadores, o encontro já tem data marcada para a sua segunda edição, que será de 9 a 11/11. A chamada para apresentação de trabalhos e outras modalidades de participação já estão abertas. Informações.

Oportunidades 

Ciência cidadã ganha empurrãozinho – No dia 10/1, o projeto europeu IMPETUS, que visa fortalecer o movimento da ciência cidadã no mundo, vai lançar sua primeira chamada para apoiar e reconhecer iniciativas na área. O programa irá financiar projetos novos e já existentes e premiará três iniciativas europeias de ciência cidadã. As informações detalhadas estarão disponíveis aqui.

Reunião de pauta – Tem uma boa história de fraude na ciência? O podcast Ciência Suja pode se interessar em contar. A equipe está recebendo propostas de pauta até 27/1. Elas devem se alinhar ao conteúdo do podcast, que relata casos de má conduta na ciência com impacto social, e trazer no pano de fundo debate sobre desinformação. Além do auxílio da equipe para a realização da pauta, os contemplados receberão R$ 3 mil pelo trabalho. Mais informações.

Últimos dias de inscrição – Estão abertas as inscrições para o curso de especialização em Divulgação e Popularização da Ciência da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), com 20 vagas para a turma de 2023. As inscrições, gratuitas, podem ser feitas até 13/1, prazo também para a entrega de documentos de forma online. A classificação final será divulgada em 6/3. As aulas, presenciais, começam também em março. Informações e inscrições.

Tem uma sugestão de notinha para a próxima edição do boletim Ciência & Sociedade? Oba! Envie para o e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. 

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   Ciência & Sociedade é o informativo eletrônico do Núcleo de Estudos da Divulgação Científica do Museu da Vida (Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz). Editores de Ciência & Sociedade: Carla Almeida e Marina Ramalho. Redatores: Luís Amorim e Rosicler Neves. Projeto gráfico: Barbara Mello. Informações, sugestões, comentários, críticas etc. são bem-vindos pelo endereço eletrônico. Para se inscrever ou cancelar sua assinatura do Ciência & Sociedade, envie um e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..           

* A seção Especial Desinformação é uma iniciativa do projeto “O desafio da desinformação em saúde: compreendendo a recepção para uma melhor divulgação científica”, contemplado pelo Programa Proep 2022, da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) e do CNPq. 

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Funcionamento:  de terça a sexta, das 9h às 16h30; sábados, das 10h às 16h.

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