Revestimento do interior dos antigos laboratórios do Castelo Mourisco
Fabricante: Villeroy & Boch
Material: cerâmica e esmalte
Local: Alemanha – década de 1910
Dimensões: 14,5 x 14,5 cm
O objeto que vamos conhecer é bastante diferente daqueles que estamos acostumados a falar nesta seção. Ao contrário das peças curiosas, exclusivas do universo científico, essa faz parte do cotidiano da maioria de nós. Quem nunca viu um ladrilho ou azulejo branco? Desses que geralmente encontramos nos banheiros e cozinhas das residências, nos laboratórios e nos hospitais. Este ladrilho foi utilizado nos primórdios do Instituto Oswaldo Cruz e se tornou muito popular. Sabe por quê?
A construção do Castelo Mourisco, realizada entre 1905 e 1918 na então fazenda de Manguinhos, foi feita para substituir as antigas e improvisadas instalações do Instituto Soroterápico Federal. Este edifício foi imaginado por Oswaldo Cruz para ser a sede de um novo instituto, inspirado no Instituto Pasteur, na França, reunindo pesquisa científica, ensino, produção de soros e vacinas, além de outras atividades relacionadas à saúde pública.
A construção do “Palácio da Ciência” para abrigar a ainda incipiente ciência brasileira não foi um projeto óbvio. Necessidades construtivas muito diferentes foram aplicadas a este projeto. O edifício em que a fachada e os corredores expressam a monumental estética arabesca foi equipado com grande sofisticação tecnológica, como equipamentos de laboratório, instalações elétricas, térmicas e telefônicas. Já no seu interior, as salas de trabalho foram projetadas como espaços funcionais. Para a construção, foram utilizados tijolos, vidros, mármores, luminárias e revestimentos importados da Europa. Dentre eles, o ladrilho branco da famosa fábrica de cerâmica alemã Villeroy & Boch. Isso permitiu incorporar incorporar o que havia de mais moderno no tocante à construção de laboratórios e equipamentos sanitários.
Os interiores dos laboratórios foram desenvolvidos para que fossem espaços simétricos, bem iluminados, arejados e revestidos com ladrilhos brancos de acabamento liso, sem ornamentos até a altura de um metro e meio e com cantos arredondados, cobertos com esmalte impermeável. Toda esta preocupação era necessária para evitar a umidade, o acúmulo de poeira e garantir a frequente desinfecção desses espaços com soluções antissépticas.
Atualmente, a higiene e a assepsia são obrigatórias em espaços de convívio coletivo, principalmente em ambientes dedicados à saúde. Mas nem sempre foi assim. No início do século XX, a recém-descoberta microbiologia ainda não era consenso sequer entre a comunidade médica. Era muito nova a ideia de que grande parte das doenças infecciosas eram causadas por microrganismos, como bactérias e vírus. Os médicos não tinham preocupação com a questão da contaminação. Equipamentos de proteção individual, como máscaras, luvas e aventais, não faziam parte do cotidiano de trabalho.
Epidemias como a gripe, a tuberculose, a cólera, dentre outras, se propagavam por decorrência de questões higiênicas dos indivíduos, das suas moradias e da falta de saneamento das cidades. Rotinas hoje consideradas básicas, como lavar as mãos com água e sabão e higienizar a casa, não faziam parte dos hábitos da população. As práticas sanitárias que começaram como medidas governamentais - por vezes autoritárias - para o combate às epidemias, foram aos poucos se incorporando ao cotidiano das pessoas.
A construção dos laboratórios do Instituto Oswaldo Cruz foi avançada para a época porque foi somente ao longo do século XX que a compreensão sobre a higiene e as medidas sanitárias se consolidaram como necessárias para o combate à transmissão de doenças. Hoje, a imagem da limpeza associada à ausência de doenças é popular. Sem a necessidade de um conhecimento aprofundado em microbiologia, grande parte da população preza o uso de pisos e paredes claras, lisas e fáceis de limpar e não questiona a importância do consumo de água filtrada. Cabe ainda ressaltar a importância da higiene das mãos como uma das medidas mais eficientes na prevenção de doenças.
Saiba Mais:
BENCHIMOL, Jaime L. Manguinhos do Sonho à Vida: a ciência na Belle Époque. Rio de Janeiro: Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz, 1990.
DIAS, Ezequiel. O Instituto Oswaldo Cruz. Resumo histórico (1899-1918). Rio de Janeiro: Manguinhos, 1918.
COSTA, Renato Gama-Rosa. 100 anos do Castelo da Fiocruz: criador e criatura. In: Brasiliana Fotográfica – Biblioteca Nacional. Disponível em: http://brasilianafotografica.bn.br/?p=11758. Publicado em: 15 mai. 2018.
Publicado em 27/4/2020