Por Renata Fontanetto
Ainda estamos vivendo a pandemia do novo coronavírus, mas os meses de verão estão chegando e, com eles, a temporada de chuva em algumas regiões do país. Chuva e o mosquito Aedes aegypti sempre se deram bem: onde há água acumulada, há a possibilidade de criadouro para o mosquito, que transmite os vírus da dengue, zika, chikungunya e febre amarela. Alertar sobre as três primeiras doenças e abordá-las sob o viés da saúde pública foram alguns dos objetivos do Fórum Ciência & Sociedade (FCS) no Museu da Vida, que está encerrando as atividades em 2020.
A história vem de longa data: a metodologia do Fórum foi criada em 2006 pela pesquisadora da Fiocruz Brasília e museóloga Luciana Sepúlveda. Em 2018, a estratégia foi retomada por alguns profissionais do Museu da Vida, reunindo alunos de escolas públicas de Manguinhos, professores e representantes da sociedade civil. O impulso para a realização das atividades foi a pesquisa da Fiocruz “Inovação em Educação e Comunicação para a prevenção da Zika e Doenças Correlatas nos Territórios”, que tinha como objetivo oferecer respostas à sociedade devido à emergência sanitária causada pela tríplice epidemia de Dengue, Zika e Chikungunya em 2015. Pautada por algumas etapas realizadas em quatro localidades do país – Manguinhos, Maricá e Paraty (Rio de Janeiro) e Ceilândia (Brasília) -, a pesquisa compreende o Fórum Ciência & Sociedade, que é a terceira etapa.
“O FCS é uma tecnologia educacional que busca mobilizar a comunidade local, principalmente escolas e moradores, para o controle das arboviroses nos territórios”, explica Miguel de Oliveira, biólogo do Museu da Vida e um dos profissionais responsáveis.
A historiadora Clarice Ramiro, integrante da equipe executora, explica que a atuação com moradores de Manguinhos envolveu mobilizar, sensibilizar e aprofundar temas de debate. Para recrutar alunos para o projeto, educadores do Museu da Vida perceberam a necessidade de contar a história de Manguinhos nas escolas e, por isso, levaram a exposição “Manguinhos: território em transe” a colégios públicos. O Fórum defende a abordagem das arboviroses a partir de temas importantes para alunos e professores, sempre com preocupação social e olhar para a saúde pública. “Não podíamos fazer a discussão das arboviroses se não fosse um debate em conjunto com os determinantes sociais da saúde”, afirma Clarice.
Após o recrutamento, aconteceram encontros de sensibilização. Algumas atividades, como rodas de conversa e um passeio de barco pela Baía de Guanabara, foram relatadas em reportagem no site do Museu da Vida. Os encontros conectavam debates sobre arboviroses com temas trazidos por professores, lideranças locais de Manguinhos e alunos. Água, enchentes, violência e formação das favelas foram alguns dos assuntos discutidos nessa etapa. No fim de 2018, um grande debate coroou todos os aprendizados e, em 2019, o grupo se reuniu para uma etapa final de aprofundamento, que teve como tema arboviroses e fake news.
Propostas de encontros estavam previstas para 2020, mas a pandemia impediu a continuidade presencial. No entanto, a possibilidade de encontros virtuais acabou ganhando fôlego, e o Fórum está reunindo alguns alunos egressos de 2018, professores e profissionais do Museu da Vida para explorar o tema “Arboviroses em tempos de pandemia: educação, mobilização social e a importância do SUS”.
Nos dias 9 e 10 de dezembro, a partir das 14h, acontecerá um encerramento com os outros territórios – Maricá, Paraty e Ceilândia -, buscando levantar um debate coletivo sobre como o Fórum contribuiu para as escolas, os estudantes e se as percepções em relação às doenças mudaram após a participação no projeto. O encontro acontecerá no YouTube da Fiocruz Brasília.
“É importante destacar que promover um diálogo com a ciência é importante no momento político e pandêmico que estamos vivendo. O muro que separa Manguinhos e Fiocruz, metaforicamente falando, é alto. As pessoas não sabem que podem entrar e, quando sabem, acham que não serão bem-vindas. O grande mérito dessa experiência talvez tenha sido a quebra dessa barreira simbólica entre a fundação e o território onde está inserida”, avalia Clarice Ramiro. Miguel de Oliveira complementa que o principal do projeto foi que os participantes conheceram a Fiocruz, espaços de saúde pública e mobilização coletiva dentro do próprio território, como o Centro de Atenção Psicossocial Carlos Augusto Magal e a Rede CCAP Manguinhos, além de ter incentivado o direito à cidade ao propor atividades em regiões como o Cais do Valongo e a Baía de Guanabara.
Se você ficou interessado nessa tecnologia social e de educação não formal, saiba que o Fórum Ciência & Sociedade pode ser aplicado por qualquer pessoa! Acesse o Guia. Além disso, convidamos nossos leitores a conhecer o vídeo desenvolvido pelos participantes do Fórum na cidade de Paraty, no Rio de Janeiro. Depois conta pra gente o que achou?
Publicado em 3/12/2020