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Por Julianne Gouveia

Foi quase amor à primeira vista: Mariana Fernandes se apaixonou pelo tema da acessibilidade ainda na graduação. Ela fazia Licenciatura em Física na Universidade Federal Fluminense e lá cursou uma disciplina optativa chamada Tecnologias Assistivas para Pessoas com Deficiência Visual. O interesse só fez aumentar e virou assunto no Mestrado em Divulgação da Ciência, Tecnologia e Saúde da Casa de Oswaldo Cruz, onde Mariana ingressou em 2018. Em agosto deste ano, a mestra defendeu a dissertação ‘A experiência de pessoas com deficiência visual: a acessibilidade e a inclusão no Museu da Geodiversidade (UFRJ) e na Casa da Descoberta (UFF)’. Ela estudou a visitação às instituições de dois grupos de pessoas cegas: um deles era formado por pessoas que trabalham ou estudam o universo dos museus; o outro, pouco engajado com a área. “Acredito que as pessoas com deficiência devam participar ativamente das mais diversas atividades na sociedade, como lazer, acesso ao conhecimento e informação, cultura e educação. Estudar e entender como ocorre a experiência deste público em museus é reforçar que esses locais também pertencem às pessoas com deficiência, não só visual, mas a todo e qualquer público”, explica. No terceiro episódio da temporada 2020 da série “Conta Aí, Mestre”, Mariana Fernandes responde às perguntas enviadas pelos seguidores do Museu da Vida sobre o assunto. Confira!

Fernando Alves (/fernando271986): Oi Mari, parabéns pela linda pesquisa! Durante sua pesquisa, você foi capaz de encontrar a participação de pessoas cegas e com baixa visão na produção das atividades e iniciativas promovidas pelos museus visitados? Se sim, qual a importância representativa desse engajamento na recepção do público com deficiência?

Mariana Fernandes: Oi, Fê! Obrigada pelos parabéns e pela pergunta! No momento em que a pesquisa foi realizada, o Museu da Geodiversidade ainda não contava com a participação de pessoas com deficiência visual compondo sua equipe. Todo o material adaptado do espaço é testado por um consultor ou parceiros. A Casa da Descoberta estava em processo de treinamento de um mediador com deficiência visual. Além disso, a equipe já contava com uma mediadora com deficiência auditiva parcial, que inclusive passou a visita para os grupos da pesquisa.

Em entrevista com o grupo de visitantes engajados, eles frisam que é realmente importante para a representatividade ter pessoas com deficiência nas equipes dos museus. Eles contam que se sentem mais à vontade, já que o mediador entende suas necessidades e os direciona para objetos/réplicas táteis que geram mais engajamento. Ainda assim, o grupo ressalta que não é apenas isso que torna o espaço acessível e inclusivo.

Julianne Gouveia (@_amarelodeserto): Gostaria de entender melhor o que era exatamente esse segundo grupo de visitantes "não convertidos" e de que maneira questões como escolaridade e até gênero podem influir na experiência de visitação desse grupo. Houve alguma dificuldade e/ou similaridade na experiência de visitação de ambos os grupos?

Mariana Fernandes: Oi, Julianne! O grupo de visitantes pouco engajados (VPEs) foi composto por pessoas que visitam ou tem menos contato com museus, já que existe uma grande parte do público com deficiência visual que não frequenta espaços museais. O intuito de ter dois grupos com engajamentos diferentes na temática de museus foi de compreender se ambos apontariam as mesmas dificuldades (barreiras) nos espaços visitados. Um dos objetivos era entender se ambos os grupos apontariam essas dificuldades – o que chamamos de barreiras. Em suma, conseguimos perceber que, falando explicitamente sobre a barreira ou usando outras palavras para abordar a mesma, encontramos evidências onde os grupos pontuam essas dificuldades de forma similar. A pesquisa não se aprofundou nas questões de escolaridade e gênero, mas podemos perceber que ambos os grupos usaram de seus conhecimentos prévios e cotidianos para fazer relações com o que estava exposto para então compreender os objetos.

Renata Fontanetto (@renata_fontanetto): Oi, Mari! Qual repertório teórico mais fundamentou a sua pesquisa?

Mariana Fernandes: Oi, obrigada pela pergunta, Rê! A pesquisa foi essencialmente fundamentada nos estudos de: Norberto Rocha et al. (2020), Abreu et al. (2019), Inacio (2017), Tojal (2015), e Sarraf (2008, 2013).

Ana Legey (@analegey): Parabenizo sua pesquisa!!! Quanta generosidade. Você acha que as experiências apreendidas podem ser levadas também as escolas? Para reproduzir as boas práticas e as lições aprendidas?

Mariana Fernandes: Olá, Ana, obrigada pelos parabéns e pergunta! Claro! Algo muito debatido pelos visitantes foram ações relacionadas às atitudes das equipes (recepção, acolhimento, descrição de objetos e salas). Creio que as boas atitudes podem (e devem) ser reproduzidas em todos os locais.

Julianne Gouveia (@_amarelodeserto): Em sua opinião, o que poderia aprimorar ainda mais a experiência de visitação a museus de pessoas com deficiência visual, especialmente aquelas que não estão acostumadas a frequentar esses espaços?

Mariana Fernandes: Acredito que ações relacionadas à atitude: fazer com que as pessoas com deficiência se sintam parte integrante do espaço, acolhidas e convidadas a visitar outros museus ou centros de ciências. Outra questão, no meu ponto de vista, está relacionada com o vocabulário utilizado nesses espaços: é importante encontrar estratégias que façam com que o vocabulário (às vezes mais técnico) chegue a todas as pessoas, com deficiência ou não.

Sidcley Lyra (@LyraSid): Parabéns, mestre Mariana! Conta pra gente, como seu estudo pode fazer as instituições refletirem e por em prática essas estratégias de acessibilidade? Outra coisa: os museus estudados possuíam as estratégias de acessibilidade que os gestores disseram ter?

Mariana: Olá, Sid, obrigada pela pergunta! A pesquisa foi desenvolvida pensando na experiência dos visitantes, evidenciando suas perspectivas e vozes, além de reforçar que espaços científico-culturais também são frequentados por pessoas com deficiência e devem estar preparados para atender a todos os públicos. Espero que os resultados obtidos possam colaborar com o desenvolvimento de práticas acessíveis e inclusivas em diversos âmbitos – seja relacionado à equipe, ao espaço físico e expositivo ou repensando as práticas já existentes. Fica o meu desejo que essas práticas se multipliquem, sendo cada vez mais eficazes e que contemplem as especificidades das pessoas com deficiência visual.

Respondendo sua outra pergunta: Mesmo com as visitas sendo agendadas, algumas das estratégias que os museus sinalizaram possuir não foram apresentadas para os visitantes. Isso evidência a importância de toda a equipe estar ciente, preparada e ter acesso a essas estratégias disponibilizadas pelo museu.

Finalizo com o lema “Nada sobre nós sem nós”, que diz respeito à importância da participação plena das pessoas com deficiência na tomada de decisões sobre assuntos que lhes correspondam diretamente. Que o lema se faça presente e nunca seja esquecido. Obrigada!

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