A pesquisadora ainda aponta que aqueles que desejam seguir na área, no Brasil, já podem contar com mais oportunidades de trabalho.




Luisa ganhou o prêmio José Reis de Divulgação Científica e Tecnológica este ano na categoria "Pesquisador e escritor"
"As crianças são cientistas naturais, sempre curiosas por tudo que ocorre à volta delas", assim a pesquisadora do Museu da Vida Luisa Massarani descreve os que ela também chama carinhosamente de “pequenos curiosos”. Pelo jeito, ou melhor dizendo, pelo jeito da Luisa, é possível manter esta curiosidade.

Coordenando e participando de inúmeras iniciativas de pesquisa e de práticas em divulgação científica ( algumas delas podem ser conhecidas aqui), ela acaba de ser reconhecida pelo CNPq com o 36º Prêmio José Reis de Divulgação Científica e Tecnológica, na categoria "Pesquisador e escritor".

Aproveitamos a oportunidade e batemos um papo com ela, que nos contou como era a área da divulgação quando começou, em 1987, e disse que, atualmente, há mais oportunidades para pessoas que desejam trabalhar com a área. Para 2016, dois novos projetos estão para sair do forno! Acompanhe a entrevista.

Ao longo de sua trajetória, você desenvolveu diversos trabalhos voltados para a divulgação da ciência para o público infantil. O que te move ao pensar em aproximar a ciência das crianças?

Luisa Massarani: As crianças são cientistas naturais, sempre curiosas por tudo que ocorre à volta delas. Elas têm muita imaginação. Além disso, talvez mais do que em qualquer outra faixa etária, não há uma receita de como se fazer divulgação científica. O gostoso é, caso a caso, procurar os melhores caminhos de se conversar sobre temas de ciência. Há a expectativa, ainda, de que a divulgação científica para o público infantil pode de fato fazer a diferença para formar cidadãos mais engajados com temas de ciência, fazendo-os tomar decisões mais bem informadas em temas que se relacionem com a área.

Como você avalia a divulgação científica hoje no Brasil? Há mais consciência sobre a relevância do campo?

Eu comecei a atuar na área em 1987. Era um momento de entusiasmo. Poucos anos antes foram criados o primeiro museu interativo de ciência do país, o Espaço Ciência Viva, e o projeto Ciência Hoje, com uma revista para adulto, outra para crianças e a newsletter de política científica. Foi um momento de estímulo à criação de outras revistas de divulgação científica, ao jornalismo científico, com a criação de seções de ciência nos principais jornais do país, entre outros fatores.

Na década de 1990, por sua vez, ganhou peso a área de museus de ciência, que, desde então, aumentaram em número em várias partes do país. O que creio que mudou foi o estabelecimento de políticas de divulgação científica, que incluíram a criação Departamento de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia no então Ministério de Ciência e Tecnologia; o estabelecimento, por decreto presidencial, da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, com seu imenso caráter mobilizador; e o apoio sistemático à área de divulgação por editais. Agências de fomento, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e as Fundações de Apoio à Pesquisa (FAPs) de diversos estados, colocaram a divulgação científica na agenda. Acho que essas ações fizeram toda a diferença. O Brasil virou referência na América Latina na área da divulgação científica. No entanto, a recente fusão do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação com a pasta de Comunicações, além de ser um retrocesso na área da ciência, coloca em risco todo este esforço de mais de uma década de consolidação de políticas na área de divulgação científica.

Pensando em alguém que está começando nesse campo, qual conselho você daria?

Na época em que comecei a trabalhar na área, dava para contar nos dedos quantas pessoas trabalhavam em divulgação científica em tempo integral. Muitos atuavam na área como atividade secundária, movidos pela paixão. Eu decidi que esta era a minha área e que, também movida pela paixão, seria meu ganha pão. Meu conselho é: se a pessoa acha que esta é a área do coração, invista nela! Hoje em dia há possibilidades de estágios, há cursos de pós-graduação...

Em termos de projetos, quais trabalhos que ainda estão por vir você gostaria de destacar?

Há dois que gostaria de destacar: já está no forno - estão sentindo o cheirinho gostoso? - meu próximo livro de divulgação científica para crianças. Acho que até julho estará nas lojas. Já no âmbito da Rede de Popularização da Ciência e Tecnologia na América Latina e Caribe (RedPOP), estamos fazendo um diagnóstico da divulgação científica na região; em setembro, lançaremos os resultados em um grande fórum que a Unesco realizará no Uruguai. Até onde sabemos, será o primeiro na área.


Publicado em 06 de junho de 2016
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