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Imagem cedida por Rayane.

Como você se informa sobre notícias de ciência? Acessando portais de notícia on-line? Assistindo a canais de divulgação científica no YouTube? Vendo televisão? Há vários meios pelos quais podemos obter notícias sobre ciência, tecnologia e saúde. Jornais impressos, por exemplo, são um deles. Este meio de comunicação foi o objeto de estudo de Rayane Saraiva, que concluiu, em 2018, o mestrado em Divulgação da Ciência, Tecnologia e Saúde pela Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz). 
Saraiva teve como objeto de estudo o jornal O Globo, um dos veículos de maior circulação no país, e estudou a percepção de jornalistas generalistas sobre ciência e matérias escritas por estes profissionais. No meio jornalístico, os profissionais generalistas são os que cobrem e escrevem sobre diversos temas, já os especialistas costumam escrever matérias e reportagens sobre assuntos específicos. Por exemplo, os de ciência, economia, esportes e outras áreas. “Decidi, junto com minha orientadora, encarar o desafio de investigar como sete jornalistas generalistas compreendem a ciência e como suas percepções influenciam na elaboração de matérias com temática científica. Creio que esta seja uma parte importante da divulgação da ciência que ainda é pouco explorada”, explica. Vamos entender a pesquisa dela? Acompanhe a entrevista:


Museu da Vida: Você poderia nos explicar o que realizou em sua pesquisa e como foi sua metodologia?
Rayane Saraiva: Eu entrevistei sete jornalistas generalistas do jornal O Globo e analisei 24 matérias jornalísticas, com temática científica, feitas por estes profissionais. Para analisar as respostas das entrevistas e as notícias, utilizei um método chamado análise de conteúdo. Elaboramos alguns critérios para escolher os jornalistas. Foram convidados profissionais de diferentes editorias, como Sociedade, Rio, Mídias Digitais e Vídeo. No total, foram estabelecidas 17 categorias de análise para as matérias, como origem da matéria (para verificar se o texto tratava de uma notícia nacional ou internacional); menção na primeira página do jornal (para observar a relevância dada às matérias de ciência); recursos visuais utilizados; entre outras. No entanto, o coração da pesquisa está nas categorias elaboradas para as entrevistas. Lá é possível encontrar os temas que os jornalistas mais associam à ciência; como definem ciência; seus interesses por temas científicos; temas de ciência que eles mais gostam de cobrir e os que menos gostam, entre outros.   

Museu da Vida: Quais resultados você notou entre os jornalistas?
Rayane Saraiva: Foi possível notar que os jornalistas com mais tempo de atuação no impresso, na faixa etária entre 40 e 50 anos, encaram certos assuntos - como notícias ligadas à história e ao dia a dia da cidade - como temas apartados da ciência. Isso ilustra uma visão conservadora, pois eles não associam esses temas a ações e conhecimentos científicos. Além disso, alguns desses jornalistas utilizaram imagens em seus textos que reforçam o estereótipo do cientista, ou seja, a figura da pessoa que trabalha em bancada, homem e cercado por livros, deixando clara sua visão tradicional. Já os jornalistas na faixa etária de 20 a 35 anos se distanciam dessa visão tradicional ao utilizarem, em suas matérias, fotos que ilustram mulheres exercendo a atividade científica e ao considerarem que a ciência perpassa por todas as áreas do conhecimento.

Imagem cedida por Rayane.

Museu da Vida: A pesquisa concluiu que os sete jornalistas generalistas possuem, sim, interesse na ciência, com foco em temas de medicina e saúde. Por quê?
Rayane Saraiva: Creio que o interesse recorrente por temas ligados à medicina e à saúde está associado ao fato de essas pautas estarem presentes no cotidiano de todos os indivíduos. Afinal, estamos expostos a diferentes tipos de doenças e, ao longo de nossas vidas, ficamos doentes, vamos ao médico, presenciamos diferentes epidemias e endemias. Desta forma, esses assuntos tornam-se comuns em nossas vidas, despertando nosso interesse. No que diz respeito a outros temas de ciência, acredito que há um certo afastamento, pois as pessoas não conseguem visualizar como determinadas temáticas podem influenciar em suas vidas. São assuntos que, geralmente, estão distantes da realidade das pessoas e podem ser colocados em segundo plano. Porém, isso não significa que as pessoas não possuem interesse ou que nunca irão buscar informação sobre esses outros temas. 

Museu da Vida: Os jornalistas generalistas se mostraram otimistas em relação à ciência?
Rayane Saraiva: De fato, os sete entrevistados mostraram-se otimistas em relação à ciência. Para eles, o conhecimento advindo das investigações científicas colabora para o desenvolvimento de toda a sociedade e ajuda a compreender o mundo em que vivemos. Na minha opinião, a visão mais positiva do que negativa está ligada ao pouco contato dos jornalistas generalistas com a área científica e ao tempo escasso que possuem para refletirem sobre o assunto. Contudo, ao analisar as matérias escritas por eles, nota-se que esta não é uma visão totalmente romantizada. As críticas à ciência aparecem, mas com menor frequência, na medida em que seus avanços interferem no bem estar da sociedade.  

Museu da Vida: Você cita que os jornalistas são “importantes atores no processo de comunicação”. Por quê?
Rayane Saraiva: Acredito que o jornalismo é uma forma social de conhecimento, e o jornalista é um narrador da sociedade. Os jornalistas, de uma forma geral, ocupam um lugar de interlocução e diálogo com a população, tornando-se uma fonte de referência e informação. Além disso, eles são responsáveis por promover o debate das questões sociais tidas como mais relevantes.

 

Publicado em 04/01/2019

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