Lewenstein e a pesquisadora Luisa Massarani durante a palestra: o que aprender com os projetos de ciência cidadã? (Foto: Renata Fontanetto)
A ciência cidadã tem ganhado atenção de pesquisadores interessados em entender como essa atividade funciona, quem participa dela e quais são os desafios e motivações que interagem com o campo. É o que afirmou o pesquisador Bruce Lewenstein em palestra sobre “Ciência cidadã: combinando ciência e democracia” no dia 8 de julho de 2015, no Museu da Vida (MV/COC/Fiocruz). Professor e chefe do departamento de Estudos em Ciência e Tecnologia, da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, Lewenstein é um dos maiores especialistas na área de comunicação pública da cência e tecnologia.

Veja algumas fotos do evento no Flickr do Museu.

Em fevereiro de 2015, ocorreu o primeiro Congresso da Associação de Ciência Cidadã, em San José, na Califórnia. Para Lewenstein, este é mais um indicativo do crescimento e da visibilidade da área. Na prática, existem algumas formas de engajamento público que propiciam a participação da sociedade em projetos de ciência e tecnologia, entre elas pesquisas feitas em comunidades locais com o fim de gerar dados para a ciência.

“Eu diria que há quatro categorias dentro desse tipo de atividade: coleta de dados, análise de dados e ciência baseada na comunidade, que acabam gerando dados para pesquisas, e uma quarta que se chama currículo, onde os dados são coletados, mas os fins são educacionais e não de pesquisa”, explica Lewenstein.

No terceiro caso, por exemplo, o pesquisador enxerga projetos cada vez mais expressivos na área de proteção ambiental, quando uma população local lida com um problema – geralmente, poluição – e se mobiliza para coletar dados. “Às vezes, esses grupos podem receber ajuda de cientistas ou até mesmo podem ser recrutados por um grupo de pesquisa, mas nem sempre isso ocorre e a comunidade acaba atuando por conta própria.”

Os projetos de ciência cidadã demandam atitudes participativas e um envolvimento com o assunto que está sendo pensado. Lewenstein aponta que na universidade onde leciona existem alguns projetos, sendo um deles o “The birdhouse network”, do Laboratório de Ornitologia, que há mais de 15 anos reúne participantes interessados em observar as aves da cidade e seus hábitos, como onde fazem ninhos e quantos ovos põem.

A iniciativa rendeu o artigo “Scientific knowledge and attitude change: The impact of a citizen science Project” (veja o resumo aqui), publicado por Lewenstein e outros dois autores. Analisando o engajamento dos participantes, eles observaram que o projeto, de fato, exerceu impacto no conhecimento do grupo sobre a biologia das aves. Ainda assim, nenhuma mudança expressiva foi observada quanto à atitude dos participantes em relação à ciência e ao meio ambiente ou sobre o entendimento do processo científico.

Segundo Bruce, quando o processo envolve o trabalho entre uma instituição de pesquisa e um grupo de cidadãos, o correto seria deixar claro aos participantes o processo do fazer científico. O diálogo, na opinião dele, está avançando e traz questões que ainda precisam ser mais compreendidas. "A quem pertence os dados que estão sendo gerados? Como a ciência lida com a autoria desse conteúdo? O que as pessoas estão aprendendo e como estão aprendendo?", complementa.

Para mais informações, conheça algumas publicações do pesquisador.
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