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O acesso ao conhecimento para surdos nunca foi tão amplo como nos dias de hoje, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido para alcançar o melhor dos mundos. O mestre em Divulgação Científica André Fillipe de Freitas Fernandes conhece essa realidade de perto. Desde a graduação, ele já havia trabalhado com a inclusão de pessoas com deficiência auditiva em escolas e como mediador em dois museus de ciências. “Percebi que estes careciam de estratégias para receber o público com deficiência, principalmente o público com que sempre trabalhei - o surdo”, conta André, que levou a inquietação para o mestrado. O resultado foi a dissertação “A inclusão de surdos em museus de ciência: um estudo no Museu do Amanhã e no Museu da Vida”, defendida em julho. O agora mestre responde a perguntas dos seguidores do Museu da Vida e esclarece pontos importantes sobre acessibilidade. Fala aí, mestre!

Museu da Vida (@museudavida): Como se dá essa questão da acessibilidade para surdos nos dois museus de ciências estudados?
André Fillipe de Freitas Fernandes:
O foco principal do estudo foi analisar as exposições dos museus, o que eles têm feito para promover a inclusão do público surdo e os principais desafios. Minha pesquisa escolheu esses dois museus no intuito de comparar como um museu criado em 1999 (ano em que existiam poucas leis e regulamentações de acessibilidade) e outro fundado em 2015 trabalham com a inclusão de surdos. Percebemos que, independentemente dos contextos, ambos os museus começaram a desenvolver estratégias de acessibilidade recentemente. O Museu do Amanhã está um pouco na frente na capacitação de recursos humanos para receber e atender o público surdo - inclusive, o quadro de funcionários deste museu possui um educador surdo. Além disso, possui tablets com intérpretes de LIBRAS no final da exposição para auxiliar na contextualização do que foi visto. Já no Museu da Vida, encontramos duas atividades com recursos de acessibilidade para o público surdo, mas somente uma de longa duração: a esquete “Conferência Sinistra”, que contou com a tradução simultânea de três intérpretes, além da exposição temporária “Insetos Ilustrados”, que utilizou janelas de LIBRAS em alguns vídeos e tablets.

Maria Fernanda Marques Fernandes (@fernandamarques81): As visitas eram direcionadas a grupos de pessoas com deficiência auditiva ou havia integração entre visitantes com e sem deficiência? O que você observou na pesquisa sobre essa integração nos museus?
André Fillipe de Freitas Fernandes:
As visitas em ambos os museus foram somente com o grupo de surdos. Ambos os museus estão preocupados com a inclusão do público surdo e têm desenvolvido estratégias para aproximar esse público. No Museu da Vida, peças teatrais têm sido adaptadas e, no Museu do Amanhã, a presença de tablets com janela de LIBRAS já é uma realidade, além da presença de um educador surdo. 

Helena Dale (@arpef.fonoaudiologia): Partindo do princípio básico que, durante as visitas, foi oferecida acessibilidade aos surdos (intérprete de Libras e legenda), que aspecto chamou mais sua atenção em relação às visitas desse público especificamente?
André Fillipe de Freitas Fernandes:
A falta de autonomia durante as visitas. Ambos os museus não estão preparados para uma visita que garanta a compreensão dos conteúdos expositivos sem a ajuda de um intérprete e/ou educador-mediador surdo. Isso poderia ser melhorado expandindo as tecnologias assistivas disponíveis, como a contratação de intérpretes e educadores-mediadores surdos posicionados na entrada do museu, para oferecer informações sobre os espaços. Além disso, introduzir janelas de LIBRAS nos aparatos e nos vídeos, utilizar tablets com recurso de vídeo-guia para ajudar na localização do museu e na compreensão das exposições, entre outras possibilidades. 

Roberta Cristine (@roberthacristine): Qual foi ou é a maior dificuldade encontrada em facilitar a acessibilidade de pessoas surdas ou com deficiência auditiva?
André Fillipe de Freitas Fernandes:
As barreiras informacionais e comunicacionais. Tratando-se de museus de ciências, muitas palavras são difíceis de serem compreendidas pelo público surdo. Nem sempre essas palavras têm sinais equivalentes em LIBRAS. Essas questões, na maioria das vezes, não podem ser sanadas porque muitos desses espaços não possuem tecnologias assistivas (janela de LIBRAS, intérpretes...) propícias para esse público. 

Julianne Gouveia (@_amarelodeserto): A educação de surdos tem sido ampliada nos últimos anos, mas ainda requer demandas específicas. Na sua opinião, de que maneira esse contato com a ciência via museus acessíveis contribui especificamente para a formação deles?
André Fillipe de Freitas Fernandes: Essa questão foi abordada por dois surdos durante as entrevistas deste estudo. Os museus possuem um potencial educativo e científico muito grande, que, na maioria das vezes, complementa e aprofunda o que muitos estudantes aprendem na escola, universidade e cursos. Também podem ajudar na escolha profissional deles. 

Museu da Vida (@museudavida): Você citou, no resumo da sua dissertação, que trabalhou especialmente com jovens surdos. Percebeu alguma diferença geracional entre eles e pessoas com deficiência mais velhas quanto à maneira com que se relacionam com os museus? 
André Fillipe de Freitas Fernandes:
Definimos uma categoria de surdos para analisar os museus - escolhemos estudantes universitários do curso de Letras-LIBRAS da UFRJ porque, para nós, esses jovens universitários começaram a ter uma maturidade crítica para avaliar, questionar e sugerir características que beneficiem sua comunidade surda. A diferença de idade não era muito grande entre os participantes do estudo e não foi um item utilizado como critério para escolha desses jovens. 

Renata Heinzelmann (@renata.heinzelmann): Qual foi a principal conclusão da pesquisa?
André Fillipe de Freitas Fernandes:
Ambos os museus estão preocupados com a questão da acessibilidade para o público surdo. Eles têm buscado aprimorar suas atividades para esse público, mas a falta de janelas de LIBRAS nas exposições, o baixo número de profissionais especializados e a falta de autonomia durante as visitas foram os principais entraves observados. 

 

Com edição de Julianne Gouveia.
Publicado em 02/08/2019.

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