Neste informe:
1. A nova pandemia pode revolucionar a comunicação da ciência?
2. O cuidado com falsas esperanças
3. A percepção dos italianos sobre a Covid-19
4. Covid-19: 10 iniciativas “tops” de divulgação científica
5. Dicas para jornalistas que cobrem a pandemia
6. Para evitar falsas notícias e ampliar as informações de qualidade
7. Dossiê traz reflexões sobre fake news, ciência e saúde
8. Ciência na quarentena
9. Adiada conferência PCST 2020
1. A nova pandemia pode revolucionar a comunicação da ciência? – Em 31 de janeiro, 117 editoras de publicações científicas assinaram um acordo, organizado pela fundação Wellcome Trust, com o objetivo de tornar a pesquisa sobre o novo coronavírus disponível o mais rápido possível à comunidade científica e ao público em geral. Os signatários passaram a disponibilizar tanto artigos que ainda não haviam sido revisados por pares quanto os já submetidos à avaliação, publicados nos periódicos. Movimentos similares foram realizados em 2002, com a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), e em 2015, com o vírus zika. Mas a proporção da atual pandemia, e sua ameaça a milhões de vidas, tem acirrado o debate sobre a comunicação da pesquisa acadêmica – que envolve o bilionário mercado editorial científico – e suas implicações à ciência. No artigo de opinião “The Coronavirus (Covid-19) outbreak highlights serious deficiencies in scholarly communication”, publicado no blog da London School of Economics and Political Science (Reino Unido), Vincent Larivière, Fei Shu e Cassidy Sugimoto argumentam que o atual sistema de comunicação acadêmica não atende às necessidades da ciência e da sociedade e refletem sobre os esforços realizados até então para permitir que a pesquisa esteja amplamente disponível, em vez de encerrada em publicações de acesso pago. Na opinião dos autores, embora o acordo entre as editoras tenha sido positivo, o conhecimento disponibilizado ainda representa uma proporção muito pequena de toda literatura existente sobre coronavírus e não considera a interdisciplinaridade da pesquisa biomédica e a importância das contribuições de várias áreas do conhecimento para o desenvolvimento científico. Larivière, Shu e Sugimoto defendem o acesso público e imediato à integralidade das pesquisas. Acesse o acordo em: <https://bit.ly/2UAf3nu>. O artigo, em inglês, está disponível em: <https://bit.ly/3aOz2V6>.
2. O cuidado com falsas esperanças – Com a crise mundial gerada pela pandemia do novo coronavírus, a comunidade científica internacional tem sido desafiada a desenvolver soluções para diagnóstico e tratamento da Covid-19 em tempo recorde. Segundo H. Holden Thorp, editor-chefe da prestigiada revista científica Science, o cenário é pior do que “consertar o avião enquanto ele voa” – é como se os cientistas consertassem uma aeronave em pleno voo, sem que ela sequer estivesse pronta antes de decolar! Isso porque a urgência da pandemia não condiz com o ritmo usual de funcionamento do método científico. No editorial da última edição da revista, intitulado “Underpromise, overdeliver”, Thorp alerta que políticos têm anunciado avanços científicos na área de maneira irresponsável, dando falsas esperanças à sociedade, tanto no que diz respeito à eficácia dos testes de confirmação da doença quanto nos prazos para desenvolvimento e fabricação de vacinas e tratamentos. De acordo com o editor, se a comunidade científica for capaz de produzir as respostas esperadas, a confiança do público na ciência poderá aumentar substancialmente. No entanto, se os cientistas contribuírem – ainda que involuntariamente – com tais esperanças e não conseguirem gerar tais respostas, as consequências para a ciência podem ser terríveis. Por isso, Thorp defende que a ciência “prometa menos e entregue mais”. Leia gratuitamente em inglês em: <https://bit.ly/39R0cJQ>.
3. A percepção dos italianos sobre a Covid-19 – Estudo realizado entre 3 e 10 de março apontou que um em cada cinco italianos subestimava a ameaça representada pelo novo coronavírus, sobretudo jovens e aqueles que se informavam sobre a pandemia pelas redes sociais. Esse é um dos resultados da pesquisa Observa Science in Society Monitor – publicada em 21 de março no blog da revista Public Understanding of Science. A enquete, que entrevistou cerca de mil italianos acima de 15 anos, identificou que as fontes de informações mais usadas para saber sobre a pandemia foram TV/rádio (apontados por 52% dos respondentes), seguidas por sites de instituições oficiais (20,5%). A partir de uma análise de cluster, a pesquisa identificou três principais tipos de atitudes dos italianos frente à pandemia: o “isolamento confiável”, o “fatalismo das redes sociais” e o “menosprezo desinformado”. A categoria “isolamento confiável” (48% das pessoas) incluiu os italianos que tomavam precauções pessoais, seguiam as indicações oficiais e julgavam positivamente a administração da crise pelas instituições. O fatalismo das redes sociais (30%) corresponde ao grupo que julgava que a pandemia estava fora de controle, sendo o indivíduo incapaz de fazer muito para contê-la. Para esse grupo, as mídias sociais e os contatos pessoais eram as principais fontes de informações e a avaliação da atividade das instituições era negativa. Já o “menosprezo desinformado” (22%) abrangeu os italianos que não estavam buscando informações, não se sentiam capazes de julgar a eficiência das instituições e tendiam a subestimar o nível de perigo. É fundamental considerar, entretanto, que os dados foram coletados num momento em que a Itália estava ainda longe de registrar os números alarmantes de mortes e pessoas infectadas pelo novo coronavírus. Os pesquisadores pretendem repetir o estudo em cerca de uma semana, quando talvez seja possível vislumbrar se a mudança de cenário do país implicou em alguma mudança nas percepções e atitudes de seus cidadãos a respeito da pandemia. Leia mais em: <https://bit.ly/2WUt5BW>.
4. Covid-19: 10 iniciativas “tops” de divulgação científica – Com tantas informações disponíveis sobre a pandemia do novo coronavírus, a Sociedade Americana de Bioquímica e Biologia Molecular (ASMMB, em inglês) organizou uma lista com o que considerou alguns dos melhores artigos e multimídias sobre o assunto. A lista é composta por 10 itens, com diferentes níveis de informação e complexidade de mídias. Uma delas é a cartilha ilustrada “O que preciso saber sobre o novo coronavírus de 2019?” – desenvolvida por uma virologista e uma artista plástica e disponível em português, além de outras línguas – que pode ser utilizada com crianças e pessoas com poucas informações sobre temas de ciência e saúde (https://bit.ly/2UyIZR4). Outro destaque é o artigo “How soap absolutely annihilates the coronavirus”, do site americano Vox, que explica em detalhes como o sabão destrói o vírus da Covid-19. O vídeo que o acompanha é o grande destaque. Combina animações, experimentos que qualquer pessoa pode fazer em casa e mostra como o sabão destrói o novo coronavírus quando lavamos as mãos com sabão (https://bit.ly/344unMk). As etapas dos testes para a Covid-19, além da diferenciação de seus sintomas de uma gripe e um resfriado comum, são exploradas em detalhes no texto “How testing for Covid-19 works”, publicado na revista eletrônica neozelandesa The Spinoff (https://bit.ly/2JBOvMg). Acesse a lista completa em: <https://bit.ly/2R3gadt>.
5. Dicas para jornalistas que cobrem a pandemia – Em meio a uma crise de saúde global, desafios se impõem a diversas categorias profissionais. Uma delas é a de jornalistas, que precisam lidar com um assunto complexo ainda pouco conhecido por especialistas. Nesse cenário de incertezas, uma das dificuldades é informar o público sem, por um lado, gerar pânico nem, por outro lado, suscitar falsas expectativas. Para ajudar a orientar esses profissionais, o site The Open Notebook publicou a reportagem “Tipsheet: Covering the Coronavirus Epidemic Effectively without Spreading Misinformation”, de Laura Helmuth, com dicas valiosas para os repórteres. Duas delas dizem respeito a como tratar fake news ou teorias conspiratórias: se uma teoria mal intencionada ainda é incipiente, a autora recomenda que se evite chamar ainda mais atenção sobre ela, pois a repetição do assunto faz com que ele pareça verdadeiro. No entanto, se uma informação errônea já ganhou proeminência, é hora de desmenti-la: é importante que se diga logo que ela é falsa, sem rodeios, de preferência já na manchete. Esclarecimentos simples e breves são, em geral, mais eficientes. O texto está disponível gratuitamente em inglês (https://bit.ly/2ULKmux) e espanhol (https://bit.ly/2ykbv08). Também a Rede de Jornalistas Internacionais publicou em seu site “10 dicas para cobrir Covid-19” (disponível em vários idiomas). O autor Taylor Mulcahey sugere, por exemplo, que repórteres não negligenciem histórias que não são empolgantes. Uma dica pode ser concentrar esforços em responder as perguntas do seu público-alvo e usar a ferramenta Google Trends para entender melhor que tipo de informações as pessoas estão buscando. Acesse o texto em português em: <https://bit.ly/3dEZwu6>.
6. Para evitar falsas notícias e ampliar as informações de qualidade – No momento delicado por qual passa o mundo, inúmeros desafios se colocam: um deles é a luta por informar bem a população sobre a pandemia de Covid-19. Parte deste esforço se dá pela produção de conteúdo de qualidade e, em alguns momentos, lutar contra informações falsas que circulam, sobretudo e mais rapidamente, em mídias sociais. Neste sentido, é importante que as instituições de pesquisa estejam presentes nas redes sociais digitais. Assim como em epidemias anteriores, como a de Zika, por exemplo, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) mantém atualizada uma seção de perguntas e respostas em seu site (https://bit.ly/3dO5EAh), além de informações gerais sobre suas ações de pesquisa, cooperação, comunicação e atendimento (https://bit.ly/3bOPCEO). Os conteúdos – em textos, vídeos e imagens – estão disponíveis ainda no Instagram (https://bit.ly/2WZypEp) e Facebook (https://bit.ly/3bLZPS8). Algumas unidades da Fiocruz, como o Instituto Oswaldo Cruz, seguem na mesma linha. Um dos vídeos produzidos, disponível no site do instituto e no Youtube (https://bit.ly/3aOQbOG), traz uma mensagem da equipe do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo sobre “a distância que nos une”. Comunidade científica, instituições de ciência, divulgadores e sociedade, uni-vos em busca de informações de qualidade!
7. Dossiê traz reflexões sobre fake news, ciência e saúde - A circulação de rumores, informações falsas, incorretas ou incompletas nas plataformas de mídias sociais e outras mídias de comunicação digital tem alcance e velocidade impressionantes, afetando diferentes áreas, incluindo a saúde. Como lidar com esse fenômeno, especialmente em períodos de surtos? O fact-checking e a inteligência artificial têm sido especialmente utilizados para combater as fake news, mas há um grande debate na comunidade científica sobre a eficácia dessas estratégias. Para Marco Antônio Roxo da Silva e Seane Alves de Melo, editores do “Dossiê: Fake News e Saúde”, da última edição da Revista Eletrônica de Comunicação, Informação e Inovação em Saúde-RECIIS, as estratégias não serão eficientes sem uma melhor compreensão do fenômeno sob diferentes ângulos. Neste sentido, reuniram cinco artigos que abordam diferentes aspectos das fake news relacionadas à saúde e uma entrevista com Afonso de Albuquerque, pesquisador do Departamento de Estudos Culturais e Mídia da Universidade Federal Fluminense, na qual discute as implicações comunicacionais do discurso das fake news na política e na ciência. Os estudos trazem reflexões sobre ações em mídias sociais e impressas contra desinformações, crise de autoridade do meio científico, verificação de informações e a legitimação de discursos, credibilidade no jornalismo profissional e a sua construção, entre outras temáticas. O dossiê conta, ainda, com um texto do pesquisador Silvio Waisbord, da George Washington University (EUA), que discute as transformações da produção, distribuição e consumo das informações em saúde e suas implicações. O dossiê está disponível em: <https://bit.ly/342E0LH>.
8. Ciência na quarentena – Como a ordem geral agora é não sair de casa, museus e centros de ciência do Brasil fecharam suas portas para visitação. Mas isso não quer dizer que as instituições pararam de trabalhar nem tampouco que o público tem que ficar longe da ciência. Toda semana, vários museus preparam atividades online para manter a comunicação com seus visitantes. Para saber o que está rolando, acesse a página da Associação Brasileira de Centros e Museu de Ciência (ABCMC) no Facebook (https://bit.ly/2wjJDIX) e busque pelo tópico “Ciência na quarentena”. Lá, a ABCMC posta uma compilação das atividades da semana. Se você trabalha em um museu, não deixe de cadastrar as atividades de sua instituição no formulário disponibilizado na mesma página, para que elas ganhem visibilidade. Outra dica é acompanhar no Instagram (www.instagram.com) a hashtag #museuemcasa, que chama atenção para o que os museus (não só os de ciência) vêm fazendo para o público, que não pode deixar suas casas.
9. Adiada conferência PCST 2020 – Em consequência da pandemia do novo coronavírus, um dos mais importantes eventos científicos na área de divulgação científica, a Conferência Internacional de Comunicação Pública da Ciência e da Tecnologia (PCST Conference), que seria realizada de 26 a 28 de maio de 2020 na cidade escocesa de Aberdeen, foi adiado. Ainda não há definição de nova data para o evento, mas os organizadores consideram realizá-lo em março ou abril de 2021. Em nota, a Universidade de Aberdeen informou, entre outros tópicos, que aqueles que já haviam se registrado e acreditam que não vão poder participar do evento em 2021 devem enviar mensagem ao email <Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.> com o título “PCST postponement / cancellation”. A universidade enfatizou, no entanto, que a equipe é reduzida e está trabalhando em sistema de home office, por isso, pede paciência e solicita ainda que não seja enviado mais de um email por pessoa com o mesmo assunto. Mais informações estarão disponíveis em breve em: <https://www.pcst.co/>.