Por Melissa Cannabrava
Carro voador, robô que faz as tarefas domésticas, casa inteligente onde é só a gente bater palmas que as luzes se acendem. O que você entende quando o assunto é inteligência artificial (IA)? Muitas vezes camuflada na vida diária, a IA está inserida na nossa rotina, tornando-se cada vez mais atraente, útil, mas também plena em questões éticas.
Quer ver só? É possível saber a probabilidade de um consumidor comprar um produto por meio de coleta de dados sobre os hábitos de suas compras, quase antecipando seus desejos. Já existem geradores de fala que conseguem copiar a voz escutando apenas 3,7 segundos de áudio. Com recursos de inteligência artificial, é possível capturar e remover imagens postadas na internet consideradas impróprias, como as de pornografia. Há, também, empresas que já realizam suas entregas usando drones, e diversas outras facilidades já estão disponíveis, como assistentes digitais, armazenamento em nuvem, reconhecimento facial e etc.
Mas afinal…
O que é Inteligência Artificial?
Inteligência Artificial (IA) é um dos mais antigos ramos da área da ciência da computação que tem como objetivo tornar algo inteligente, elaborando dispositivos que simulam a capacidade humana de tomar decisões, raciocinar, perceber e resolver problemas. É a ciência que busca com que uma máquina entenda o mundo ou tome atitudes que se esperariam de um ser humano.
Desde as primeiras pesquisas que possibilitaram a criação do computador na década de 1940, a IA vem evoluindo. Quanto mais as tecnologias se aprimoram, mais as preocupações e pesquisas sobre a área também são impulsionadas. Atualmente, com o desenvolvimento acelerado da informática e a evolução computacional, dados são adicionados facilmente e podem ser agregados de modo automático, permitindo uma cadeia de produção a partir de técnicas de Inteligência Artificial.
De acordo com a Association for the Advancement of Artificial Intelligence (AAAI), o campo de pesquisa pode ser dividido em nove subáreas de acordo com suas aplicações: Pesquisa; Machine Learning, Data Mining e Big Data; Planejamento Automatizado; Representação de Conhecimento; Raciocínio (Probabilístico ou não); Processamento de Linguagem Natural; Robótica; Sistema de Agente e Multi-Agente e Aplicações.
Como anda a IA no Brasil?
A falta de investimento nas áreas de ciência, tecnologia e inovação (CT&I) dificulta o processo de desenvolvimento de pesquisas. Países que não investem em CT&I já se encontram dependentes de nações ricas no setor de inteligência artificial.
Durante o primeiro semestre de 2020, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e a USP financiaram o primeiro centro de Inteligência Artificial do Brasil, localizado em São Carlos (SP). O objetivo é criar mais oportunidades para startups e grandes empresas interessadas em acessar a expertise local. Agronegócio, finanças, saúde e meio ambiente são algumas das áreas estudadas no novo instituto de pesquisa.
Na saúde, o Programa de Computação Científica da Fiocruz (Procc/Fiocruz) abrange desde o desenvolvimento de fármacos até o estudo de epidemias, em parceria com grupos de pesquisa internos e externos à instituição. O Procc se destaca pelo trabalho em favor do desenvolvimento e da aplicação de métodos matemáticos e estatísticos inovadores em pesquisas no campo das biociências. O programa também capacita pesquisadores em formação, atuando nas pós-graduações do Programa de Biologia Computacional e Sistemas, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), e no Programa de Pós-graduação em Epidemiologia em Saúde Pública (Ensp/Fiocruz).
A Fiocruz também investe no Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs), que realiza estudos e pesquisas com base em projetos interdisciplinares com grande volume de dados: Coorte de 100 Milhões de Brasileiros; Plataforma Zika; Tecnologias e Inovações para o SUS; Equidade e Sustentabilidade; Bioinformática e Epidemiologia Genômica. Além disso, o Cidacs desenvolve novas metodologias investigativas e promove capacitação profissional e científica, atuando para ampliar o conhecimento sobre a relação entre a saúde da população e as políticas e determinantes sociais.
Na internet, a inteligência artificial toma conta dos celulares de jovens e adultos encantados pela deepface, que permite transformar a voz e o rosto das pessoas de uma maneira muito realista por meio de aplicativos com tecnologia de IA . De acordo com reportagem publicada no El País, brasileiros são o segundo maior público de aplicativo que “troca rostos”, representando 20% do total de usuários.
Paralelo a isso, o mercado de trabalho no setor de tecnologia aumenta. Dados da Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação (Brasscom) mostram que o número de empregos no país caiu 2,3% entre janeiro e julho, em comparação com o mesmo período de 2019, mas as vagas de tecnologia - que incluem serviços de TI, desenvolvimento de software, in house e telecomunicações - aumentaram em 1,18%. A estimativa é que o setor tenha potencial de contratação para mais de 303 mil novos profissionais nos próximos seis anos.
Sobre diversidade de raça, o meio científico no país continua em atraso. Segundo o Olabi, organização social que trabalha para democratizar a produção de tecnologia, cerca de 32,7% dos núcleos de tecnologia no Brasil não têm uma pessoa negra. O dado foi levantado a partir da pesquisa “Quem Coda o Brasil?”, da PretaLab e ThoughtWorks. Nas questões de gênero, uma pesquisa realizada pela consultoria KPMG, em parceria com a empresa de recursos humanos e tecnologia Harvey Nash, mostra que a participação de mulheres em posições seniores em tecnologia na América Latina está atualmente em 16%. A percentagem é significativamente maior do que os 4% de representatividade feminina nestas funções em países como o Reino Unido e superior à média global de 11%.
Estimular a pesquisa nos setores público e privado, aumentar o investimento com educação e estimular o registro de patentes podem ser consideradas formas de alavancar o desenvolvimento de inteligência artificial no Brasil. O debate de questões relacionadas à IA estará presente na 17ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, evento de caráter nacional proposto pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTIC) que acontece de 19 a 23 de outubro na Fiocruz. Acompanhe as redes sociais oficiais da Fundação para conferir a programação, que será lançada em breve, e curta o evento no Facebook para já marcar as datas!
Publicado em 29 de setembro de 2020