Ir para o conteúdo

Por Melissa Cannabrava e Renata Fontanetto

 

Foto: Favela do Mandela, por Bruno Itan

A página "Favelas Contra o Coronavírus" (FCC) surgiu a partir de uma ideia de coletivos de comunicadores populares e coletivos de favelas. A jornalista Jacqueline Fernandes, criadora do site Hordas, é da equipe que administra a página e conta que uma das missões da FCC é transmitir informações sobre o vírus de uma maneira clara para o morador da favela, além de investir em conteúdo visual como estratégia.

“Uma das principais questões levantadas pelo grupo é que as informações, em muitos momentos, não são passadas de forma clara para os moradores. A linguagem e a abordagem da notícia precisam ser diferentes para eles, que, muitas vezes, só se informam por fake news e propagadas nas redes sociais. Nós criamos proximidade. Por isso, nos preocupamos com um conteúdo visual mais atrativo, com matérias acompanhadas por um médico, uma jornalista e uma pesquisadora”, explica Jacqueline. 

O Favelas Contra o Coronavírus conta com a parceria de Mariana Nogueira, que é professora, pesquisadora da Fiocruz e membro do Conselho Comunitário de Manguinhos; Viviane da Rosa, jornalista da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, da Fiocruz, responsável pelas mídias sociais e pela produção de conteúdo para Agentes Comunitários de Saúde; e Carlos Vasconcellos, médico do Nenhum Serviço de Saúde a Menos e responsável por tirar dúvidas e auxiliar a equipe. A produtora internacional Hungry Man também é parceira na produção de mídias para o grupo. A empresa já trabalha em uma ação que deve mobilizar famosos e será lançada em breve.

Impacto na rotina

Aline Santos de Souza, de 40 anos, conta que ficou sabendo da doença através da televisão e, desde então, tem mudado a rotina de toda a família. A copeira revela que está assustada e, apesar de não conhecer tanto sobre o vírus, sabe que a situação é grave:

“Tô com medo. Não vou esconder e nem negar. Minha filha está trabalhando no aeroporto e a amiga dela já apresenta alguns sintomas. Aqui na minha casa tem uma cisterna e a gente não fica sem água. Consigo lavar as mãos e manter o ambiente limpo, mas muitos dos meus vizinhos estão com a torneira seca e assim fica mais impossível manter a higiene de acordo com o que estão pedindo”. 

Sem dinheiro para comprar álcool em gel e outros itens para a higiene recomendados pelo Ministério da Saúde, Aline improvisa, mas não deixa de fazer o máximo para cuidar da família. “Assim que a gente chega, a primeira coisa é lavar o sapato e já coloco as roupas para lavar também. Aqui é precário, mas estamos nos adaptando”, conta. Aline mora no Beco das Casas Bahia, no Complexo do Alemão, onde vive com o marido, duas filhas e o neto. De acordo com a pesquisa "Coronavírus nas favelas", realiza pela Data Favela, Locomotiva e a Central Única das Favelas (Cufa), a moradora faz parte dos 86% de pessoas que vivem em periferias e temem não conseguir comprar comida nas próximas semanas. Assim como a copeira, cerca de 54% dos entrevistados acreditam que o risco de serem desligados das empresas durante o surto da doença é grande e 78% deles conhecem alguém que já teve diminuição de renda por conta da pandemia.

Favelas mobilizadas, mas Agentes Comunitários de Saúde deveriam receber assistência

Crédito: Página da Comacs no Facebook

A atuação dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), oficialmente implementada pelo Ministério da Saúde em 1991, inspira cuidados num momento de crise sanitária. Geralmente, os ACS são pessoas que atuam junto aos moradores de favelas e áreas periféricas, levando orientações sobre serviços de saúde, informações sobre prevenção e realizando outras atividades. Por morarem na localidade onde atuam, esses profissionais fazem a ponte entre os serviços de saúde oferecidos pelo poder público e a população. Segundo a Política Nacional de Atenção Básica de 2012, uma das atribuições dos ACS é o acompanhamento de famílias por meio de visitas domiciliares.

Segundo Fábio Monteiro, da Cooperação Social da Fiocruz e integrante da Comacs de Manguinhos, "o ACS é agente 24 horas por dia, mesmo fora do horário de trabalho". Para ele, o momento trazido pela pandemia do Novo Coronavírus é de união e agilidade na comunicação. "A gente parte do princípio que sozinhos não vamos conseguir fazer nada", explica. Pensando nisso, diversos coletivos de favelas se reuniram em prol da iniciativa "Favelas contra o Coronavírus", buscando levar informações de páginas oficiais - como a da Fiocruz e a do Ministério da Saúde - a moradores.

Outra mobilização é a ação "Manguinhos Solidário", formada por coletivos de Manguinhos, incluindo a Comacs. A iniciativa quer arrecadar produtos de limpeza, materiais perecíveis e não perecíveis. As pessoas que quiserem contribuir podem ficar de olho na página do Manguinhos Solidário no Facebook. Todo o esforço desse trabalho coletivo e as incertezas trazidas por uma nova doença levantaram questões sobre a saúde mental dos trabalhadores da saúde que atuam na linha de frente do combate à pandemia. Por isso, numa parceria entre a Cooperação Social e o Conselho Comunitário de Manguinhos, do qual Fábio faz parte, foi possível reunir uma rede de psicólogos e outros profissionais para atender pessoas que estão em situação vulnerável, como os ACS e os Técnicos de Enfermagem, de forma on-line. 

"É uma situação angustiante. Eu ia me voluntariar para trabalhar na Clínica da Família, mas eu me vejo sendo mais útil neste momento mobilizando demandas pela internet. No dia 23, por exemplo, às 22h, ficamos sabendo que a Clínica da Família Victor Valla não ia dar a vacina da gripe no dia 24 pela manhã. Com tantos coletivos em Manguinhos, como nenhum foi procurado para passar essa informação adiante? Os idosos iriam para a clínica com o risco da contaminação. Depois das 22h, começamos a tentar comunicar os moradores. Por essa falta de comunicação e atenção, a situação da Covid-19 nas favelas pode se agravar. É por isso que estamos buscando, por meio dos coletivos e em conjunto com as unidades de saúde, traçar as melhores estratégias de informação para a comunidade", alerta.

Quer conhecer ações de favelas do Rio que estão solicitando ajuda? Acesse esta página do Dicionário de Favelas Marielle Franco.

Atualizado em 27 de março de 2020

Link para o site Invivo
link para o site do explorador mirim
link para o site brasiliana

Funcionamento:  de terça a sexta, das 9h às 16h30; sábados, das 10h às 16h.

Fiocruz: Av. Brasil, 4365, Manguinhos, Rio de Janeiro. CEP: 21040-900

Contato: museudavida@fiocruz.br | (21) 3865-2128

Assessoria de imprensa: divulgacao@fiocruz.br

Copyright © Museu da vida | Casa de Oswaldo Cruz | Fiocruz

conheça