Ir para o conteúdo

Aspersor de inseticidas costal   
Material: Cobre, borracha, couro
Local: Brasil
Dimensões: 56 x 38 x 47 cm 
Fabricante: Único Indústria Brasileira 

Vamos conhecer um tipo de objeto que ainda é possível visualizar por aí, não mais manufaturados em cobre, mas em plástico, em atividades agrícolas ou de desinfecção dos espaços públicos. Composto de bico, válvula e tanque reservatório, o pulverizador, ou aspersor, no formato de mochila é um equipamento que permite a aplicação de substâncias em espaços precisos através do acionamento de alavancas. Com a possibilidade de ajuste de suas alças, o formato deste aparelho proporciona menos fadiga do operador no seu transporte.

Orginalmente esta versatilidade foi idealizada para fazer parte de atividades no campo. Com capacidade para 12 litros era utilizado para aspersão de defensivos agrícolas em lavouras. Mas este pulverizador teve seu uso adaptado para o combate ao inseto transmissor da doença de Chagas. 

Utilização do pulverizador pelos agentes de saúde nas ações de controle do barbeiro, inseto transmissor da doença de Chagas, em Bambuí na década de 1940. Imagem: Departamento de Arquivo e Documentação – COC/Fiocruz

Este aparelho pertenceu ao Centro de Estudos e Profilaxia da Moléstia de Chagas, localizado em Minas Gerais. Quando inaugurado, em 1943, era vinculado à Divisão de Estudos de Endemias do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) e seu objetivo básico era o estudo da doença de Chagas sob o ponto de vista da profilaxia. Posteriormente o Centro passou a desenvolver pesquisas sobre os demais aspectos da doença, como atendimento clínico e controle de vetores, como atendimentos, medidas de profilaxia, estudos de inseticidas, exames cardiológicos e serviços de necropsia. Com a criação do Ministério da Saúde no início da década de 1950, o Centro transformou-se no Posto Avançado Emanuel Dias do IOC e, junto com o Departamento Nacional de Endemias Rurais, passou a atuar contra a doença de Chagas no município de Bambuí.

Entre as décadas de 1940 e 1950, pulverizadores como este, já utilizados em cafezais para o extermínio de pragas como a “broca-do-café”, também passaram a ser utilizados na saúde pública no aperfeiçoamento de medidas contra os agentes transmissores da Tripanossimíase Americana, a doença de Chagas. 

Material educativo produzido pelo Centro de Estudos e Profilaxia de Moléstia de Chagas, em 1944. Imagem: Departamento de Arquivo e Documentação – COC/Fiocruz

A praga a ser combatida neste caso era o triatomíneo, mais conhecido como “barbeiro”, “chupança”, ou “bicudo” pelo seu hábito de se alimentar de sangue durante à noite. A transmissão da doença ocorre quando o inseto deposita suas fezes no local da picada. Muito comum nas áreas rurais neste período, o barbeiro era facilmente encontrado em frestas e coberturas das moradias mais simples, feitas de barro, madeira e palha – cafuas, ou casa de pau a pique.

A desinsetização passou a ser aplicadas nas moradias como medida de prevenção da doença em áreas endêmicas. Para isto passou a ser utilizado o mesmo agrotóxico utilizado nas lavouras de café, o hexaclorobenzeno (BHC), conhecido também como “pó de broca”. Esta substância era aplicada com o pulverizador nas fendas de paredes e possíveis esconderijos do inseto. 

Tanto para lavouras como na saúde pública, o Brasil fez uso em larga escala desta substância, que décadas mais tarde descobriu-se ser bastante danosa para o meio ambiente e para a saúde humana, das quais identificam-se a contaminação do lençol freático e lesões no sistema nervoso central de animais e humanos. O BHC teve seu uso proibido somente em 1985 e o trabalho de controle biológico do barbeiro vem sendo feito com outros tipos de inseticidas menos agressivos como os piretróides. A prevenção efetiva da doença de Chagas está relacionada com uma questão socioeconômica. Além do controle do seu principal vetor, também depende do incentivo em pesquisas e investimentos sociais como política habitacional e educação sanitária. 

Para saber mais:
CASA DE OSWALDO CRUZ. Departamento de Arquivo e Documentação. Fundo Centro de Pesquisa René Rachou. Série: Administração. Subsérie: Organização e Funcionamento. Notação: 04.05.00/01.01.02. Caixa: 03 

KROPF, S. Doença de Chagas, doença do Brasil: ciência, saúde e nação, 1909-1962 [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2009, 596 p. História e Saúde collection. ISBN 978-85-7541-315-9. https://doi.org/10.7476/9788575413159.

OLIVEIRA, Benedito Tadeu. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Minas Gerais Reflexões sobre a nova sede. Arquitextos, n. 165.01, ano 14, fev. 2014, p. 5.

THIELEN, E.V.; KLEIN, L.E. A ciência das doenças nas Geraes: da filial de Manguinhos ao Centro de Pesquisas René Rachou. In: Centro de Pesquisas René Rachou. Produção científica 1980-1999. Belo Horizonte: CPqRR, 2000.
 


Créditos
Objeto em Foco é um produto de divulgação do acervo museológico sob a coordenação de Pedro Paulo Soares e Inês Santos Nogueira
Serviço de Museologia - Museu da Vida


Publicado em 27 de outubro de 2020

Link para o site Invivo
link para o site do explorador mirim
link para o site brasiliana

Funcionamento:  de terça a sexta, das 9h às 16h30; sábados, das 10h às 16h.

Fiocruz: Av. Brasil, 4365, Manguinhos, Rio de Janeiro. CEP: 21040-900

Contato: museudavida@fiocruz.br | (21) 3865-2128

Assessoria de imprensa: divulgacao@fiocruz.br

Copyright © Museu da vida | Casa de Oswaldo Cruz | Fiocruz

conheça