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Olá, eu sou Felipe Chuquer, do projeto Planta Vida, e hoje o assunto é etnobotânica.

A etnobotânica nada mais é do que a ciência que estuda, simultaneamente, as contribuições da botânica e da cultura, evidenciando as interações dinâmicas entre as sociedades humanas e as plantas. Também inclui o estudo das aplicações e dos usos tradicionais dos vegetais pelo homem, permitindo um melhor entendimento das formas pelas quais as comunidades pensam, classificam, controlam, manipulam e utilizam espécies de plantas.

O uso de plantas com finalidades medicinais é uma prática bastante comum em todo o mundo, principalmente por populações rurais. No Brasil, aproximadamente 80% da população consome produtos de origem natural para o tratamento de enfermidades, especialmete plantas medicinais. As atividades de registrar o uso desses vegetais e, também, investigar os processos de cultivo e manejo fazem parte do trabalho dos etnobotânicos.

Os pesquisadores Odara Horta Boscolo, do Instituto de Biologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), e Marcelo Neto Galvão, do Instituto de Tecnologia em Fármacos da Fundação Oswaldo Cruz (Farmanguinhos/Fiocruz), fizeram uma pesquisa com o objetivo de analisar quantitativa e qualitativamente o uso medicinal de espécies vegetais a partir dos saberes das comunidades de Galdinópolis e Rio Bonito, ambas localizadas no município de Nova Friburgo (RJ).

Para isso, os pesquisadores foram a campo e fizeram contato com moradores locais que demonstravam possuir conhecimentos sobre o uso de plantas. A partir desses contatos, foram obtidos outros informantes, caracterizando a técnica “bola de neve”, a qual permitiu a realização de 18 entrevistas. As plantas citadas pelos informantes foram coletadas e depositadas em hérbario para identificação e análise. Os resultados da pesquisa foram publicados este ano na revista Fitos, um dos periódicos científicos da Fiocruz.

Nas conversas, foram citadas mais de 200 espécies de plantas para variados usos, sendo 20% para o sistema digestivo, 15% para o sistema respiratório, 10% para o sistema urinário, 8% para o sistema nervoso, 7% com propriedades analgésicas, 7% para problemas sanguíneos, 6% para machucados e 32% para outras indicações diversas, como cosméticos, repelentes e até simpatias e benzeduras, destacando-se as particularidades culturais das comunidades e a importância de respeitá-las. Também houve relatos de plantas tóxicas. 

Mesmo evitando medicamentos de origem sintética, os moradores das comunidades têm noção das contraindicações das plantas medicinais, o que reforça as premissas do uso seguro e racional. Os entrevistados alertaram que não basta apenas conhecer as plantas medicinais; também é necessário saber as formas de preparo. O local onde as plantas são encontradas é importante: não coletam na beira da estrada nem perto de plantações que utilizam agrotóxicos, sempre procurando aquelas viçosas e em bom estado. O conhecimento dinâmico mostrado pela população é resultado, principalmente, de informações que foram sendo passadas, ao longo de tempo, entre parentes e vizinhos, que, inclusive, têm o hábito de trocar plantas entre eles. 

As comunidades de Galdinópolis e Rio Bonito apresentam uma relação íntima com a biodiversidade local, principalmente no que tange a categoria das plantas medicinais. A riqueza do conhecimento que essas comunidades têm sobre as plantas medicinais fica evidente na diversidade de espécies citadas. Com base na valorização e no respeito a esse conhecimento tradicional, deve-se estimular a implementação de ações públicas voltadas à saúde, ao desenvolvimento sustentável e ao uso seguro e racional de plantas medicinais, pautadas pela Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos.

Publicado em 19/12/2019.

 

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