Eles são diretores, coordenadores pedagógicos e professores de escolas públicas localizadas em áreas próximas à Fiocruz, mas ainda não trouxeram seus alunos para visitar o Museu da Vida. Por quê? Foi o que a bióloga Eliza da Cunha Cabral investigou em sua pesquisa. Ela aplicou um questionário à equipe docente e administrativa responsável por selecionar as atividades complementares realizadas pelas escolas. A falta de transporte e a verba reduzida foram os principais motivos apontados para as escolas não virem ao Museu. Os participantes registraram também o desejo de que as visitas aconteçam e de que se estabeleça uma maior aproximação entre o Museu e as escolas.
Essa aproximação é ainda mais importante porque existem muito poucos equipamentos culturais na região, o que reforça o papel do Museu da Vida como espaço de promoção de cultura, divulgação científica e lazer, argumenta Eliza, recém-formada no curso de mestrado em Divulgação da Ciência, Tecnologia e Saúde, parceria entre a Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, o Mast, a Fundação Cecierj e a UFRJ. Ela é nossa entrevistada da vez na série “Conta aí, mestre”.
MV: O aprendizado sobre ciências acontece, sobretudo, dentro ou fora da escola?
Eliza: O aprendizado sobre ciências ou qualquer outro assunto acontece ao longo da vida da pessoa, tanto dentro da escola como fora dela. No entanto, crianças passam apenas 5% de suas vidas em sala de aula, conforme constatou um estudo realizado nos Estados Unidos. Esse dado sugere que grande parte da aprendizagem em ciências acontece fora da escola, em espaços como museus, conversas com amigos, dentre outros. É claro que isso não diminui a importância da escola na vida das alunos, pois através dessa instituição os indivíduos adquirem competências para compreender o mundo que os cerca, o que inclui a ciência.
MV: Quais os principais motivos pelos quais as escolas não vêm visitar o Museu?
Eliza: Os principais motivos apontados pelas escolas foram a falta de transporte e de verba para custear o deslocamento dos alunos até o Museu. A questão da violência próxima à Fiocruz também foi levantada, porém não foi apresentada como algo que impedisse a visita das escolas, mas sim como uma preocupação com a segurança dos alunos.
MV: É possível intervir nesses motivos de modo a promover mais visitas escolares? Como?
Eliza: O Museu da Vida dispõe de um ônibus, o "Expresso da Ciência", que busca os alunos nas escolas. Para os respondentes, essa oferta de transporte deveria ser ampliada, pois existe uma longa fila de espera de escolas que desejam o ônibus para visitar o Museu, o que desmotiva muitas delas a fazerem uma visita. Todavia, é atribuição das instâncias governamentais a disponibilização de verba suficiente para que as escolas possam realizar atividades complementares, não cabendo só ao Museu a adoção de medidas para promover mais visitas escolares.
MV: Quais novas estratégias poderiam ser usadas pelo Museu para se aproximar mais das escolas?
Eliza: Uma medida apontada pelos respondentes é a ida do Museu às escolas, levando exposições para o espaço escolar para que os alunos possam ter esse tipo de experiência, já que há dificuldade de transporte. O Museu da Vida dispõe de exposições itinerantes, que visitam escolas e outros espaços, além do Ciência Móvel, que já percorreu diversas cidades. Seria, portanto, essencial que escolas localizadas em bairros próximos à Fiocruz fossem mais contempladas por experiências similares.
MV: Quais novas estratégias poderiam ser usadas pelo Museu para aumentar e diversificar sua divulgação?
Eliza: Uma das estratégias seria voltar a divulgar as exposições e demais atividades do Museu por meio físico, com o envio de cartazes para as escolas, por exemplo. Além disso, existe também a necessidade de divulgação pela 4ª Coordenadoria Regional de Educação (4ª CRE) e pela mídia, pois, de acordo com os respondentes da pesquisa, a divulgação realizada pelo Museu, essencialmente via web, não consegue abranger a todos – muitos alunos não possuem acesso à internet.
Eliza da Cunha Cabral é autora da dissertação “O público potencial escolar do Museu da Vida: um estudo exploratório em escolas da zona norte da cidade do Rio de Janeiro”, defendida em 30 de julho de 2018, com orientação da pesquisadora Vanessa Guimarães.
Publicado em 13/09/2018.