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Atriz, cantora, compositora, escritora, professora de história. Sensível e intuitiva. Ela é Walda Domingues, a Juçara Brio Forte de “Cidadela”, novo espetáculo teatral do Museu da Vida que estreia em 16 de agosto. Sobre sua personagem, conta que “Juçara tem uma dificuldade muito grande de romper com as estruturas; ela fica muita abalada quando se vê obrigada a mudar”. Juçara é uma das muitas mulheres que têm sido invisibilizadas em Vem Quem Quer, a cidade da peça. “Às vezes, as pessoas excluídas, elas próprias não acreditam ser capazes, porque não são educadas para romper com essa exclusão e acabam aceitando o lugar que lhes é imposto. Romper com esse destino também é um trabalho nosso”, afirma Walda, que conhece muito bem o caráter social e político do teatro.

Museu da Vida: Começa contando um pouco pra gente sobre a sua trajetória profissional.
Walda Domingues:
Sou atriz, cantora, compositora, escritora, professora de história. Comecei a fazer teatro amador com 17 anos, na zona oeste do Rio de Janeiro, no Projeto Independência. Era década de 1980, final da ditadura, e o grupo tinha um repertório de protesto político. Isso foi enriquecedor, porque lá a gente aprendeu a técnica teatral, mas também um olhar crítico para o mundo. Meu primeiro espetáculo profissional foi “A bruxinha que era boa”, da Maria Clara Machado, e várias outras peças vieram. Depois, comecei a escrever, dirigir e produzir meus próprios espetáculos. Fui ganhando outro caminho mais independente. O artista nunca é uma coisa só. Minha escola foi o próprio palco, a própria vida. Só mais tarde fiz curso de montagem teatral, no Senac, e pós-graduação em educação estética em teatro, na UniRio, mas eu já era atriz profissional. Com 19 anos comecei a cantar. Escrevi peças, músicas e livro. Lancei um livro no ano passado, “Um menino de rua: um garoto invisível”, que começou como uma música que escrevi. No início da década de 1990, eu dava aulas num projeto de teatro na Vila Vintém, em Realengo, e sentia que precisava escrever algo que tivesse mais relação com a vida daqueles meninos e meninas. Então, transformei a música numa esquete teatral, que depois virou o livro. 

Museu da Vida: E a professora de história? 
Walda Domingues:
Quando eu estava com 31 anos, senti que precisava de outra base. No teatro, às vezes, tudo dá certo, você faz temporadas maravilhosas, mas tem épocas que não... Eu comecei dando aulas de teatro, de música. Quando fui para a faculdade, eu já era atriz profissional, então quis fazer outra coisa, e eu gostava de história. Terminei a graduação em história em 2003, comecei a dar aulas e isso acabou ganhando mais força. Passei 12 anos afastava do palco como atriz, só dando aulas de história e teatro. Como atriz, meu último trabalho foi em 2007, “O Povo Todo Poderoso”, uma peça que eu mesma dirigi e produzi. Tive oito anos de depressão, acho que até em função de estar afastada do teatro e outras questões pessoais. Quando vi o anúncio para o teste de atrizes aqui no Museu da Vida, bateu uma certa insegurança, porque eu estava sem praticar o ofício durante um tempo. Vou ou não vou? Que bom que eu vim, porque eu sou essencialmente artista!

Museu da Vida: Como é a Walda como pessoa?
Walda Domingues:
A Walda artista e a Walda indivíduo é praticamente a mesma coisa; não tem muita diferença, não. Sou muito sensível, muito emotiva. Acho que, por isso, os revezes da vida me atingem profundamente. O artista é uma pessoa sensível e essa sensibilidade você leva para a vida. Eu comecei como artista de forma muito intuitiva, só depois fui elaborando essa experiência, estudando, aprimorando. Hoje consigo unir a intuição à técnica, ao conhecimento. 

Museu da Vida: Qual a importância de um trabalho como esse, que valoriza a mulher negra?
Walda Domingues:
A invisibilidade da mulher negra em determinados espaços e situações ainda é muito grave. Muitas pessoas não conseguem ver a mulher negra fora dos papéis de cozinheira, babá, serviços gerais. Não são papéis indignos, muito pelo contrário! O que é indigno é você não dar espaço para o outro, não permitir ao outro acesso àquilo que pode transformá-lo num indivíduo completo. Estamos já na segunda década do século 21 e muitos espaços ainda não são ocupados pelo indivíduo negro, suburbano, pobre, nordestino, de ascendência indígena... Às vezes, as pessoas excluídas, elas próprias não acreditam ser capazes, porque não são educadas para romper com essa exclusão e acabam aceitando o lugar que lhes é imposto. Romper com esse destino também é um trabalho nosso. Daí a importância de falar da mulher, da mulher negra, para quebrar essas estruturas que impedem o nosso acesso a espaços que deveriam ser comuns. 

Museu da Vida: Conta um pouquinho sobre a sua personagem.
Walda Domingues:
Acho que a Juçara Brio Forte representa essa parcela que ainda não consegue se ver cumprindo um papel diferente daquele que lhe foi imposto. Felizmente, um número cada vez menor de pessoas aceita e acredita nesse destino. Juçara tem uma dificuldade muito grande de romper com as estruturas; ela fica muita abalada quando se vê obrigada a mudar. Mas ela deve conseguir essa ruptura; é o que a gente espera. (Na foto, Walda interpretando Juçara. Crédito: Jeferson Mendonça - COC/Fiocruz)

Museu da Vida: Como estão sendo os ensaios?
Walda Domingues:
Eu me senti à vontade desde o primeiro momento. Quando eu cheguei aqui para o teste, vi tantas mulheres negras, mulheres cis e mulheres trans, tantas mulheres incríveis! Para mim, depois de 12 anos sem atuar, já tinha valido a pena sair de casa só para poder participar do teste com elas. E ter sido selecionada foi um enorme presente. Eu não poderia retornar ao palco de maneira melhor. Estou muito satisfeita. Estou sendo o mais dedicada possível para poder agradecer com o meu trabalho por esta oportunidade que estou tendo.

Museu da Vida: Como você resumiria essa experiência em uma palavra?
Walda Domingues:
Amor. E eu quero devolver para o público todo esse amor que estou sentindo. O texto é fantástico, objetivo e científico, mas também traz muita poesia e filosofia. Agora imagina esse texto maravilhoso com sonoplastia, cenário, figurino... Aí é o paraíso!

 

Publicado em 12/08/2019.

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