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Informativo do Núcleo de Estudos da Divulgação Científica do Museu da Vida
Ano XXII - nº. 313. RJ, 3 de julho de 2024.
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Entre abril e maio, foram as águas que levaram caos ao Sul do Brasil. Em junho, foi o fogo que tomou milhares de hectares do Mato Grosso do Sul, se alastrando pelo Pantanal. Os efeitos das mudanças climáticas estão cada vez mais nítidos e concretos. E os da desinformação também. No Ciência & Sociedade de junho, demos destaque a relatório do Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais (NetLab) da UFRJ, que mostra, com vários exemplos, os principais conteúdos desinformativos relacionados à tragédia no Sul disseminados em diferentes redes sociais por influenciadores, sites e políticos de extrema direita. Desde a divulgação do documento, pesquisadores do NetLab são alvo de ameaças de influenciadores e políticos bolsonaristas, além da própria Meta. Nos Estados Unidos, aconteceu algo parecido, o que levou um grupo de pesquisadores da Universidade Stanford a redirecionar seus estudos. Isso depois de a instituição ter gasto uma fortuna para defender legalmente seus pesquisadores do assédio judicial de políticos conservadores. Por outro lado, já sabemos quem é que mais lucra com a desinformação: a Intercept Brasil divulgou em junho estudo mostrando que o Google sustenta sites de extrema direita que promovem desinformação. Enfim... Nesse contexto, vale destacar a publicação do livro organizado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) sobre o tema. A obra, que ganha destaque na seção "Especial Desinformação", explora diferentes facetas da desinformação científica e sugere ações para combater o fenômeno. Uma delas seria a expansão da cobertura jornalística das ciências e da capacitação de profissionais em jornalismo científico. Na seção "Leituras" desta edição do boletim, indicamos um texto que defende o investimento num jornalismo científico com identidade própria do Sul Global. Este número traz ainda notas sobre a inequidade em visita a museus de ciências no país, os 75 anos da revista Ciência & Cultura, prêmio para mulheres cientistas, entre outras dicas de leituras, ações, eventos e oportunidades. Boa leitura! 

 

Especial Desinformação 

Desafios e estratégias na luta contra a desinformação – Para enfrentar um dos grandes problemas da contemporaneidade – a desinformação –, é necessária uma abordagem que considere suas diversas facetas. Além de explorar ângulos variados desse fenômeno, o livro Desafios e estratégias na luta contra a desinformação científica oferece possíveis ações para combatê-lo. Na obra, fruto do Grupo de Trabalho em Desinformação Científica da Academia Brasileira de Ciências, os autores destacam que a desinformação científica explora vulnerabilidades sociais, apelando para emoções, crenças pessoais e preconceitos dos indivíduos. Isso favorece a disseminação de teorias da conspiração e fake sciences, alimentando a polarização e a desconfiança pública em relação às instituições científicas. Apontam, ainda, a participação de financiadores que lucram com a circulação de desinformação e o papel da inteligência artificial nesse cenário. Dentre as recomendações oferecidas estão o fortalecimento da comunicação pública das Instituições de Ensino Superior; o investimento em redes de divulgadores da ciência, especialmente online, e em treinamento midiático de cientistas; a expansão da cobertura científica e da capacitação de jornalistas em jornalismo científico; e a mobilização da comunidade para regulamentar plataformas que lucram com a desinformação. Lançado em 10/6, a publicação está disponível gratuitamente aqui.

 

Leituras 

Jornalismo científico do Sul Global – O jornalismo brasileiro, desde os seus primórdios, tem adotado padrões do jornalismo praticado nas grandes economias globais. O jornalismo científico não é exceção; a cobertura de ciências da grande imprensa nacional traz bastante similaridade em relação à mídia especializada dos países do Norte. Mas será que isso faz sentido? Para An Nguyen, professor de jornalismo da Universidade Bournemouth, no Reino Unido, está na hora de abandonarmos a ideia de que o jornalismo científico do Sul Global deve aprender e adotar as normas do jornalismo do Norte. “Os jornalistas científicos de ambos os lados precisam aprender com a experiência e o conhecimento diferenciado de cada um, a fim de trabalhar de forma colaborativa para atingir as metas de desenvolvimento global”, defende Nguyen, no artigo “Journalism Between Science and Development—A Decolonised and Dewesternised Normative Framework”, que introduz o número especial do periódico Journalism Studies sobre ciência, jornalismo e desenvolvimento no Sul Global. O pesquisador propõe a adoção de quatro princípios teóricos e práticos para transformar o jornalismo científico no Sul Global: gloacalização – localizar o global e globalizar o local –, descolonização, indigenização e desocidentalização. A edição traz outros dois artigos sobre o jornalismo científico na América Latina. Confira a íntegra da edição, incluindo o texto de Nguyen, em inglês.

 

A inequidade em visita aos museus – A participação na ciência e em atividades de divulgação científica é fortemente determinada pelas condições socioculturais dos indivíduos. Apesar de não surpreender, essa associação fica cada vez mais evidente por meio de pesquisas que buscam compreender as relações da sociedade com as ciências. No artigo “Social inequality determines science museums attendance in Latin America: a quantitative analysis of data from seven countries”, publicado na última edição do periódico Museum Management and Curatorship e disponível pelo Portal de Periódico da Capes, em inglês, os pesquisadores Carmelo Polino, Luisa Massarani e Emily Dawson utilizaram modelos probabilísticos derivados de dados quantitativos coletados sobre as percepções públicas da ciência em sete países: Argentina (2015), Brasil (2015), Chile (2016), El Salvador (2018), México (2015), Panamá (2017) e Paraguai (2016). Os resultados indicam que a participação cultural na ciência, mais especificamente a visita a museus de ciências nesses sete países da América Latina, é explicada e estratificada pelas desigualdades sociais presentes na região, excluindo as classes sociais mais desprotegidas: cidadãos com níveis mais baixos de educação e rendimento, idosos, mulheres e pessoas que vivem fora das grandes cidades e áreas urbanas frequentam menos esses espaços. Acesse o artigo.

 

O valor da cocriação – Vários pesquisadores e divulgadores da ciência consideram a ciência cidadã uma estratégia inovadora de divulgação científica. Resultados do estudo Beyond Science: Exploring the Value of Co-created Citizen Science for Diverse Community Groups, publicado na revista Citizen Science: Theory and Practice, reforçam essa percepção. O estudo buscou investigar os resultados educacionais de projetos de ciência cidadã com foco em questões ambientais e cocriados com quatro grupos comunitários distintos, que atuaram nos principais processos de tomada de decisão e avaliação. Para isso, foram realizados grupos focais e aplicados questionários com os participantes ao fim dos projetos. Resultados da análise quantitativa e qualitativa de 17 grupos focais e 58 questionários mostram mudanças no estilo de vida e comportamentos pró-ambientais por parte dos participantes. Além disso, observou-se que os participantes também manifestaram aumento da conscientização ou compreensão das questões ambientais discutidas. Mais confiantes de seus próprios conhecimentos, passaram a compartilhar os aprendizados dos projetos e discutir questões ambientais com amigos e familiares. Para as autoras, o estudo evidencia que a ciência cidadã no modelo de cocriação pode proporcionar experiências de aprendizagem transformadoras. Confira o artigo completo.

 

Ações  

A ciência e a cultura passadas em revista – Para quem milita no campo da divulgação científica, uma efeméride como esta é um alento: a revista Ciência & Cultura, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), está comemorando 75 anos. Lançada em 1949, um ano após a fundação da SBPC, a revista é a publicação de divulgação científica mais antiga do país ainda em circulação. Trimestral, a revista seleciona a cada edição um tema para abordar do ponto de vista da ciência, cultura, arte e filosofia. Todos os meses, um novo capítulo é publicado, trazendo novos artigos, ensaios, reportagens jornalísticas, textos de opinião, vídeos, podcasts, entre outros conteúdos. De acesso aberto, a revista merece uma visita.

 

Uma reforma de apartamento ou uma jornada matemática? – Os dois! Popularmente conhecida no YouTube pelo nome do seu canal – a Matemaníaca –, Julia Jaccoud lançou em abril o projeto “Obra Prima”: uma playlist de vídeos onde registra as etapas da reforma do seu apartamento, unindo-as a desafios matemáticos curiosos. Graduada pelo Instituto de Matemática e Estatística da USP e mestranda no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação na mesma universidade, Jaccoud já contava com mais de 100 mil inscritos no canal A Matemaníaca. No novo projeto, que conta atualmente com sete vídeos, ela divulga a matemática abordando questões variadas, como estimativa e probabilidade, e proporcionando discussões sobre conceitos fundamentais da disciplina. Confira.

 

Eventos 

11º Encontro de Divulgação de Ciência e Cultura (EDICC) – Encerram-se em 12/7 as submissões de trabalho para o EDICC, evento do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (LabJor/IEL) da Unicamp. Com o tema “Decolonizar para viver: cultura e ciência em perspectiva”, o encontro aceita apresentações de pesquisa, relatos de experiência e exposições da Mostra Cultural. O encontro acontece de 22 a 25/10, na Unicamp. Saiba mais.

 

Webinário sobre jornalismo investigativo e crise ambiental – A Global Investigative Journalism Network promove em 9/7, às 12h (horário de Brasília), webinário em que busca conectar a cobertura jornalística do que poderiam ser diferentes fios numa mesma teia: o alcance global do dinheiro ilícito, a mineração ilegal, o tráfico de drogas e o desmatamento na América Latina. Inscrições.

 

Oportunidades 

Prêmio para mulheres cientistas – O Prêmio Elisa Frota Pessoa, organizado pelo Museu do Amanhã, em parceria com a Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, recebe inscrições até 11/10. A iniciativa concederá premiações de até R$ 15 mil para 24 artigos científicos escritos por mulheres estudantes de graduação, mestrado e doutorado das ciências sociais aplicadas, biológicas, exatas e humanas. Informações aqui.

 

Programa financia cobertura de questões ambientais – O programa Y. Eva Tan Conservation Reporting Fellowship, do portal de notícias Mongabay, vai apoiar jornalistas de países tropicais engajados em questões ambientais ou interessados em uma carreira na área. São 18 vagas, com bolsas de 500 dólares por mês, para atuação remota de 1/10/24 a 31/3/25. Interessados podem se inscrever até 10/8. Mais informações.

 

 


Tem uma sugestão de notinha para a próxima edição do boletim Ciência & Sociedade? Oba! Envie para o e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.


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Ciência & Sociedade é o informativo eletrônico do Núcleo de Estudos da Divulgação Científica do Museu da Vida (Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz). Editores de Ciência & Sociedade: Carla Almeida e Marina Ramalho. Redatores: Luís Amorim e Rosicler Neves. Projeto gráfico: Barbara Mello. Informações, sugestões, comentários, críticas etc. são bem-vindos pelo endereço eletrônico Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.. Para se inscrever ou cancelar sua assinatura do Ciência & Sociedade, envie um e-mail para Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..        

     

* A seção Especial Desinformação é uma iniciativa do projeto “O desafio da desinformação em saúde: compreendendo a recepção para uma melhor divulgação científica”, contemplado pelo Programa Proep 2022, da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) e do CNPq.

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