Vacina contra meningite cérebro espinhal sorogrupos A e C
Material: vidro/metal/papel/borracha
Local: Rio de Janeiro, Brasil
Dimensões: 7,5 x 3 cm
Fabricante: Bio-Manguinhos (Fiocruz)
O objeto de hoje é a vacina contra a meningite meningocócica. Este frasco com capacidade de 50 doses está relacionado ao controle de uma das piores epidemias de meningite no Brasil e a criação do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos, Bio-Manguinhos nos anos 1970.
A meningite é um processo inflamatório das meninges, membranas que envolvem o cérebro e a membrana espinhal que pode ser acometida em qualquer idade, com maior risco em crianças menores de 5 anos. Ela pode ser causada por diversos agentes infecciosos como bactérias, vírus e fungos. A doença apresenta características diferentes, classificadas em sorogrupos e subtipos. Ela ainda é considerada uma doença endêmica, sendo os sorogrupos A, B e C os principais causadores de epidemias no mundo.
Nos anos 1970 a população foi vítima de dois subtipos de meningite meningocócica: o tipo C e do tipo A. O surto iniciado em bairros pobres da zona sul de São Paulo em 1971, logo tomou proporções epidêmicas. Neste período, estava instalado no país um regime militar que censurava informações que poderiam comprometer a reputação do governo. Informações sobre problemas na saúde pública não podiam ser tratados na imprensa, logo grande parte da população não tinha conhecimentos do surto de meningite. Em 1974, a epidemia atingiu a marca de 200 casos por 100 mil habitantes, trazendo o problema à tona.
O medo generalizado da propagação da doença se instaurou na população. Não havia muita informação e faltavam medicamentos e vacinas. As aulas foram suspensas, escolas transformadas em hospitais de campanha e a saúde pública sobrecarregada. E, além disso, apesar de não existirem as chamadas fake news das redes sociais como hoje, muitos boatos, notícias falsas e propagandas de remédios e simpatias “milagrosas” atrapalhavam o tratamento da doença.
Para atender a emergência, o governo em 1974 criou o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica, ligado ao Ministério da Saúde, e assinou um acordo com o instituto francês Mérieux para importação contra a meningite. Apesar disso, a quantidade de vacinas não era suficiente e os militares permaneceram negando a epidemia, mantendo ocultos fatos e informações, além divulgar dados incompatíveis com a realidade.
O instituto francês não tinha estrutura no Brasil para uma produção tão grande. Como estratégia foi assinado um acordo de cooperação internacional de transferência de tecnológica entre o Instituto Mérieux e a Fundação Oswaldo Cruz. A logística e a estrutura de produção existentes no antigo Instituto de Produção de Medicamentos teve suas instalações ampliadas e modernizadas inaugurando em 1976 uma nova unidade técnico-científica para produção de vacinas e quimioterápicos Bio-Manguinhos.
A produção da vacina contra a meningite era realizada por setor independente, na Usina Piloto de Vacinas Bacterianas. A vacina contra a meningite utilizou uma tecnologia bastante avançada para a época e produzida a partir de um polissacarídeo, componente da cápsula bacteriana, ao invés da bactéria inteira. Além de produzir menos efeitos colaterais, esse método era mais seguro de fermentação e purificação. A cooperação com o Instituto Mérieux possibilitou o treinamento, controle e garantia da qualidade da vacina. Em 1977, Bio-Manguinhos passou a produzir a vacina anti-meningocócica em larga escala.
A vacina da meningite tipos A e C foi produzida entre 1976 e 1990. Após esse período, pela escassez do sorotipo A, somente a vacina tipo C passou a ser produzida. A fabricação dos sorogrupos A e C foi retomada somente nos anos 2000. Atualmente a vacinação contra a meningite protege contra 4 dos 5 sorogrupos mais comuns. A vacina A, C, W, e Y é recomendada no calendário vacinal das crianças de até 12 anos.
A principal forma de prevenção da doença é sem dúvida a vacinação. Cuidados como a higiene pessoal, evitar aglomerações e manter ambientes ventilados e limpos também são outras formas recomendadas para evitar não somente a meningite, mas como boa parte das doenças infecciosas.
Para saber mais:
AZEVEDO, Nara. (org.) Inovação em saúde: Dilemas e desafios de uma instituição pública. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2007.
BENCHIMOL, Jaime Larry. Febre amarela: a doença e a vacina uma história inacabada. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2001.
BUSS, Paulo Marchiori; TEMPORÃO, José Gomes; CAVALHEIRO, José da Rocha (Org.). Vacinas, soros e imunizações. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2005.Disponíbel em: http://books.scielo.org/id/wmw76
GADELHA, C. e AZEVEDO, N. “Inovação em vacinas no Brasil: experiência recente e constrangimentos estruturais”. História, Ciências, Saúde Manguinhos, vol. 10 (suplemento 2): 697-724, 2003.
Objeto em Foco é um produto de divulgação do acervo museológico sob a coordenação de Pedro Paulo Soares e Inês Santos Nogueira
Serviço de Museologia - Museu da Vida
Publicado em 29 de setembro de 2020