Por Renata Fontanetto
Tudo começou em 2018, quando a pesquisadora Priscila Born, do Instituto Oswaldo Cruz, propôs à diretora Letícia Guimarães montar uma experiência teatral sobre vacinação. Um ano depois, o resultado é a peça itinerante Invasores, que fez sua estreia hoje, 18 de novembro, em uma escola pública do bairro de Santa Cruz. Em 2018, o projeto foi contemplado no edital para projetos de divulgação científica da Vice-presidência de Educação, Informação e Comunicação (VPEIC) da Fiocruz.
“A ideia por trás da aventura é trabalhar com conceitos de imunização e o perigo da não imunização”, explica Letícia, atriz do Museu da Vida. A história é toda inspirada no universo dos games digitais. Jonas, Alex e Cecília são o time Triovalente que joga on-line “Invasores”, um game de estratégia para conquistar o planeta Immunis. Aos poucos, eles vão conquistando fases que são portais, conhecidos como Antix, e precisam lutar contra os vírus invasores, por isso o nome. Mas tudo muda: Cecília é infectada por um vírus da vida real. Os pais dos jovens se questionam se todos foram vacinados, já que fica evidente que Cecília não recebeu a cobertura completa de vacinação. É aí que entra em cena Bárbara, prima de Jonas e grande estrategista, pessoa fundamental para a equipe Triovalente mudar o rumo da história e se transformar no grupo Tetravalente.
A ação de Bárbara para combater os invasores no jogo combina com uma das formas que os cientistas conhecem e utilizam para fazer o organismo humano se defender contra um microrganismo intruso. “Estamos fazendo um paralelo com o sarampo da vida real e pensando em dialogar com adolescentes de 11 a 13 anos”, afirma Letícia. Em 2020, a equipe espera transformar o projeto numa peça teatral de duração maior que integre a programação oficial do Museu da Vida.
Além da estreia da peça em Santa Cruz, o dia de hoje (18/11) é também importante por outro motivo: marca o início da nova fase da campanha de vacinação do Ministério da Saúde, que visa proteger jovens adultos de 20 a 29 anos contra o sarampo. Aqueles que não atualizaram a caderneta de vacinação e não tomaram todas as doses previstas no Calendário Nacional de Vacinação podem se dirigir a uma Unidade Básica de Saúde com o documento. Atualmente, 19 estados brasileiros enfrentam surtos da doença.
Para Priscila Born, responsável pela criação e idealização do projeto, a sociedade vê a ciência e o cientista de forma inacessível. "De fato, somos muitas vezes! Nossa linguagem rebuscada, nossos artigos científicos… Sem ciência não é possível avançarmos, e o cientista precisa mostrar à população que a ciência não está apenas na bancada do laboratório e, sim, no nosso cotidiano, para que assim possamos dialogar com a sociedade e inspirar as futuras gerações a fazer ciência dentro e fora dos laboratórios de pesquisa", defende a pesquisadora, que trabalha no Laboratório de Vírus Respiratório e Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz.
Para além do público escolar, conscientizar os pais dos alunos é outro ponto relevante. Para isso, o artista plástico Rodney Wilbert, que assina a cenografia da peça, está formulando com o ilustrador Caio Baldi um panfleto que será levado para casa pelos alunos. O conteúdo simula uma conversa de WhatsApp, com informações sobre a importância da vacinação, dicas para combater notícias falsas e como visitar o Museu da Vida.
Diversos elementos trabalham em conjunto para criar uma atmosfera do universo dos games, como cenário, figurino, trilha sonora e preparação corporal dos atores. “Eu lembrei muito de quando era criança e tinha acesso a cartões de jogos que vinham dentro de pacotes de biscoito. Tínhamos que montar personagens com esses objetos. A partir de uma memória minha e dentro da lógica de um jogo em que é preciso criar algo, busquei inspiração para pensar o cenário”, conta Rodney.
A experiência de itinerância da peça “O rapaz da rabeca e a moça Rebeca” em escolas e centros culturais serviu de incentivo para que “Invasores” estreasse além dos muros da Fiocruz. O roteiro enxuto e o cenário portátil foram perfeitos para que o projeto fosse a espaços educacionais que são carentes desse tipo de ação, buscando alcançar muitos jovens. Até o fim de novembro, outras quatro escolas nos bairros do Grajaú, Santa Teresa, Maré e Inhoaíba receberão o espetáculo.
Ficha técnica de “Invasores”
Texto: Livs Ataíde
Direção: Letícia Guimarães
Criação e produção: Priscila Born
Elenco: Luiz Paulo Barreto, Samara Costa e Ricardo Lopes
Cenografia: Rodney Wilbert e Marlon Percegoni
Figurino: Juli Videla
Ilustração: Caio Baldi
Música: Arthur Martau
Consultoria científica: Natália Lanzarini
Publicado em 18 de novembro de 2019