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A ideia era investigar a recepção de matérias de ciência do Jornal Nacional, da TV Globo, por parte de um grupo específico de telespectadores do programa: mulheres com 60 anos ou mais. As idosas foram convidadas a assistir, em grupos, a matérias sobre ciência veiculadas no telejornal. A exibição dos vídeos motivou conversas, que foram gravadas, transcritas e analisadas pela jornalista Brena Pires. Esse trabalho resultou na dissertação defendida por Brena no Mestrado em Divulgação da Ciência, da Tecnologia e da Saúde, parceria entre a Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, o Mast, a Fundação Cecierj e a UFRJ. No “Conta aí, mestre”, Brena fala da importância de estudar esse segmento de público e da percepção que as idosas têm sobre a ciência. 

Museu da Vida: Por que a escolha de mulheres com 60 anos ou mais? 
Brena Pires: O gênero feminino e a terceira idade são pouco representados em estudos de público. Especificamente os idosos têm uma relação histórica com a TV porque, como telespectadores, são testemunhas de todas as fases desses 68 anos de existência da televisão brasileira. Além disso, pessoas a partir de 50 anos representam 26% da audiência televisiva. Por essas razões, o grupo de telespectadores investigado na minha pesquisa tem potencial de oferecer relatos únicos sobre a recepção das matérias de ciência veiculadas no Jornal Nacional, principal telejornal brasileiro, líder de audiência, segundo Pesquisa Ibope realizada em junho de 2018. Saber o que o público estudado pensa sobre a ciência e os cientistas pode apontar caminhos para uma divulgação científica cada vez mais eficiente no telejornalismo.

Museu da Vida: As participantes da pesquisa assistiram a quais matérias?
Brena Pires:
Elas assistiram, em grupos, a uma parte da edição do Jornal Nacional de 10 de maio de 2016. Nessa data, o telejornal exibiu mais de uma matéria de ciência, três ao todo: uma sobre como o vírus da zika age em uma célula nervosa em formação e prejudica o desenvolvimento do cérebro de bebês durante a gravidez de mulheres infectadas; outra sobre a criação em laboratório de uma segunda pele capaz de camuflar rugas; e a terceira sobre a descoberta da Nasa de 1284 planetas. Os temas diversificados envolveram a divulgação de pesquisas nacionais e internacionais, além da participação de homens e mulheres cientistas. Todos esses elementos motivaram a escolha do material exibido para os grupos, porque davam às participantes conteúdos de estímulo para estabelecerem uma conversa sobre a ciência e os cientistas.

Museu da Vida: O que você observou em relação à percepção das idosas sobre a ciência?
Brena Pires:
As idosas manifestaram interesse em assuntos de “medicina e saúde”, tema dentre os mais abordados na cobertura de ciência do Jornal Nacional, segundo dados de estudos realizados em 2013 e 2017, o primeiro por minha orientadora, Marina Ramalho, e o segundo por mim, no curso de especialização. As participantes referiram-se aos cientistas como um grupo restrito e privilegiado de intelectuais e à ciência como algo distante da população, porque veem os cientistas como pessoas com nível superior de escolaridade, enquanto boa parte dos brasileiros não têm acesso à educação e se sente à margem do conhecimento, seja para obtê-lo ou produzi-lo. Nessa perspectiva, há um distanciamento da ciência e dos cientistas do público em geral. Essa situação pode ser minimizada, em parte, por iniciativas de divulgação científica. Algumas participantes relataram que buscam informações sobre ciência no YouTube para ampliar conhecimentos e aplicá-los no dia a dia. O interesse no consumo de conteúdo científico on-line indica um caminho promissor para a atuação em divulgação científica.

Museu da Vida: Quais críticas elas fizeram? 
Brena Pires:
As participantes foram unânimes na crítica à predominância de temas sobre política e violência na cobertura do Jornal Nacional, assuntos sem ligação com as matérias de ciência assistidas pelas idosas. Sobre as matérias de ciência, não houve uma crítica que tenha sido consenso: houve relato de dúvida a respeito do conteúdo de uma notícia; observação de que determinada matéria poderia ser mais abrangente; e questionamento da rapidez de apresentação dos temas. As idosas, em sua maioria, consideraram a linguagem das notícias compreensível, acharam o conteúdo das matérias detalhado e qualificaram os temas como interessantes e importantes. Elas ressaltaram a utilidade das informações das matérias no dia a dia e preferiram a notícia sobre zika porque “envolve vida”. Algumas reclamaram do aspecto emocional das notícias, que suscita o medo e a tristeza, e ocasiona a desistência de ver o programa, em alguns casos.

Museu da Vida: As controvérsias da ciência apareceram nas conversas?
Brena Pires:
As controvérsias da ciência e os riscos ou danos resultantes da atividade científica não foram mencionados na cobertura do Jornal Nacional selecionada e também não apareceram nas conversas em grupo. A ciência foi retratada pelas participantes de forma positiva, relacionada, principalmente, a descobertas e suas utilidades na vida das pessoas. As idosas manifestaram muito interesse em assuntos relacionados à saúde porque buscam envelhecer com qualidade de vida. Considerando os resultados do estudo, acredito nos divulgadores científicos ocupando as redações e trabalhando para colocar a ciência em destaque nos veículos de comunicação. Isso gera expectativa de coberturas com abordagem mais ampla da ciência, incluindo seus aspectos controversos, que podem ser de conhecimento do público e, possivelmente, identificados por ele na recepção televisiva. Quanto mais difundida a ciência, mais contribuiremos para a sua popularização. 

Brena Pires é autora da dissertação "A percepção da ciência entre mulheres da terceira idade: um estudo de caso com matérias do Jornal Nacional", defendida em 31 de julho de 2018, com orientação das pesquisadoras Marina Ramalho e Luisa Massarani.

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