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Por Melissa Cannabrava

Lives, atividades on-line, artigos de divulgação científica, reportagens, vídeos para o YouTube... Quantas possibilidades viraram apostas? (Arte: Silmara Mansur)

Em meio à pandemia, desde meados de março, os museus de todo o Brasil precisaram fechar as portas, transformaram-se em multiplataformas e expandiram os campos de atuação para além de eventos presenciais que recebem centenas de pessoas. Com o isolamento social, o Museu da Vida (MV) teve que se reinventar. Projetos, atividades e exposições estão passando por uma readequação para continuar atendendo os visitantes do espaço de ciência e cultura da Casa de Oswaldo Cruz, unidade da Fiocruz. 

"Hoje, segundo dados do Conselho Internacional de Museus (Icom), 90% dos museus do planeta Terra se encontram fechados, e nós somos um deles. Então, tivemos que nos reinventar. Além da mudança brusca de não atender o público presencialmente, apenas virtualmente, nós tínhamos um agravante de ser um museu de ciências dentro da Fundação Oswaldo Cruz, esta instituição de pesquisa importante do Estado brasileiro na área da saúde", informa o historiador Alessandro Batista, chefe do Museu da Vida.

Desde meados de março, o MV manteve contato estreito com a Sala de Situação da Fiocruz, criada para acompanhar a pandemia no mundo e no Brasil. Todas as decisões no Museu foram tomadas a partir das orientações dos especialistas que compõem a sala.

"Fortalecemos nosso Núcleo de Mídias e Diálogo com o Público, que está tendo um papel fundamental, sendo a face do museu num mundo virtual e, por meio deste setor, o Museu da Vida dialoga hoje com o seu público. Todos os setores hoje trabalham voltados para isso, de uma maneira ou de outra, atuando para disponibilizar materiais, artigos, oficinas, exposições e peças virtuais", esclarece Alessandro.

O historiador destaca, também, que o Museu está integrando ações da Fiocruz como o "Se liga no Corona". "Atuamos juntos da chamada pública para Apoio a Ações Emergenciais junto a Populações Vulneráveis. Foi um edital que tinha como objetivo exportar recursos, neste momento de pandemia, para fortalecer ações solidárias de comunicação sobre a covid-19, com apoio às áreas de saúde mental, segurança alimentar e cuidados com a higiene", detalha.

Como repensar o teatro e as exposições em tempos de pandemia?

Para o coordenador do Serviço de Educação, Héliton Barros, o momento é inusitado. "O nosso sucesso é aglomerar pessoas em nossos espaços de visitação... Já chegamos a mais de dois mil visitantes em um evento de aniversário do Museu, por exemplo, quando, tradicionalmente, realizamos o Piquenique Científico e apresentamos todos os espetáculos teatrais em cartaz no Ciência em Cena. Nós estamos tentando nos reinventar por meio das redes sociais, e avançamos muito nestes tempos de pandemia, dedicando boa parte do nosso tempo à produção de atividades virtuais. A equipe do Serviço de Educação está animada e preparando muitas novidades para as próximas semanas. Fiquem ligados em nossas redes!", aponta. 

Uma das ações é o incentivo à leitura com o projeto “Nos trilhos da ciência”, lançado em dezembro de 2019 no MV, e o trabalho em equipe por trás de atividades como a série de vídeos e textos da nova seção Um Biólogo Responde. Segundo Héliton, há planos para digitalizar a exposição Rios em Movimento, inaugurada no fim do ano passado e que estava programada para permanecer em cartaz até dezembro de 2020. 

 

 

"O meu grande sonho é realizar visitas virtuais, e ao vivo, no Borboletário, no Parque da Ciência e no Castelo Mourisco, mas o grande desafio de hoje é o teatro. Temos uma produção profissional nesta área que também vai precisar ser reinventada. Nós estamos saindo da nossa zona de conforto para produzir uma websérie que vai se chamar "Invasores". Originalmente, seria uma peça de teatro. O texto já estava pronto, e os atores vinham ensaiando, mas tivemos que mudar os planos.  O tema central será a importância da vacinação e, claro, vamos incluir nesta história a Covid-19, que é uma doença viral sem vacina até o momento. Cada episódio vai ter, em média, 12 minutos e será gravado e lançado até o fim deste ano, dependendo do desenrolar da pandemia nos próximos meses”, revela.

Investimento maciço nas redes sociais

Não há outra saída: dialogar com os diferentes públicos nas redes sociais é uma realidade com a qual todos os museus estão lidando. A coordenadora do Núcleo de Mídias e Diálogo com o Público do Museu da Vida, Renata Fontanetto, reflete que muitos centros culturais estão pensando em novas atividades em formato digital, apostando como nunca nas redes sociais e aproveitando conteúdos que já estavam acessíveis de forma on-line - como exposições virtuais - para dar visibilidade novamente a estes conteúdos.

"Acima de tudo, testar novos formatos e ideias tem sido enriquecedor para o Museu da Vida. Na comunicação do MV, mudamos nossa estratégia para o YouTube, começamos a postar mais vídeos no IgTV do Instagram, iniciamos lives temáticas semanais no Instagram e, posteriormente, no YouTube. Alguns funcionários estão escrevendo artigos de divulgação científica e editando vídeos em suas casas, pensando em atividades que o público possa realizar a distância. Além disso, construímos uma nova identidade visual para o Museu nas redes, graças ao trabalho do nosso setor de design, e investimos em reportagens sobre assuntos de ciência em nosso site. Ou seja, tem sido um trabalho e tanto, e o público é nosso convidado para refletir junto conosco, opinando, levantando ideias e até mesmo criticando de forma construtiva e coletiva", opina.

A jornalista Julianne Gouveia, nova na casa, está se dedicando às redes sociais do Museu, que mantém presença em cinco plataformas digitais: site, Instagram, Facebook, Twitter e YouTube. De acordo com ela, estratégias de criação de conteúdo para cada rede social e produção de relatórios para avaliar o que mais tem funcionado são novidades. "Fica claro, pelas primeiras análises, que o Museu da Vida tem preenchido uma lacuna na demanda dos usuários por conhecimento confiável sobre o coronavírus, por exemplo, para além de apenas trabalhar reforço de marca. Esse tipo de descoberta só é possível de ser realizada através da análise de dados e do gerenciamento das redes, nos posicionando sempre de maneira clara e em diálogo aberto e permanente com os visitantes", reforça.

A nova rotina em casa

Engana-se quem pensa que os profissionais de museus estão de férias em casa. Pelo contrário: o trabalho aumentou e muito! É o que conta a coordenadora do Serviço de Design e Produtos de Divulgação Científica, Rita Alcantara: “Estamos trabalhando muito, com várias reuniões on-line e conversas via os aplicativos Microsoft Teams e Whatsapp. Sinto que o horário do expediente expandiu e há dias em que é difícil conseguir almoçar no horário certo", pontua. 

Adaptação da rotina de trabalho, estudo e afazeres domésticos: a designer Rita Alcantara com a filha, em home office.

A equipe de design, pensando em alternativas para apresentar produtos já prontos com nova roupagem, teve a ideia de fazer um passeio virtual pela exposição Castelo de Inspirações, que está montada na sala 307 do Castelo, mas que não pode ser visitada devido à pandemia. A mostra conta a história da construção do edifício, fala da riqueza e beleza dos detalhes e ornamentos do prédio, do ponto de vista matemático, bem como a relação das pessoas com o prédio-símbolo da Fiocruz. O designer Rogerio Fernandes, curador e coordenador da exposição junto com Rita, fez a proposta de elaborar o passeio virtual 360 graus pelo espaço expositivo.

"Como, durante o processo, nós criamos modelos 3D dos aparatos para visualizar o layout da maquete eletrônica e depois para fabricação, sabíamos que poderíamos ressignificar estes arquivos para que fizessem parte da memória da exposição, e pudemos contar com isto nesta proposta. Rogerio está tendo bastante trabalho para fazer todos os ângulos de câmera e modelagem 3D dos objetos do acervo. A Barbara Mello, outra designer da nossa equipe, pensou no layout das caixas de texto e Renata Fontanetto, junto com Tereza Costa, do Serviço de Educação, fizeram a síntese dos textos. Juntos, discutimos os detalhes, a velocidade do vídeo, em quais momentos devemos mostrar caixas de texto para contextualizar nosso visitante virtual etc", explica Rita.

O passeio virtual não é uma visita virtual tradicional porque, por ser um vídeo, o visitante é guiado pelo percurso, e seu olhar é direcionado pela câmera em 3D. Ainda assim, é uma experiência que permite que o visitante se sinta no ambiente expositivo, podendo ter uma visão geral do local. O dia de lançamento está marcado: domingo, dia 31 de maio, pelo YouTube do Museu da Vida.

Todas essas ações acabam sendo um presente do Museu da Vida para a instituição que é a sua casa, a Fiocruz, nos seus 120 anos de história celebrados no dia 25 de maio. E, claro, para os visitantes. A saudade de vê-los pelo campus é grande!

 

Publicado em 27 de maio de 2020.

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