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Por Bernardo Egito, aluno do curso de especialização em Divulgação e Popularização da Ciência

Egito costuma trabalhar a divulgação científica por meio da fotografia, como nesse registro do dermáptero conhecido como tesourinha!

Eu costumo dizer que a fotografia é composta por apenas 10% de arte, enquanto os outros 90% compõem o domínio da técnica. Isso inclui controle manual da luz na foto e atenção à composição. Não se pode fazer uma foto sem iluminação, mas, sem inspiração, a imagem seria apenas uma projeção visual. É por meio desse pensamento que podemos introduzir a importância de se conhecer a fotografia como uma forma de linguagem e de ferramenta educacional, não só como uma arte de fragmentar o tempo e produzir imagens.

Historicamente, é possível dizer que a nossa relação com a imagem sempre foi bastante predominante, perpassando os registros históricos desde a era das ilustrações rudimentares até os tempos das pinturas que representavam famílias de alto poder político. A relação do ser humano com a imagem é a de reafirmar o poder de constituir visões da realidade, seja conforme vontades individuais ou por meio de registro histórico. Dessa maneira, de acordo com Lucia Santaella, a imagem passa a carregar um valor simbólico, possuindo um conjunto de intenções e discursos que a imagem, em si, representa. Dessa forma, passa a existir uma relação distinta de domínio da arte entre quem realiza a fotografia e quem observa, ampliando as noções que temos de leitura de imagens. Isso se torna ainda mais evidente conforme ocorre uma democratização da fotografia, segundo Schonarth.

Essa democratização é bastante positiva, uma vez que o acesso a câmeras e formas diferentes de fotografar está em seu melhor momento, principalmente com o advento dos smartphones. Qualquer pessoa é capaz de realizar uma foto com poucos passos a percorrer. Com o aumento do uso da ferramenta, não necessariamente se aumenta, em conjunto, a técnica e a sensibilidade para se fotografar, o que é caracterizado por muitos autores como a banalização da fotografia. Isso, de certa forma, define a maneira como vemos e representamos o espaço natural antropomorfizado ao nosso redor, que muitas vezes não tem uma visão crítica bem aflorada.

Existem muitos aspectos que estão envolvidos no ato da fotografia, desde a semiótica até teorias básicas de composição fotográfica e design. É preciso exercício e aprendizado para dominar aspectos técnicos e para se inspirar e permitir desenvolver uma percepção ambiental aguçada, apta a entender o mundo ao nosso redor. 

A percepção não é algo óbvio ou intrínseco a todo ser humano: é algo a ser exercitado e ensinado. Muitas vezes, vemos o nosso ambiente, mas não o percebemos - necessariamente. Isso porque conhecer o horizonte observável vai além de apenas poder vê-lo, mas também de representá-lo e interpretá-lo por meio de uma foto. Um registro de uma comunidade de periferia ou de uma área verde desmatada provavelmente não terá a mesma leitura de imagem entre diferentes ambientes e diferentes públicos. Desse modo, a interpretação varia entre diferentes observadores, sendo responsável pelos impactos da fotografia enquanto linguagem. Para a educação ambiental e a divulgação científica, isso é muito relevante.

Na educação ambiental, a fotografia pode ser representada como sendo uma ferramenta que busca estimular o entendimento de nosso espaço natural e todo o recorte socioambiental que existe ao redor. Ela não é transcultural e universal, assim como a fotografia, e exige atenção para as realidades político-sociais de quem desenvolve e quem aprecia. Assim sendo, a construção de uma relação bem contextualizada entre a fotografia e um público é importante para ajudar a compor pessoas com olhares críticos diante da natureza e suas características, como confirmam Hofstatter e De Oliveira. Assim, cabe ao fotógrafo entender o ambiente e as realidades que orbitam seu público para que o processo educacional ocorra. De maneira prática, a fotografia é excelente ao ajudar a educar pessoas para uma visão crítica do espaço ao redor, podendo auxiliar na educação não formal em geral.

Outras leituras

HOFSTATTER, Lakshmi Juliane Vallim; DE OLIVEIRA, Haydée Torres. Olhares perceptivos: usos e sentidos da fotografia na educação ambiental. Pesquisa em Educação Ambiental, v. 10, n. 2, p. 91-108, 2015. 

SANTAELLA, Lúcia. O que é semiótica. Brasiliense, 2017. 

JANSON, H.W. História Geral da arte: o mundo moderno. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 

SCHONARTH, Ana Júlia. O olhar fotográfico: os princípios do design para a composição da fotografia. 2016. Trabalho de Conclusão de Curso. 


Publicado em 09 de julho de 2021.

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