Os vestígios são de uma antiga estrebaria construída nos anos 1930.
Em plena obra de recuperação dos acessos ao Museu da Vida, foram encontrados vestígios da antiga estrebaria de Manguinhos, uma construção da década de 1930 que já havia caído no esquecimento da comunidade local.
Os responsáveis pela obra, surpresos com fragmentos de cerâmica e tijolos que encontraram pelo caminho, entraram em contato com o Departamento de Patrimônio Histórico (DPH), da Casa de Oswaldo Cruz (COC).
“Num primeiro momento, não achamos nada muito significativo, mas ficamos atentos”, afirma Inês El-Jaick Andrade, arquiteta do Núcleo de Estudos em Arquitetura e Urbanismo em Saúde do DPH.
No entanto, consultando livros, plantas e documentos antigos do acervo da COC, a arquiteta e seus colegas do DPH descobriram que, no exato local em que as obras estavam sendo realizadas, havia existido um prédio em forma de U, de um pavimento, com duas alas e uma série de baias para guardar cavalos.
A edificação ficava próxima a uma chaminé e outras construções que funcionaram, em 1899, como fornos de incineração de lixo da Prefeitura e, de acordo com pesquisas anteriormente realizadas por Renato Gama-Rosa Costa, foram demolidas na década de 1930.
“Como a chaminé era muito grande, sempre chamou mais a nossa atenção e a da comunidade local e acabou ficando mais registrada na memória coletiva”, comenta Inês, que está à frente das pesquisas relacionadas ao novo sítio.
No dia 18 de março de 2010, novos vestígios foram encontrados pela engenheira Fernanda Beux, do Departamento de Infra-estrutura da COC. Dos escombros da obra, foi retirada uma pia revestida em ágata e uma série de frascos-ampolas ainda com líquido no seu interior. Com o movimento de terra, também foi possível identificar alguns pilares da edificação.
A obra foi, então, paralisada e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) contatado. As orientações foram: recolher o máximo de artefatos possíveis, coletar uma porção significativa da terra e retirar uma amostra do concreto dos pilares da edificação, encaminhar todo o material para análise e tapar os buracos.
“O mais importante naquele momento era proteger o local para preservá-lo”, ressalta a pesquisadora.
Dias depois, sem ter conhecimento do sítio arqueológico recém-encontrado, a Diretoria de Administração do Campus (Dirac) autorizou o início de uma outra obra, desta vez para a modernização da fiação telefônica do Museu. Quando Ubiratan Pimenta, da Seção de Operações Técnicas do Museu da Vida, que havia acompanhado todos os acontecimentos anteriores, viu os funcionários abrindo um novo buraco no local, entrou imediatamente em contato com o DPH.
Ao interceptar a obra já em andamento, membros do departamento encontraram novos e significativos vestígios da antiga construção. O que mais chamou a atenção foram os pedaços do piso da antiga estrebaria, bastante similar ao da Cavalariça, projetada pelo engenheiro e arquiteto português Luiz Moraes Júnior, e que também eram semelhantes aos revestimentos dos primeiros prédios do Instituto Soroterápico Federal – o embrião da Fiocruz.
Após essa série de acontecimentos fortuitos e dos levantamentos preliminares, um dos objetivos foi confirmar se o projeto da antiga estrebaria é de autoria de Luiz Moraes Júnior, para entender o contexto em que a edificação foi construída e demolida. Estima-se que o prédio tenha sido colocado abaixo no início dos anos 1980, período em que o campus da Fiocruz passava por um processo de modernização.
Um primeiro passo nessa direção foi tentar identificar o conteúdo dos frascos encontrados, que foram encaminhados ao Departamento de Química do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS) para análise.
“Todas essas descobertas foram muito importantes. Por causa delas, estamos conhecendo melhor a Fiocruz e a sua história”, comemora Inês.