Morre em São Paulo o geneticista Oswaldo Frota-Pessoa
O geneticista Oswaldo Frota-Pessoa morreu no dia 24 de março de 2010, aos 93 anos de idade, em São Paulo, deixando um legado importantíssimo na história da ciência, da divulgação e educação científica brasileira.
Ao longo de sua trajetória profissional, publicou cerca de 150 artigos científicos, 50 sobre ensino e mais de 700 de divulgação científica. Escreveu ainda 37 livros didáticos e 17 guias para professores.
Pelo conjunto de sua obra dedicada à popularização e ao ensino de ciências recebeu, em 1981, o Prêmio José Reis de Divulgação Científica, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e, um ano depois, o Prêmio Kalinga, da Unesco, maior distinção mundial neste campo.
Depoimento
O CD-Rom Depoimentos de Divulgadores da Ciência no Brasil, produzido pelo Museu da Vida, traz longa entrevista com Oswaldo Frota-Pessoa, em que o geneticista fala sobre os quase setenta anos que dedicou à pesquisa, ao ensino e à divulgação de ciência, e sobre como esses movimentos estavam fortemente associados no início de sua carreira, na década de 1940.
Frota-Pessoa lembra, ainda, de sua colaboração no “Ciência para Todos”, suplemento do jornal A Manhã, que circulou de 1948 a 1953, com uma média de 12 páginas dedicadas exclusivamente a assuntos de ciência. Essa iniciativa marcou, sem dúvida, a história da divulgação científica brasileira.
Leia aqui a íntegra da entrevista com Oswaldo Frota-Pessoa, concedida em duas etapas – a primeira, a Bernardo Esteves, Ildeu de Castro Moreira e Luisa Massarani, em agosto de 2002, e, a segunda, a Bernardo Esteves e Carla Almeida, em junho de 2004.
Trajetória profissional
Nascido no Rio de Janeiro, em 1917, Oswaldo Frota-Pessoa foi aluno da primeira turma de história natural da Universidade do Distrito Federal (UDF). Em 1938, concluiu o curso na UDF e, três anos mais tarde, formou-se na Faculdade de Medicina da então denominada Universidade do Brasil, hoje Federal do Rio de Janeiro. Ainda em 1941, ingressou no curso de ciências biológicas aplicadas à medicina no Instituto Oswaldo Cruz.
A experiência na UDF, criada em 1935 pelo educador Anísio Teixeira como um laboratório para testar a então nova filosofia de ensino norte-americana baseada na aprendizagem pela prática, foi determinante na carreira de Frota-Pessoa. Fruto da nova onda de desenvolvimento do ensino, decidiu dedicar sua vida à pesquisa e à tarefa de disseminar as novas técnicas e metodologias de ensino pelo Brasil.
Em 1938, recém-formado em história natural, deu início à carreira de professor no sistema público de ensino do Rio de Janeiro. Paralelamente, começou a ministrar cursos de atualização de professores secundários por todo o país e a escrever livros didáticos. Doutorou-se em história natural na Faculdade Nacional de Filosofia – que substituiu, em 1939, a UDF –, onde também foi professor.
Passou um ano na Universidade de Columbia, em Nova York, , em 1953, trabalhando sob a orientação do zoólogo e geneticista russo naturalizado americano Theodosius Dobzhansky. Ainda nos Estados Unidos, trabalhou, em 1955 e 1956, para a Organização dos Estados Americanos (OEA) como especialista em ensino de ciências.
Em 1958, ingressou no Departamento de Biologia da Universidade de São Paulo (USP), onde fundou o Laboratório de Genética Humana. Em São Paulo, deu prosseguimento à docência na Faculdade de Filosofia da USP.
Membro da Academia Brasileira de Ciências desde 1979, Frota-Pessoa foi, entre 1961 e 1986, consultor em genética humana da Organização Mundial de Saúde (OMS); entre 1968 e 1970, presidente da Sociedade Brasileira de Genética; e, de 1969 a 1971, presidente da Associação Latino-Americana de Genética.
Foi casado com Elisa Frota-Pessoa, pioneira da física experimental de partículas no Brasil e uma das fundadoras, em 1948, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). Com ela, teve dois filhos, a também física Sonia e o médico Roberto. O terceiro filho, Osvaldo Frota-Pessoa Jr., é professor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP.