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Realizadas no século XIX e no início do XX, as Exposições Nacionais no Brasil se constituíram como movimentos de divulgação científica nos quais os estados afirmavam seu potencial, exibindo seu desenvolvimento tecnológico, econômico, industrial e arquitetônico. A Exposição Nacional de 1908, no Rio de Janeiro, comemorativa do centenário da Abertura dos Portos, marcou a criação do Museu de Ciências da Terra (MCTer), que, desde seu surgimento, teve grande importância na educação e na divulgação das geociências. O MCTer foi alvo da dissertação de mestrado da historiadora Nathalia Roitberg, que traçou um panorama histórico do surgimento do Museu e fez uma análise das estratégias que têm sido empregadas para tornar suas práticas museológicas mais eficazes. 

Se, durante muito tempo, a grandiosidade e imponência do edifício do MCTer afugentou visitantes, aos poucos, o Museu foi se afirmando como espaço público de inclusão social por meio da educação e da divulgação científica. Em entrevista ao “Conta aí, mestre”, Nathalia apresenta o contexto em que o MCTer foi criado e as transformações que têm sido implementadas para engajar os visitantes, destacando as atrações do acervo e as atividades educativas realizadas. Nathalia é egressa do curso de mestrado em Divulgação da Ciência, Tecnologia e Saúde, parceria entre a Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, o Mast, a Fundação Cecierj e a UFRJ. 

Museu da Vida: O que podemos dizer sobre a época em que o Museu de Ciências da Terra foi criado?
Nathalia Roitberg:
Desde a segunda metade do século XIX, o aumento do número de instituições científicas e, consequentemente, das iniciativas de divulgação científica contribuíram para a ideologia de construção de uma identidade nacional. Nesse contexto de valorização das riquezas nacionais, era possível observar, no espaço institucional que originou o Museu de Ciências da Terra, um local de profissionalização das geociências. O edifício do Museu funcionava como “vitrine” de um Brasil que se queria moderno e republicano. A realidade era de maior mobilidade social, doenças, mais trabalho, carência de alimentos, ordens de despejo, campanhas médicas de vacinação obrigatória e uma política de saneamento higiênico e moral da pobreza, executada, dentre outros personagens, pelo prefeito Pereira Passos e o médico Oswaldo Cruz. No cotidiano das pessoas, emergiam códigos de etiqueta necessários para frequentar as instituições numa nova sociedade “branca, científica, culta e civilizada”.

Museu da Vida: Em termos de acervo, o que um visitante pode encontrar hoje no Museu de Ciências da Terra (MCTer)?
Nathalia Roitberg:
O Museu possui um dos mais ricos acervos de minerais, rochas, meteoritos e fósseis da América Latina. Entre as principais peças do Museu, destacam-se fósseis originais do maior dinossauro do Brasil, o Austroposeidon magnificus, quatro ovos originais de dinossauro, fósseis de vegetais e invertebrados de vários pontos do Brasil. O MCTer possui também uma biblioteca composta por 100 mil volumes, além de uma biblioteca infantil vastíssima. É possível encontrar documentos históricos, como mapas, manuscritos e anotações elaborados pelos pioneiros da geologia e paleontologia brasileira, bem como fotografias, microscópios, bússolas e outros instrumentos. 

Museu da Vida: Como o MCTer contribui para a educação e a divulgação científica no campo das geociências? 
Nathalia Roitberg:
O MCTer realiza exposições temporárias e itinerantes. Ocorrem interações com as instituições científicas da área das Ciências da Terra, como as sociedades de Cartografia, Geografia, Geologia e Paleontologia. A primeira exposição com recursos tecnológicos da história do MCTer foi realizada com a Sociedade Brasileira de Geofísica. Uma das prioridades do Museu é promover atividades socioeducativas e culturais inclusivas e o trabalho com pessoas com deficiência, promovendo a acessibilidade. O papel do mediador tornou-se a chave que abre portas para a inclusão. Então, desde 2015, o Museu promove o Curso de Formação de Mediadores e Divulgadores da Ciência. Mas o MCTer não é o único a promover a educação geocientífica não-formal. O Museu Nacional – que, no dia 2 de setembro de 2018, infelizmente, ardeu em chamas – tem sido historicamente um parceiro muito importante. Tanto que a história do MCTer se confunde com a do Museu Nacional.

Museu da Vida: O que chamou sua atenção nas práticas educativas e de divulgação científica no MCTer? 
Nathalia Roitberg:
As iniciativas de divulgação científica que proporcionaram um maior engajamento, historicamente, partiram de não cientistas. Recepcionistas, colaboradores de limpeza e vigilantes fomentaram a divulgação científica do Museu. Uma interessante tradição se desenvolveu devido ao interesse dos colaboradores pelo acervo, pela educação e pelas trocas com os visitantes. O olhar dos vigilantes voltou-se aos sujeitos e objetos do Museu, e não apenas à vigilância patrimonial.

Museu da Vida: O que são modelos de divulgação científica e como eles estão presentes no MCTer?
Nathalia Roitberg:
Os modelos de divulgação científica representam a forma de transmissão da ciência para a sociedade e a percepção em relação ao processo científico. Ao longo da história do MCTer e até os dias de hoje, diferentes modelos se complementam e se sobrepõem, sem seguir uma linearidade, tampouco uma suposta evolução. O edifício imponente do Museu pode inibir o visitante e o espaço, ao longo do tempo, consolidou-se como a “a casa do cientista”. Há um grande desafio histórico a ser superado na popularização das geociências no MCTer. Entretanto, avanços têm sido feitos. Atualmente, o Museu dispõe de tablados para que as crianças possam se aproximar das vitrines. Minerais e rochas grandes e com diferentes texturas estão disponíveis ao toque de crianças, cadeirantes, cegos e pessoas com baixa visão. Também são realizadas oficinas de montagem de sistemas cristalinos com jujubas e contação de estórias geopaleontológicas nas visitas de pessoas com transtorno cognitivo ou psíquico. São iniciativas que aproximam as geociências de todos, numa real inclusão, ligada ao modelo de engajamento.

Para conhecer o Museu de Ciências da Terra (MCTer):
Endereço: av. Pasteur, nº 404, Urca, Rio de Janeiro / RJ 
Visitação: de terça a domingo, das 10h às 16h
Entrada gratuita!
Contatos: (21) 2546-0342, (21) 2295-7596, Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
Para mais informações, clique aqui

Nathalia Roitberg é autora da dissertação “A divulgação científica no Museu de Ciências da Terra: aspectos históricos e dimensões educativas”, defendida em 31 de julho, com orientação do pesquisador Ildeu de Castro Moreira.

Link para o site Invivo
link para o site do explorador mirim
link para o site brasiliana

Funcionamento:  de terça a sexta, das 9h às 16h30; sábados, das 10h às 16h.

Fiocruz: Av. Brasil, 4365, Manguinhos, Rio de Janeiro. CEP: 21040-900

Contato: museudavida@fiocruz.br | (21) 3865-2128

Assessoria de imprensa: divulgacao@fiocruz.br

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