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Por Melissa Cannabrava

A educadora Hilda Gomes e a bolsista da Seção de Formação do Museu da Vida Andressa, integrante surda contemplada no Programa Jovem Aprendiz.

A educação é um dos campos de fundamental importância para o enfrentamento da iniquidade social. Ela permite que os indivíduos e grupos possam se inserir na dinâmica da sociedade e também no fluxo da cultura humana. Citando Paulo Freire, a coordenadora da Seção de Formação do Serviço de Educação do Museu da Vida, Hilda da Silva Gomes, diz que a educação tem que ser apropriada como ato de intervenção no mundo e essas intervenções têm que estar sempre a serviço das formações sociais.

Seguindo a definição do International Council of Museums (ICOM), de 2007, o museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, fazendo com que esse espaço seja aberto ao público que adquire, conserva, difunde, investiga e expõe o material da humanidade. É um espaço de muitos saberes.

“A gente compreende que, por conta da complexidade da sociedade, a difusão da construção de conhecimento e dos diferentes saberes não se dá apenas na escola, e nem em espaços informais, como família e grupos religiosos, mas, sim, em outros espaços da natureza educativa, como os museus”, explica. Hilda defende a educação museal como um processo que deve ser integral e integrado com outras formas de educação.

De acordo com o site educaçãomuseal.org, Educação Museal é "um processo educativo, focado no indivíduo e sua interação com a sociedade, que valoriza suas formas de fazer e viver a cultura, a política, a história”. Compartilhando a experiência na área da educação, com ênfase em metodologias e prática de pesquisa, a educadora diz que cada experiência é única, sendo o museu um espaço privilegiado para articulação de aspectos afetivos, cognitivos, sensoriais e de troca simbólica.

“Quando eu recebo o público no museu, eu não faço desse encontro apenas um momento de apresentação de roteiro. É um momento de viver uma experiência nova, porque cada pessoa, cada grupo que nos visita, traz experiência, conhecimento, curiosidade e às vezes até desinteresse. Se forem grupos escolares, como é a maioria do nosso público, é um momento de sair da escola e, talvez, para algumas pessoas, o museu é considerado um lugar monótono. Para outras, um lugar rico de vivências, compartilhamentos e troca de ideias. Só a gente sabe qual é o script e só a gente sabe o que a gente tem para dizer".

Os direitos das pessoas com deficiência em espaços museais

Especializada em acessibilidade cultural pela UFRJ, Hilda é coordenadora do Grupo de Trabalho de Acessibilidade do Museu da Vida, uma das coordenadoras do Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça, da Fiocruz, e integrante do Comitê Fiocruz pela Acessibilidade e Inclusão das Pessoas com Deficiência. Para a educadora, defender a representação e os direitos das pessoas com deficiência é fundamental. Para isso, a educação tem papel importantíssimo.

“O conhecimento científico não é algo muito acessível para qualquer pessoa, principalmente pra quem tem alguma limitação, que passa pela questão da comunicação. Se eu não consigo me informar, eu não consigo me comunicar. Essa comunicação se faz de uma forma mais presente na comunidade. O mundo é muito visual, muito auditivo. E para uma pessoa cega, que não tem nenhuma memória visual, ou para quem ficou cego em um momento mais tardio? Como construir o conceito se não há informação? Um museu de ciências tem a responsabilidade de tornar as informações mais acessíveis, olhando para as especificidades das pessoas. A criança cega tem que ter o direito de viver uma experiência como um criança vidente. Para isso, precisamos criar estratégias específicas", defende.

Defender a acessibilidade atitudinal é trabalhar a percepção do outro sem discriminações, estereótipos, preconceitos e estigmas. A Lei Brasileira de Inclusão (LBI), feita a partir de um decreto em dezembro de 2004, demorou mais de dez anos para entrar em vigor e, em 2015, foi implementada como uma política pública com reconhecimento do protagonismo e da participação das pessoas com deficiência na sociedade.

“Em relação à questão de políticas públicas e acessibilidade, a gente tem, ao longo de algumas décadas, movimentos importantes em defesa das pessoas com deficiência, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, redigida pela ONU, conferências e encontros que aconteceram no século XX, capitaneados por vários países. No momento, temos documentos que nos orientam, entre eles a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. É um documento relevante por ser o primeiro instrumento de direitos humanos do século XXI e traz uma intenção explícita de desenvolvimento social, mudando o paradigma de atitudes e enfoque em relação às pessoas com deficiência”, comenta Hilda. No documento citado, buscando pelo artigo 30, entendemos que: "as pessoas com deficiência têm o direito de participar em condições de igualdade na vida cultural e ter acesso a locais que ofereçam serviços e eventos culturais, como teatro, cinemas, bibliotecas, serviços turísticos e museus".

“Meu trabalho atual está muito focado em implementar a acessibilidade atitudinal, para que a gente consiga abrir corações e mentes para isso. A militância a favor da acessibilidade plena vai partir do conhecimento de que ela não existe e temos que construir. Nosso trabalho está voltado para olhar a Constituição Brasileira, a declaração de Direitos Humanos, a definição de museu, o programa e a política de educação museal, pensando em construir no museu uma dimensão importante de acessibilidade, que é a atitudinal. Sem que eu tenha empatia, eu não consigo construir esse elo, não consigo potencializar, oportunizar, possibilitar experiências ricas”, finaliza Hilda, convidando-nos à reflexão.

 

Publicado em 22 de maio de 2020
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